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Estado de Minas

Mineiros já sentem decreto anti-imigração de Trump

Novas regras para entrada no país encarecem pedido em Minas e dificultam sonho


postado em 12/02/2017 06:00 / atualizado em 12/02/2017 11:04

Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto em BH: dispensa de entrevista ficou agora limitada a quem tem menos de 14 e mais de 79 anos(foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto em BH: dispensa de entrevista ficou agora limitada a quem tem menos de 14 e mais de 79 anos (foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Por um momento, mineiros ficaram animados com a notícia da abertura, ainda sem data definida, de um consulado dos Estados Unidos em Belo Horizonte, mas, em vez de facilidades, aumentou a burocracia para viajar à terra do Tio Sam. Os candidatos a cruzar a fronteira norte-americana, em meio ao clima acirrado pelas polêmicas em que o presidente Donald Trump tem se envolvido e aos protestos contra ele, já sentem na pele o impacto do decreto anti-imigração baixado por Trump, que decidiu mudar as regras para a entrada no país. Agora, mais gente precisa fazer a entrevista na embaixada ou em consulados, o que obriga um número maior de pessoas a viajar para Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo ou Recife para obter o visto. Realidade que deve perdurar por bom tempo.

O escritório dos EUA na capital mineira não revela a data em que o consulado deve ser inaugurado em BH e se limita a informar que será “nos próximos anos”. “Foi uma mudança repentina e radical”, afirma a despachante de visto da agência de viagem Tia Eliane Tours Carolina Frisso. Apenas no ano passado, cerca de 300 jovens viajaram para a Disney com a empresa, a maioria entre 14 e 15 anos, faixa etária que sofreu alterações nas regras do visto. Antes, esses adolescentes não precisavam fazer entrevista no Rio de Janeiro. “Alguns pais se assustaram com a notícia. Vieram há duas semanas e demos orientação a eles. Agora, mudou”, diz.

Resta às agências e viajantes esperar que a inclusão da entrevista não dificulte a entrada naquele país. Pelas normas antigas, a maioria dos passageiros adolescentes conseguia o visto. “Vamos ver a partir de agora. Tenho a esperança de que isso pelo menos não interfira na emissão de vistos”, afirma Carolina. Dois clientes embarcam para o Rio na próxima semana em busca da autorização e servirão de termômetro.

O decreto presidencial emitido em 27 de janeiro reduz de 48 meses para 12 o prazo para que solicitantes que renovam seus vistos na mesma categoria fiquem isentos da entrevista. O governo americano justifica que as mudanças visam facilitar viagens legítimas de visitantes internacionais e, ao mesmo tempo, garantir a segurança das fronteiras da nação.

PAGANDO O PATO - Brasileiros e argentinos entre 14 e 15 anos e entre 66 e 79 anos, que solicitavam vistos pela primeira vez, também eram isentos de entrevista. Agora, a dispensa de entrevista ocorre só nas faixas etárias de pessoas abaixo de 14 anos e acima de 79 anos. Solicitantes de vistos diplomáticos e oficiais de governos estrangeiros e organizações internacionais não precisam passar por entrevista.

“Acaba que todo mundo paga o pato. Há casos de pais que moram nos Estados Unidos há anos e eles (consulado) acham que, quando o adolescente vai solicitar visto, é para se mudar”, explica. Ela reclama que não houve uma orientação oficial no site da embaixada e que, para se atualizar sobre as alterações, foi necessário entrar em contato com o escritório dos EUA em Belo Horizonte.

A secretária Ângela Souza, de 53 anos, teve surpresas desagradáveis em série até conseguir que o visto da filha Maysa, de 14, fosse emitido. Embora tenha entrado com o processo antes das mudanças nas regras, ela precisou comparecer ao Rio de Janeiro com a filha, que ganhou de presente antecipado de 15 anos do tio uma passagem para os Estados Unidos. A tão sonhada viagem para a Disney ficou mais difícil. “Não sei o que aconteceu, mas eles concederam o visto vinculado ao do tio e válido somente até julho. Ele vai precisar viajar junto com ela”, conta Ângela, ainda sem saber como vai fazer. “O meu cunhado não vai ter férias em julho”, lamenta.

 

RIGIDEZ SURPRRENDEM TURISTAS

 

Como comemoração das bodas de prata, a auxiliar de saúde bucal Genecy Assis, de 46 anos, e o servidor público federal Geraldo Vieira Rosa, de 52, embarcam em setembro, da Flórida, para um cruzeiro pelo Caribe. A troca de governo nos Estados Unidos, com a posse de Donald Trump, levou o casal, que vai pela primeira vez aos EUA, a antecipar todo o processo para entrada no país.

