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Estado de Minas

Dólar chega a R$ 3,79 no cartão pré-pago em BH e já muda destino dos turistas

Instabilidade na China, redução da meta fiscal, inflação alta e risco da perda do grau de investimento pelo Brasil impulsionam alta da moeda


postado em 28/07/2015 06:00 / atualizado em 28/07/2015 07:01

R$ 8 mil - É o que a relações-públicas Poliana Ornelas (foto) calcula que gastaria na viagem que planejou para Nova York, que, com a alta do dólar, foi substituída por um passeio para Gramado, que vai custar R$ 3 mil(foto: Fotos: Cristina Horta/EM/D.A Press)
R$ 8 mil - É o que a relações-públicas Poliana Ornelas (foto) calcula que gastaria na viagem que planejou para Nova York, que, com a alta do dólar, foi substituída por um passeio para Gramado, que vai custar R$ 3 mil (foto: Fotos: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Em um cenário de maior aversão ao risco, que inclui a preocupação com a economia chinesa, definição de juros americanos e no Brasil e o ajuste fiscal em curso, os mercados financeiros operaram pressionados, com o dólar renovando a máxima em 12 anos e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrando sua sétima queda consecutiva. A moeda norte-americana terminou o pregão cotada a R$ 3,362 na compra e a R$ 3,364 na venda, alta de 0,47% em relação ao dia anterior. Esse é o maior valor para o fechamento desde 28 de março de 2003, quando a divisa terminou o pregão a R$ 3,372. Já o índice de referência caiu 1,04%, aos 48.735 pontos. A volatilidade esteve elevada durante todo o pregão, com os investidores repercutindo o tombo nos mercados asiáticos – a Bolsa de Xangai fechou em queda de 8,48%, o maior recuo em mais de dois anos.

Nas casas de câmbio de Belo Horizonte, o valor do dólar é ainda mais alto. Pesquisa feita pelo Estado de Minas na tarde de ontem encontrou valores de R$ 3,57 a R$ 3,61 para o dólar em espécie e de R$ 3,77 a R$ 3,79 para o dólar no cartão pré-pago. Com a disparada da moeda norte-americana, os impactos reais devem ser inflação mais alta e perda do poder de compra dos brasileiros. Nas agências de viagens por exemplo, acontece uma migração do consumidor, que antes planejava viagem ao exterior e, agora, prefere investir num passeio mais em conta, com destino nacional.

De acordo com Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (ABAV-MG), a procura pelos destinos internacionais caiu cerca de 25% este ano, enquanto a demanda pelos destinos domésticos subiu cerca de 35%. De acordo com o presidente da Abav-MG, Antônio da Matta, a valorização da moeda americana impacta diretamente no setor que tenta se recuperar com a oferta de passagens mais baratas para os outros países. “Hoje temos excelentes promoções de passagens, que compensam o gasto mais alto. Além disso, algumas operadoras têm trabalhado com o congelamento do câmbio”, afirma.

Segundo a gerente-geral da Primus Turismo, Rosana Queiroz, a alta realmente assusta os consumidores, que começam a repensar suas viagens. No entanto, ela afirma que, mesmo com a valorização da moeda norte-americana, as passagens aéreas nunca estiveram tão baratas. “As operadoras estão lançando promoções diárias. Hoje, é possível comprar passagens para os Estados Unidos, trechos de ida e volta, a US$ 281”, afirma. Rosana afirma ainda que, além do câmbio, o que mais influencia para a queda na demanda por destinos internacionais é a situação econômica do país.

SONHO ADIADO Foi por todos esses fatores que a relações-públicas Poliana Ornelas Salim desistiu da viagem que faria para Nova York neste ano. A viagem, que estava sendo planejada desde o ano passado, com retirada de passaporte e visto norte-americano, aconteceria na segunda semana de agosto e foi substituída por um passeio para Gramado, no Rio Grande do Sul. “Eu estava pesquisando desde o ano passado, quando o dólar ainda estava mais barato. Na época, as passagens estavam muito caras. Agora, estão mais baratas, no entanto, com a valorização da moeda, continua inviável, em função dos gastos que teria lá”, afirma. Poliana calcula que gastaria cerca de R$ 8 mil com passagens, hospedagem, passeios e alimentação se fosse para a terra do Tio Sam. A viagem para Gramado vai sair por menos da metade do preço: R$ 3 mil.

