Depois de registrar crescimento de até 15% ao ano, o agronegócio sente, agora, os efeitos da crise econômica. Até setembro de 2015, o segmento registrou uma alta de 0,65% no faturamento total em relação ao ano passado – o menor índice de crescimento dos últimos 11 anos. A situação, que assusta o setor tão aquecido em outros anos, é preocupante, de acordo com Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), que vê com pessimismo o ano de 2016 e pede cautela aos produtores. A ordem é para que eles evitem dívidas. Além das incertezas na economia, a Faemg destaca que os investimentos do governo federal no agronegócio para o ano que vem serão insuficientes, o que pode prejudicar ainda mais o segmento.
Apesar de o agronegócio ter registrado queda em faturamento nos anos de 2012, 2009 e 2005 (veja quadro), em relação aos índices de crescimento, o de 2015 foi o pior nos últimos 11 anos, sendo a menor alta registrada em 2007, com 6,14%. Em 2014, o setor cresceu 7,03%. “Todos os produtos estão sofrendo, principalmente no mercado interno que é o nosso principal comprador”, afirma o presidente da Faemg, Roberto Simões. De acordo com ele, agora, começaram a aparecer no agronegócio os efeitos da retração na economia. “É uma área em que a crise chega depois, devido às produções variadas e os riscos menores. Além disso, ninguém para de comer, ou seja, há sempre demanda”, avalia. “Se por um lado a alta do dólar foi ponto favorável à competitividade dos produtos agropecuários, favorecendo as exportações, por outro lado, encareceu os insumos”, acrescenta.
O leite foi um dos produtos mais prejudicados neste ano. De acordo com balanço divulgado ontem pela Faemg, embora o valor do leite pago ao produtor tenha sido 4,4% superior a novembro de 2014, a produção se tornou muito mais onerosa, já que, na mesma comparação, o aumento do custo de produção chegou a 14,2%, tendo como itens que impactaram nessa conta, além da mão de obra, lubrificantes, concentrados proteicos e energéticos, combustíveis (+ 7,9%), suplemento mineral (+6,6%), fertilizantes (+2,7%), encarecidos pela alta taxa cambial, e, ainda, as questões climáticas que encareceram os valores da ração.
Além do leite, a produção cafeeira não tem o que comemorar. O produto, considerado o principal do agronegócio mineiro, representando 49,2% das exportações do setor no estado, sofreu quebra de produção por questões climáticas, pelo terceiro ano consecutivo. Roberto Simões destaca que a valorização do dólar estimulou a exportação de cafés, com valor acumulado de janeiro a outubro na ordem de US$ 3 bilhões. Porém, o montante foi menor do que a receita obtida em 2014 em 7,9%, uma vez que houve uma produção mais baixa.
Grãos e cana
Por outro lado, dois produtos se destacaram positivamente neste ano de 2015. Grãos, com uma produção de 11,75 milhões de toneladas, sendo 6,86 milhões para a cultura do milho e de 3,5 milhões para soja. O setor sucroenergético ganhou fôlego este ano devido à política de incentivo de uso do etanol, como o aumento do anidro na gasolina C (de 25% para 27%); retorno parcial da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – tributo cobrado na gasolina, e a redução de 19% para 14% do ICMS do etanol hidratado.