Com os vistos nas mãos, eles agora estão rindo à toa. “Para mim, o racismo poderia ser um problema. Mas foi tranquilo porque vamos a turismo, temos filhos na universidade, levamos (para a entrevista) muitos documentos”, conta Genecy. O ambiente de extrema rigidez durante a entrevista no Rio chamou a atenção de Geraldo. “É uma situação de muita austeridade”, observa.

O aposentado Eduardo Mota, de 74, não contava com o fato de que precisará viajar ao Rio de Janeiro para obter o visto. Ele e a esposa viajam em 30 de abril com um grupo de amigos para a Flórida. A primeira reação, ao saber de que teria esse trabalho a mais para conseguir o visto, foi pensar em cancelar a viagem. “Vou ter que gastar mais para fazer uma viagem que não era prevista. Terei que pagar a hospedagem (no Rio), porque na minha idade ir e voltar no mesmo dia é muito pesado”, reclama. Mas logo depois ele reconsiderou a ideia. “Deu o limão, vamos fazer a limonada. Vou ter que ir lá no Cristo Redentor”, brinca.

Acostumada a fazer viagens internacionais, a professora universitária Maria Inês Souza, de 70, não esperava receber em casa uma carta do Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (Casv) informando que ela precisaria fazer uma entrevista no Rio de Janeiro. Pelas regras antigas, pessoas acima de 66 anos ficavam dispensadas dessa etapa do processo.

“Já morei fora, na Inglaterra, viajei muito e essa coisa de tirar visto era até banal. Desta vez, fiquei receosa. Várias colegas da minha idade não tinham precisado de fazer entrevista”, comenta. Ela vai a Miami e ao Tenesse, assistir à formatura da neta, que está fazendo intercâmbio nos EUA. Em 25 de janeiro, Maria Inês compareceu ao Rio, numa viagem bate-volta feita por ônibus, e garantiu a autorização para visitar a terra de Tio Sam. “Fui atendida prontamente. Eles têm muito cuidado com essa questão da prioridade”, ressalta.

Anteriormente, solicitantes que renovassem seus vistos na mesma categoria até 48 meses depois do vencimento, eram isentos de entrevista. Brasileiros e argentinos, entre 14 e 15 anos, e entre 66 e 79 anos, que solicitavam vistos pela primeira vez, também eram isentos de entrevista.

 À ESPERA DO CONSULADO
Desde 2012, quando começou a funcionar em Belo Horizonte o Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (Casv), no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da cidade, mineiros estão na expectativa da abertura de um consulado em BH. Assim, viajantes ficariam livres de ir ao Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília ou Recife para cumprir a etapa da entrevista para emissão de visto.

Em fevereiro de 2014, a missão dos EUA no Brasil assinou contrato de aluguel do prédio onde será o novo consulado dos EUA em Belo Horizonte, próximo à Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia. Mas a inauguração do consulado está longe. “O novo prédio passará pelas obras necessárias para sua readequação para funcionar como consulado. Nossa expectativa é iniciá-las nos próximos anos”, informou o escritório diplomático de BH.

PORTAS FECHADAS

Na mesma ordem executiva que baixou em 27 de janeiro banindo o ingresso nos Estados Unidos de refugiados sírios e de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, o presidente Donald Trump alterou as regras para a solicitação de vistos para os EUA, inclusive pelos brasileiros. A justificativa do novo presidente para o decreto anti-imigração é "proteger" a nação da entrada de terroristas estrangeiros e os próprios cidadãos americanos, ao estilo de 'uma América para os americanos'. A decisão proíbe de entrar nos EUA cidadãos do Irã, Iraque, Iêmen, Líbia, Somália, Síria e Sudão. O decreto está suspenso em medida liminar tomada pela Justiça, que o governo norte-americano já contestou.


ENTENDA A MUDANÇA

De acordo com o decreto presidencial de 27 de janeiro, que entrou em vigor imediatamente, o Departamento de Estado dos EUA exigirá entrevistas de visto para todos os solicitantes, exceto:

Solicitantes de vistos diplomáticos e oficiais de governos estrangeiros e organizações internacionais (categorias: A-1, -2, G-1, G-2, G-3, G-4, TAN-1 a -6, C-2 e C-3)


Pessoa com menos de 14 anos ou mais de 79 anos solicitantes que tinham um visto na mesma categoria e que expirou há menos de 12 meses

Fonte: Escritório dos EUA em BH

 


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