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Estado de Minas

Mercado prevê a pior recessão da economia em 85 anos

Além do tombo do PIB neste ano, instituições financeiras projetam pela primeira vez recuo também em 2016. Queda em dois anos seguidos não ocorre desde a crise de 1929


postado em 18/08/2015 06:00 / atualizado em 18/08/2015 07:24

Na sequência ladeira abaixo das expectativas do mercado financeiro para a economia brasileira, pela primeira vez as projeções das instituições financeiras indicam queda do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 2% neste ano. Os analistas consultados pelo Banco Central vislumbram recuo de 2,01% no indicador, segundo o boletim Focus. Para piorar, outra marca negativa é aguardada para o ano que vem. Os economistas preveem também pela primeira vez baixa no PIB de 2016 (-0,15%). A confirmação das projeções pode fazer com que a economia brasileira encolha por dois anos consecutivos, num cenário inédito desde os efeitos da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.

Na primeira pesquisa do ano, os analistas projetavam alta de 0,5% para o Produto Interno Bruto de 2015. De lá para cá, com a instabilidade político-econômica, as expectativas despencaram a cada semana. Nos 33 boletins publicados pelo BC, em nenhum os números do PIB foram superiores ao da semana anterior. Em apenas três houve estabilidade com relação à última pesquisa. De acordo com a última revisão divulgada pelo Ministério do Planejamento, em julho, o governo federal trabalha com queda de 1,49% do PIB neste ano, enquanto, em 2016, a previsão é de alta de 0,5%.

A expectativa do mercado era de recuperação da economia a partir do ano que vem, principalmente por se tratar de uma base comparativa baixa. A entrada de um novo ministro da Fazenda – Joaquim Levy – para guiar os rumos das finanças também era visto como uma saída para os analistas. Na prática, no entanto, a percepção foi outra, principalmente com as barreiras enfrentadas para a aprovação do ajuste fiscal no Congresso. E o otimismo com a recuperação no ano que vem praticamente se desfez, segundo os números apresentados na pesquisa pelas mais de 100 instituições financeiras consultadas.

Nos primeiros boletins do ano, a expectativa era de crescimento de 1,8% da economia em 2016. Entre a primeira pesquisa de abril e a primeira de junho, o levantamento indicava expansão de 1% na economia. Depois disso, seguidas quedas foram percebidas. O cenário de projeção de crescimento veio diluindo ao longo das últimas semanas até atingir patamar negativo na atual pesquisa. “Não tivemos ajuste fiscal ainda. O grosso ficou para o ano que vem. É a maior recessão desde o confisco do governo Collor”, afirma o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Nogueira.

Histórico Levantamento feito pelo professor junto ao Ipea mostra que a possível retração do PIB por dois anos seguidos não ocorre desde o biênio 1930-1931. À época, a economia brasileira caiu 2,1% e 3,3%, respectivamente. O atual panorama, segundo Nogueira, ainda tem um agravante: o indicador teve alta de apenas 0,1% no ano passado. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, verificou-se um vaivém do PIB, sem a queda por dois anos consecutivos. Na década de 1980, que, devido à estagnação, foi chamada de “perdida” para os países da América do Sul, novo sobe e desce, mas também sem quedas por dois anos.

No caso da inflação, depois de 17 projeções de altas seguidas, a pesquisa desta semana mostra interrupção da alta. Os analistas indicam elevação de 9,32% no IPCA deste ano. O primeiro boletim do ano previa alta de 6,39% – abaixo do teto da meta do Banco Central, de 6,5%.

Valorização do dólar em relação ao real dá competitividade aos produtos brasileiros no exterior(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 2013 22/5/12)
Valorização do dólar em relação ao real dá competitividade aos produtos brasileiros no exterior (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 2013 22/5/12)
Exportações podem ser salvação

A forte desvalorização do real frente ao dólar pode servir de alavanca para a mudança de trajetória da economia brasileira. Um ano atrás, o dólar era cotado a R$ 2,25, tendo subido para R$ 3,48, o que fortalece a competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional, avaliam economistas. Nesse cenário, as exportações podem ser apontadas como a saída para a retomada da economia.