A comerciante Karina Miranda Maia, de 35 anos, estava ontem enviando dinheiro para a família que vive na Turquia. Pagando R$ 3,40 na moeda americana, que no início do ano podia ser enviada a R$ 2,80, ela diz que as remessas estão mais espaçadas e só acontecem em casos de urgência. “É muita diferença nos valores. Perco dinheiro enviando daqui e eles perdem mais quando vão sacar lá”, lamenta. Karina conta ainda que os planos de uma viagem que aconteceria entre agosto e setembro, para visitar os parentes no país, foi adiada por conta da valorização do dólar. “Agora, não temos ideia de quando vamos poder viajar para lá. Se o dólar voltar a cair, vamos no início do próximo ano”, finalizou. (Com agências)

De olho no gigante

Um dos motivos para a disparada recente do dólar é uma genuína preocupação com a China, uma vez que uma desaceleração mais forte no país asiático tende a ter efeito sobre a economia global. Essa é a avaliação de Adriano Moreno, estrategista chefe da Futura Invest. Junta-se a isso a persistente preocupação em relação ao ajuste fiscal no Brasil, que pode não ser suficiente para evitar a perda do grau de investimento do país. “A situação na China trouxe efeitos para os principais mercados e conduziu as negociações por aqui, embora com perdas controladas. O mercado local está buscando um ponto de equilíbrio para a bolsa e o câmbio”, afirmou.

A Petrobras teve forte contribuição para a queda do Ibovespa ontem. Com a preocupação com a desaceleração na China, os preços do petróleo tiveram forte queda – o barril do tipo Brent recuava 3,06% no momento do encerramento dos negócios no Brasil –, pressionando os papéis das empresas do setor. Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) da estatal recuaram 5,27%, cotados a R$ 9,51. É a primeira vez desde o final de março que as ações da Petrobras terminam um pregão abaixo de R$ 10. As ordinárias (ONs, com direito a voto) tiveram desvalorização de 6,04%, negociadas a R$ 10,42.

As ações da Vale até tentaram reagir, mas também fecharam em terreno negativo, apesar do preço do minério de ferro no mercado internacional ter apresentado uma leve recuperação ontem. As PNs registraram variação negativa de 0,21% e as Ons, de 0,17%. “Além da influência externa, internamente, o principal foco de atenção é a questão política. Na quinta e na sexta o mercado já teve uma forte correção, devido à redução da meta fiscal. Agora, é esperar o Congresso Nacional reabrir para ver como vai ser a temperatura entre Executivo e Legislativo”, disse Moreno.

O tombo da Bolsa de Xangai pressionou outros indicados dos mercados globais, embora em menor proporção. A queda de quase 8,5% foi considerada surpreendente. Embora o índice que mede a atividade industrial tenha ficado abaixo do esperado, não se esperava um efeito não acentuado nos mercados acionários da China. O que se especulou é que o governo pode ter retirado os estímulos ao mercado de ações, mas a informação não foi confirmada. “A Bolsa de Xangai caiu muito com o receio sobre a economia chinesa. Isso influencia no Brasil, que continua com o receio da perda do grau de investimento”, disse Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.

O cenário também impactou as bolsas europeias, que começaram a semana em baixa, seguindo para a quinta queda diária consecutiva. Nos Estados Unidos, o movimento é o mesmo. A Bolsa britânica fechou em queda de 1,13%. Frankfurt recuou 2,56% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, teve variação negativa de 2,57%.

Internamente, o dólar seguiu pressionado, com os investidores e analistas duvidando da capacidade do governo federal de realizar o ajuste fiscal e o aumento do temor da perda do grau de investimento. Enquanto a moeda, no Brasil, ganhou força, no exterior, a divisa cedeu. O “dollar index”, calculado pela Bloomberg e que leva em conta o comportamento de dez moedas, tinha recuo de 0,70% no momento do encerramento dos negócios no Brasil.

Os investidores ainda estão de olho na decisão da reunião do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed, o BC americano), já que é esperada, ainda para 2015, a alta de juros nos Estados Unidos. Na quarta-feira, também sai a decisão sobre juros no Brasil, onde é esperada uma elevação de 0,5 ponto percentual, para 14,25% ao ano. (FM e agências)

 

Reservas mantidas
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou ontem que o governo não estuda usar recursos de reservas internacionais para tentar controlar o câmbio. Segundo ele, as reservas – estimadas atualmente em US$ 360 bilhões – dão mais autonomia para o país na condução da política econômica, não tendo que recorrer a organismos internacionais.  “O governo não pensa em usar recursos de reservas internacionais”, afirmou Barbosa, em entrevista coletiva após a reunião da coordenação política no Palácio do Planalto.  Segundo o ministro, o acúmulo de reservas não é um movimento novo e exclusivo do Brasil. Barbosa disse que vários países têm adotado a mesma postura. Ele destacou que a iniciativa brasileira, adotada após o pagamento integral da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), é “importante” e diferencia o país daqueles que não seguiram tal postura.


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