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Estado de Minas

Chuva fora de época ajuda sistema energético do Brasil, mas alívio ainda é pouco

Além do clima úmido, a queda no consumo contribuiu para a recuperação das represas das principais usinas hidrelétricas, sem, no entanto, eliminar preocupação com déficit


postado em 16/08/2015 06:00 / atualizado em 16/08/2015 10:33

NA represa de Três Marias, que chegou a ponto crítico em 2014, melhora já era observada em maio (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
NA represa de Três Marias, que chegou a ponto crítico em 2014, melhora já era observada em maio (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


A associação entre baixa atividade econômica e um inesperado volume de chuvas em pleno período seco resultou em alívio para o sistema energético brasileiro. Os dois fatores contribuíram para uma reviravolta no planejamento do setor, inclusive com o desligamento de parte das usinas térmicas três meses antes do início do chamado período úmido. Com os novos números, o governo federal já vislumbra a desativação de todas as outras até janeiro, mas, cauteloso, aguarda o período chuvoso. A consequência direta é uma trégua no valor das tarifas, com impacto principalmente sobre o sistema de bandeira tarifárias.

Prova da melhoria no setor é a situação dos reservatórios das usinas hidrelétricas. As represas situadas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, estão com 36,43% do volume de armazenamento, ante 32,88% em igual período do ano passado. O mesmo se repete no Sul (91,26% ante 82,6%) e no Norte (71,73% neste mês, frente a 29,97% em agosto de 2014). A única exceção é o Nordeste, onde o patamar é menor na comparação anual.

Relatório divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indica que 12 de 19 dos principais reservatórios do país apresentam volumes superiores aos registrados em igual período do ano passado. Outros dois têm situação estável. A represa de Três Marias, no Rio São Francisco, está na lista das que tiveram maior alta da capacidade de armazenamento. O reservatório estava, em agosto do ano passado, com apenas 8,85% do volume total. Com a política de redução de vazão e as chuvas dos últimos meses, a represa recuperou-se. Nos últimos dias, está com 30,83% de sua capacidade.

“Conforme vai melhorando a hidrologia, as térmicas diminuem participação na matriz e as hidráulicas aumentam. Mas isso só vai ser definido se tivermos um verão com boas chuvas. Em 2016, se houver um verão bom, a gente pode desligar todas as térmicas”, afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. E acrescenta: “A bandeira verde pode ser usada em janeiro. Não é impossível não”.

Projeções A mudança no humor da classificação das bandeiras só foi possível por causa de novas projeções para o armazenamento dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Novos cálculos do ONS projetam que o volume estará em 30% em novembro, muito acima da expectativa do governo federal no início do ano. Segundo Tolmasquim, é um patamar “bastante satisfatório”. “Melhorou muito a situação. A gente estava lutando para chegar a 10%”, afirma.

Com isso, o risco de déficit de energia caiu para 1,2% nas duas regiões. No início do ano, chegou a superar a marca de dois dígitos, acima da margem considerada preocupante pelo governo federal, de 5%. Além das chuvas acima do previsto, a queda do consumo de energia contribuiu para esse cenário. No primeiro semestre, a demanda teve recuo de 1,1%, puxado principalmente pela queda de consumo da indústria, de 4,2%.

Nas residências e no comércio, houve aumentos de 0,3% e 1,7%, respectivamente. A atual projeção é de que 2015 termine com retração de 1,8%. Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, a melhora dos níveis de armazenamento pode ser explicada pelo maior volume de chuvas no Sudeste e pela “brutal redução do consumo”. “Os cenários elaborados projetavam crescimento do consumo, mas isso não ocorreu”, afirma Sales.

Redução de tarifa permanece indefinida


Ao longo da semana passada, durante o lançamento do Programa de Investimento em Energia Elétrica, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, descartou a alteração da coloração do sistema tarifário, de vermelho para amarelo, já em setembro. Na primeira semana deste mês, 21 usinas térmicas foram desligadas, promovendo a redução dos custos do setor, mas o governo federal só deve definir a troca de cores depois do início do período chuvoso.

Antes disso, pode ser aprovada revisão do custo da bandeira vermelha de R$ 5,50 para R$ 4,50 a cada 100 quilowatts/hora (kWh) consumidos. A proposta está em análise na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O cálculo feito pelo órgão regulador é de que a medida permitirá reduzir em 2% o valor médio da conta de luz dos lares brasileiros. Em Minas Gerais, os usuários da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) poderão economizar 1,77%. Com o possível recuo para a bandeira amarela ainda neste ano, a conta dos mineiros pode ter nova queda de mais 3,61%. A conta é, hoje, de R$ 56,47 para 100kWh consumidos (antes de impostos). Contadas as duas reduções, os gastos vão a R$ 53,47, uma diminuição de 5,32%.

O ministro de Minas e Energia disse acreditar em novo ciclo de redução de tarifas ainda neste ano, entre outubro e novembro, com a entrada em operação de novas usinas no Sistema Interligado Nacional (SIN), como a hidrelétrica de Teles Pires, no Mato Grosso. Ele ressaltou, no entanto, ser necessário tomar decisões degrau por degrau.

Em análise sobre a mudança do valor da bandeira tarifária, o Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina) questiona a revisão e chama a política de “biruta tarifária”. Segundo a organização, a mudança é política, e não técnica – isso porque em fevereiro, um mês depois da implantação do modelo de bandeiras, a cobrança sofreu reajuste e agora volta a cair.

Com base nos dados de armazenamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o ministro avalia haver disponibilidade de energia apenas para dois meses de carga, situação “não confortável”. “A impressão que se tem é de que as autoridades do setor não aprenderam nada com a crise de 2014. Todos os indicadores mostram que os reservatórios têm que permanecer mais cheios do que o usual. Os modelos podem dizer que o risco é zero, mas também podem estar errados”, diz trecho de artigo publicado no site do Ilumina. (PRF)


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