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Estado de Minas

Brasil tem a maior inflação em 13 anos

IPCA estoura meta e chega a 10,67% em 2015, segundo IBGE. Em BH, alta foi de 11,82% nas contas do Ipead. Energia, dólar e combustíveis acordaram dragão e BC terá que se explicar


postado em 09/01/2016 06:00 / atualizado em 09/01/2016 07:45

Clique na foto para ampliar (foto: Paulinho Miranda/EM/D.A Press )
Clique na foto para ampliar (foto: Paulinho Miranda/EM/D.A Press )
O objetivo da presidente Dilma Rousseff (PT) de voltar a inflação em 2016 ao teto da meta de 6,45% ao ano está cada dia mais distante. O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou em 10,67% no acumulado do ano de 2015. O índice é o maior desde 2002. O que mais pesou para a alta de dois dígitos foram os preços administrados, como a energia elétrica, que teve um aumento de 51% no país em relação a 2014 e de 41,85% na Grande Belo Horizonte. Em BH, a inflação, também pressionada pela energia elétrica, fechou em 11,82% no acumulado do ano, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativa (Ipead). O percentual é quase o dobro do registrado em 2014 (6,91%) e o maior dos últimos 20 anos. Nas contas do IBGE, a inflação em BH foi de 9,22% na Grande BH no ano passado.

Em dezembro, de acordo com o IBGE, houve uma alta de 0,96% – o mais alto índice em 13 anos, quando o IPCA do período chegou a 2,10%. Diante desse cenário no país, de estouro do teto da meta do governo de 6,5% para a inflação, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, tem que se explicar em carta para o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Na explicação do BC, deve haver uma descrição detalhada das causas do descumprimento da meta inflacionária, as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo para qual se espera que essas medidas produzam efeito.

Na quarta-feira, a presidente Dilma disse que seu objetivo para 2016 é a inflação não ultrapassar o teto da meta de 6,5%. Ontem, com os índices divulgados, especialistas reconhecem que essa promessa de Dilma será um grande desafio. De acordo com o IBGE, o índice de 2015 é reflexo das altas do primeiro trimestre. “Nesse período, houve uma concentração forte nas contas das pessoas. Esses aumentos fortes se alastraram ao longo do ano, como foi a energia elétrica, que impactou na alimentação fora de casa, nas produções e, com isso, os preços aumentaram”, comentou a coordenadora do IPCA, Eulina Nunes. Ela ressaltou ainda que o dólar, que chegou a R$ 4,14 em setembro, também teve pesou na alta do índice, elevando os preços de muitos produtos, entre eles, os de limpeza.


NA TOMADA
O maior impacto para a inflação oficial do país partiu da energia elétrica e dos combustíveis. A conta de luz do consumidor brasileiro ficou, em média, 51% maior em 2014. Em Belo Horizonte e região metropolitana foi de 41,85%. As cidades com maiores altas foram Sâo Paulo e Curitiba, com reajustes de 70,97% e 69,22%. A gasolina na capital mineira e na Grande BH aumentou em 21,81%, e o etanol subiu para 23,42% em relação a 2014.

Pelo cálculo do IBGE, a inflação em BH (9,22%) foi a mais baixa entre as 13 capitais pesquisadas, o que, segundo o economista Antônio Braz, do IBGE em Minas, não é garantia de preços em baixa nos próximos meses. “Por sorte ficou menor, mas neste mês de janeiro na capital mineira há muitos aumentos que vão impactar no próximo índice”, comenta. Como exemplo, ele cita o aumento das passagens de ônibus, que ocorreu em dezembro em BH e em outras capitais. Em BH, na maioria das linhas, a passagem passou de R$ 3,40 para R$ 3,70 (alta de 8,82%).

Em relação aos alimentos e bebidas, que também pesaram no bolso este ano, com alta de 9,69% no acumulado do ano na Grande BH, Antônio Braz explica que especialmente os alimentos sofrem variações por causa de questões climáticas. “Eles já pressionam o índice de preço há alguns anos. Tem ano que o vilão é o tomate, outro é o limão e por aí vai”, afirma. Este ano, o alho, com alta de 49,17% foi o produto com maior aumento na Grande BH.

