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Estado de Minas

Livraria é mais uma a fechar as portas na Savassi

Depois de mais de 40 anos com a venda de livros e revistas, empreendimento mantém ativo apenas o restaurante


postado em 01/02/2016 06:00 / atualizado em 01/02/2016 08:01

Ver galeria . 4 Fotos Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )

Nas últimas quatro décadas (um pouco mais, na verdade), o comerciante Rubens Batista viu de camarote abrir e fechar centenas de lojas em um bairro símbolo de Belo Horizonte: a Savassi. Dono de uma importante marca que se entremeou com a história cultural da cidade, ele viu o vaivém de empresários ávidos por compor a região, mas que meses depois encerravam as atividades.

Nascida em uma banca de revistas na Avenida Cristóvão Colombo, a livraria Status se fixou ali em frente até o ano passado, quando migrou para outros dois pontos nas redondezas. Depois de sobreviver a altos e baixos, o ponto na Avenida Getúlio Vargas também fechou, restando somente a unidade em que funciona o bar e restaurante. Em troca, Rubens recomprou a antiga banca, origem do empreendimento, para manter a tradição familiar de vender jornais e revistas nacionais e importadas.

A história da Status inicia-se em 1971 – “ou será 1972?”, não se recorda bem Rubens. Da banca, em 1974, migrou para o ponto em frente, onde à época funcionava o bar Luigino. No corredor, os belo-horizontinos deliciavam-se com as notícias em uma fase anterior à internet. À época, no imóvel do McDonald’s, ainda funcionava um estacionamento e, na loja da Melissa, um posto de gasolina. A fama na Savassi fez o empresário abrir unidades no Gutierrez e no Mangabeiras.

O bom desempenho permitiu a ele ousar. Mais de três décadas depois, ampliou a unidade, sendo talvez o único a possuir uma loja com duas entradas em ruas diferentes. A abertura da Rua Pernambuco serviria para também expandir o foco. Além de livros e revistas, o espaço transformou-se em café e palco para alguns dos principais artistas do estado. Pelo palco, passaram Toninho Horta, Beto Guedes, Roberto Menescal, Miele, Flávio Venturini e, diz o empresário, praticamente “todos os músicos mineiros, exceto os de pagode e sertanejo”. “Todo dia tinha música de duas (14h) até meia-noite”, recorda Rubens. Além de músicos, o espaço cultural apresentou artistas plásticos, poetas e outros.

Com o fechamento do quarteirão da Rua Pernambuco, depois da obra de revitalização da Savassi, mesas e calçadas ganharam o lado de fora. Junto ao novo formato da Praça Diogo de Vasconcelos, os aluguéis dispararam e, com isso, dezenas de outras lojas fecharam as portas. Entre as livrarias, a primeira a fechar foi a Travessa, que, assim como a Status, funcionava como café e espaço cultural. No ano passado, a Mineiriana também fechou. O espaço permanece sem ocupação. A justificativa de todas é o aluguel. “Não dava conta de manter mais um aluguel de R$ 40 mil. Ofereci R$ 25 mil, mas não teve acordo”, diz Rubens sobre a loja entre a Cristóvão Colombo e a Pernambuco, que, hoje, de um lado é uma suqueria e do outro será um restaurante.

A decisão foi dividir a loja em duas. O bar e restaurante migrou para uma loja ainda na Rua Pernambuco, garantindo a permanência de shows e apresentações culturais. A livraria e papelaria foi para a Avenida Getúlio Vargas, onde dividia espaço com uma unidade da Gujoreba, também de propriedade de Rubens. O espaço ficou sob administração dos funcionários, mas fechou as portas na primeira semana do ano. Por ser imóvel próprio, o vilão não foi o aluguel, mas o empresário não sabe ainda o destino do espaço. “Vi abrir e fechar muita gente. Muita história rolou ali”, diz o empresário. Entre os remanescentes da região, Boca de Pito (hoje no 5ª Avenida) e a Livraria Ouvidor. O Bar do João, na Rua Tomé de Souza, também está entre os mais velhos, recorda ele, mas ressalta que o proprietário exagera na idade.

MUDANÇA Depois de um período de boom imobiliário, que resultou na “expulsão” de comerciantes da Savassi, os preços mudaram o rumo. Segundo a diretora da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-Secovi-MG), Daniela Magalhães, os preços estão em queda. A retração é percebida na Savassi e em praticamente toda a cidade. Com isso, diz ela, é aberta a possibilidade de novos inquilinos negociarem valores. No caso de contratos em vigência, a avaliação é que depende do histórico do aluguel. “Em caso de bom pagador, pode valer negociar”, afirma Daniela, mas pondera que, em situação oposta, possivelmente o inquilino não aceitaria renegociar os valores para cima.

A presidente da Associação dos Lojistas da Savassi, Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, considera que nem o recuo nos valores dos aluguéis é suficiente para aliviar a situação do comércio da região. Ela diz que, com a retração nas vendas, o faturamento não tem sido suficiente. “O comércio está muito ruim. Mesmo negociando [o aluguel], não consegue vender. Não dá nem para pagar aluguel e tributos”, afirma. E acrescenta que o abre e fecha é normal em toda a cidade, mas, com a crise econômica, o movimento tem sido superior.


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