Segundo o sócio-diretor da Private Investimento, Marco Antonio Isidoro, um dado positivo do boletim Focus é a projeção de superávit da balança comercial de US$ 8 bilhões para este ano, “reflexo da desvalorização do real frente ao dólar”. No ano que vem, o Focus indica superávit de US$ 15,19 bilhões. Os cenários são bem diferentes do registrado no ano passado, quando a balança fechou com déficit pela primeira vez desde 2000. O saldo de exportações menos importações foi de US$ 3,93 bilhões no período.

O professor do Ibmec, Reginaldo Nogueira, também enxerga nas exportações a saída para a crise econômica dado o atual patamar do dólar. Pelo boletim Focus, a moeda norte-americana deve valer os atuais R$ 3,48 no fim deste ano. Em dezembro de 2016, deve valer R$ 3,60.

Investimento O aumento do nível de investimentos pode ser outra rota, segundo Nogueira, mas a falta de credibilidade para atrair investimento privado associado aos cortes orçamentários dificultam. “A crise chegou pela primeira vez ao comércio e ao setor de serviços. Dois terços dos trabalhadores atuam nessas áreas. Podemos esperar desemprego maior para os próximos dois anos”, diz o economista, ressaltando que, bem diferente de 2010, o consumo interno não tem fôlego para alavancar a economia.

A falta de apoio no Congresso, avalia Isidoro, dificulta ainda mais a crise. Segundo ele, para mudar as previsões negativas, seria necessário a aprovação de reformas amplas na economia (previdência, tributária e patrimonial). Sem o ambiente adequado, o especialista considera árduo o caminho do país para escapar da crise. “Mas, como se pode ver, as medidas são de difícil execução, já que etá em andamento uma rota de perda do grau de investimento pelo país”, afirma.

Governo aposta em crescimento

Brasília – Mesmo com o mercado financeiro prevendo o aprofundamento da crise, o governo se diz otimista e espera uma retomada da atividade no curto prazo. Após reunião de coordenação política comandada pela presidente da República, Dilma Rousseff, com ministros e parlamentares, o chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou que o PIB voltará a registrar expansão o quanto antes. Ele detalhou que isso será possível porque o Executivo tem executado o ajuste fiscal. “O governo acredita que as medidas econômicas que, em grande parte, já foram tomadas criam condições para que o Brasil retome, num curto espaço de tempo, o crescimento”, disse

Na opinião de Edinho, os consumidores e os empresários precisam confiar no país, mesmo em um momento de crise econômica. “É importante que os brasileiros acreditem no Brasil, que o empresariado acredite no Brasil. As condições que estamos passando são de dificuldade, mas vivemos em um país com todas as condições de superação. Em breve, estaremos colhendo os frutos das medidas que foram tomadas. Esse é o centro da atenção do governo: a retomada do crescimento econômico e da geração de emprego”, destacou.

Expectativas Para o ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas, as afirmações do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República são precipitadas, uma vez que a economia não dá sinais de recuperação no curto prazo. Conforme ele, o governo precisa fazer o dever de casa e ajustar as finanças públicas para controlar a inflação. Conforme ele, sem um ajuste fiscal claro e sem a redução do custo de vida, os investidores não terão interesse em colocar recursos no país.

Freitas ainda ressaltou o governo precisa deixar de lado qualquer rusga com o Legislativo para aprovar o restante das medidas do ajuste fiscal para que seja possível dar previsibilidade ao mercado. “O porta-voz da Presidência da República está preocupado com os problemas eleitorais. Quem tem que falar sobre economia é o ministro da Fazenda, Joaquim Levy”, criticou.


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