CAPITAL CARA
Considerando somente a cidade de Belo Horizonte, a inflação está acima da registrada no país, conforme dados da Fundação Ipead. No acumulado do ano, segundo a fundação, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) a capital mineira registrou alta de 11,28%. Segundo a coordenadora de pesquisa do Ipead, Thaize Martins o índice é o maior registrado na série histórica desde 1995, quando a inflação foi de 24,4%. “Ao longo de 2015, a cada mês houve uma alta. Diferentemente da metodologia do IBGE, consideramos apenas a cidade de BH, onde há itens que não tem na Grande BH, como o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Assim, observamos que, em BH, de janeiro a junho, já havia ultrapassado a meta do governo, a alta estava em 6,68%”, recorda Thaíze.

A maior contribuição para alimentar o dragão na capital foi a energia elétrica. Segundo o Ipead, somente em BH, houve uma alta de 38,02%, o que, segundo ela, impactou no preço da alimentação fora de casa, que aumentou em 10,02%. O item foi o que mais contribuiu quando analisado o grupo alimentício. “Os custos do estabelecimento, com mão de obra, energia elétrica, aluguel e condomínio foram repassados aos consumidores”, esclarece.

SEM ALÍVIO
A coordenadora do Ipead avisa que virão altas para o mês de janeiro, principalmente, de produtos administrados, como combustível – conforme mostrou o Estado de Minas esta semana, a gasolina pode chegar a R$ 4 ainda este ano em BH. “É preciso haver alguma queda nos preços, mas por enquanto, estamos vendo o contrário. Vai subir a tarifa do ônibus, gasolina, educação e impostos. No ano passado, o plano de saúde aumentou em 15%, o que não é comum. Tudo isso foi fazendo a inflação ficar mais difícil de ser controlada”, aponta. O Ipead mostrou também que, no acumulado do ano, a cesta básica sofreu um aumento 18,28% em BH, fechando o ano representando 48,96% do salário mínimo. O custo da cesta em dezembro foi de R$ 385,78 na capital.

A ameaça do descontrole

Marcílio de Moraes
Erraram os que apostaram, dentro e fora do governo, que um pouco de inflação justificaria o rescimento econômico. O país não cresceu, pelo contrário, encolheu, e o custo de vida disparou. O Brasil hoje vive o que os economistas chamam de estagflação: recessão (o PIB vai cair mais de 3%) associada à inflação o IPCA  passou de 10%). Mas o risco maior, neste momento, é a  volta da espiral inflacionária vivida na década de 1980 e que deveria não assustar mais. O risco ocorre porque salários, preços públicos (energia, combustíveis, transporte etc) e tarifas como aluguéis são indexados (corrigidos pela inflação). Com isso, a inflação passada alimenta novos aumentos de preço, num ciclo vicioso. O desemprego em alta e a economia desaquecida devem conter reajustes, mas não afastam o risco de o país ter mais um ano com inflação alta corroendo a renda e apertando o orçamento das famílias.

Impacto forte na baixa renda

A inflação da parcela mais pobre da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), foi mais cruel do que a dos mais ricos. O indicador da carestia para as famílias que ganham até cinco salários mínimo saltou 11,28% em 2015, puxado pelos alimentos, que tiveram alta de 12,36% no ano passado, e pela energia elétrica, que avançou 68,95%.

A população de baixa renda também perdeu poder de compra em relação à cesta básica, que subiu, em média, 17,64% nas 18 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse) no ano passado. Com isso, o trabalhador remunerado pelo salário mínimo dispendeu 101 horas e 11 minutos de sua jornada de trabalho de dezembro para conseguir comprar os alimentos essenciais no mês.

As altas de preços mais expressivas foram registradas em Salvador (23,67%), Curitiba e Campo Grande (ambas com elevações de 22,78%), Aracaju (20,81%) e Porto Alegre (20,16%). As menores variações ocorreram em Goiânia (11,51%) e, por último, Manaus (11,41%).

Levando em conta apenas o mês de dezembro, a constatação do Dieese também é de alta em todas as cidades. No mês passado, as maiores elevações ocorreram em Belém (7,89%), Florianópolis (5,68%) e Fortaleza (5,58%).

 


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