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Estado de Minas INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS

Comida dita a alta da inflação dentro e fora de casa

Despesas com alimentação no domicílio sobem a um ritmo superior ao dos gastos fora do lar


postado em 05/07/2015 00:12 / atualizado em 05/07/2015 10:08

Clique para ampliar(foto: Paulinho Miranda/Ilustração)
Clique para ampliar (foto: Paulinho Miranda/Ilustração)
De um lado, a estiagem que castiga todo o país ajudou a engordar os preços dos produtos in natura, o que elevou as despesas com a alimentação nos domicílios. De outro, a desaceleração da economia brasileira pressiona o orçamento doméstico, cenário que afastou muitas famílias das idas aos restaurantes, obrigando os donos desses estabelecimentos a postergar ao máximo as remarcações dos valores exibidos no cardápio. Resultado: a inflação dos alimentos dentro de casa avança num ritmo superior ao observado fora do lar. Isso não ocorria em Belo Horizonte e no Brasil desde 2012.

Dados da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, mostram que a inflação da alimentação no domicílio alcançou 5,4% no acumulado de janeiro a maio. Já a variação percentual dos preços da alimentação fora do lar foi de 5,15% no mesmo período. Em 2014, o dragão impactou mais o consumo nos bares, lanchonetes e restaurantes: 8,01%, ante 5,37%. O mesmo ocorreu em 2013: 10,42% a 6,2%.

O movimento dos preços vai na mesma direção no país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a  alimentação no domicílio encareceu 6,38% nos cinco primeiros meses de 2015, enquanto fora do lar  ficou 5,14% mais cara. Em 2014, o balanço foi inverso, respectivamente, de 7,1% e 9,79%. Em 2013, o resultado foi na mesma direção: 7,64% e 10,07% (veja o quadro).

Um dos motivos da alta da inflação dos alimentos em casa se deve a problemas climáticos. A estiagem em algumas regiões e o excesso de chuva em outras prejudicaram a safra. Tanto é assim que o conjunto de produtos in natura (os hortifurtis), um dos três itens que compõem a inflação na alimentação nas residências, conforme a metodologia da Fundação Ipead, ficou 25,56% mais caro de janeiro a maio. O indicador também foi bem mais alto do que os dos outros dois conjuntos que compõem a alimentação na residência: produtos industrializados (4,2%) e mercadorias de elaboração primária – arroz, carnes, em especial – (0,25%).

(foto: Clique para ampliar)
(foto: Clique para ampliar)
“Houve pressão (de aumento nos preços) dos alimentos in natura em razão de problemas climáticos (estiagem, principalmente). No caso dos itens industrializados, houve repasses de preços dos estabelecimentos (fabricantes) devido à alta nos custos, como os de energia elétrica e água”, informou a economista Thaise Martins, coordenadora de Pesquisa da Fundação Ipead.

A dona de casa sofre para administrar o orçamento. Marilene Aparecida Silva Teixeira, de 63 anos, levou um susto, dias atrás, quando foi comprar cebola para temperar carne e usar em saladas. “O quilo está quase R$ 7. Comprei em menor quantidade. O preço do quiabo também disparou e passa de R$ 5”, afirma.

O maior impacto nos hortifrutigranjeiros vendidos no entreposto da Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas) em Contagem, o maior do estado, foi comandado pela cebola, o alimento que dona Marilene gosta tanto de usar como acompanhamento de carnes e em saladas. No atacado, o preço do quilo do legume no primeiro semestre, em média de R$ 2,35, foi 89,5% superior ao de igual período de 2014 (R$ 1,24).

Na rua, é a crise que dá as cartas
Bares e restaurantes sentem queda de receita e evitam repassar aumentos de custos para não perder clientes

No aperto para esticar o orçamento afetado pela inflação alta deste ano e com o desaquecimento da economia, que provoca aumento do desemprego e pressiona os rendimentos da população, o consumidor mudou os hábitos também nos bares, restaurantes e lanchonetes, adotando maior cautela nos gastos. Lucas Pêgo, diretor-executivo da regional mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), informa que houve queda nas vendas do setor em todo o país. “Caiu o faturamento das casas com tíquete médio acima de R$ 30 e aumentou a receita daquelas que trabalham com valor médio abaixo de R$ 15. As pessoas estão gastando menos para se alimentar ou buscam, no mesmo restaurante que já frequentam, opções a preços mais baixos”, afirma.

O ajuste das empresas ao novo comportamento do cliente, na visão dos empresários, explica o fato de a inflação dos alimentos no lar avançar mais do que aquela fora dos domicílios. Os donos de bares e restaurantes seguram o quanto podem os repasses de aumentos dos cutos para o consumidor. Levantamento feito pela Abrasel mostrou que o faturamento médio do setor no país recuou 8,39% entre o último trimestre de 2014 e o primeiro de 2015. Segundo a entidade, considerando-se o fator da sazonalidade histórica das vendas do segmento, a queda real foi de 2,39%. A pesquisa não detalha dados por capitais.

Pesquisar e comprar barato é a lição de Marilene Silva(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Pesquisar e comprar barato é a lição de Marilene Silva (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
De janeiro a março, sete em cada 10 empresas informaram que a rentabilidade no período analisado oscilou em até 10%, sendo que metade apontou um percentual inferior a 5%. Tais dados vão na contramão de uma rentabilidade média histórica de 10%, apurada em períodos de economia mais favorável. “O setor tem que se adaptar à realidade do público. Tem que reduzir custos e fazer promoções”, afirma Lucas Pêgo.

Cássio Kinoko aliou redução de custos a promoções(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Cássio Kinoko aliou redução de custos a promoções (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Aposta nessa premissa o restaurante especializado em culinária japonesa Kinoko, instalado no Bairro Buritis, Zona Oeste de BH. “Se repassasse todo o aumento dos custos da casa aos preços ao consumidor, o negócio ficaria inviável. Temos feito um processo interno de revisão de conceitos e formas de trabalhar , buscando redução de gastos com água e luz”, disse Cássio Kinoko, dono do empreendimento. Ele observa que a crise fez aflorar a criatividade na getão e projetos acabarem sendo tirados da gaveta. Um deles é presentear o cliente no dia do aniversário com um rodízio grátis, no valor de R$ 50. Toda terça-feira, há rodada dupla de cerveja e às quintas, rodada dupla de drinques.

Se dentro do domicílio as compras já seguiam a regra da pesquisa de preços como hábito frequente, o mesmo deve ocorrer fora do lar, ensina a dona de casa Marilene Aparecida Silva Teixeira. “Temos de bater sola de sapato mesmo. Dou preferência para alimentos vendidos a preços mais em conta”, ensina. E não é por pouco. A elevação dos preços dos alimentos in natura fez a cesta básica calculada pela Fundação Ipead na capital mineira encarecer 6,95% no acumulado de janeiro a maio. O custo medido em junho foi de R$ 359,30. A estiagem provocou problemas adicionais nas lavouras, que encareceram os alimentos, como a baixa produtividade, de acordo com o analista da seção de Informações de mercado da CeasaMinas, Ricardo Martins.


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