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Estado de Minas ENTRE OS TERÇOS E AS MISSAS

Produção de alimentos e bebidas no interior dos templos católicos mineiros é feita com planejamento rigoroso

Na maioria das vezes, fiéis não percebem a intensa movimentação


postado em 05/04/2015 07:00 / atualizado em 05/04/2015 10:01

Gosto e tenho prazer de trabalhar na cozinha. É uma tradição - Irmã Maria Gonçalves da Cunha, do Instituto São Luís(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Gosto e tenho prazer de trabalhar na cozinha. É uma tradição - Irmã Maria Gonçalves da Cunha, do Instituto São Luís (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Nem só do trabalho de irmãos e irmãs devotados vive a produção artesanal dos mosteiros. As abençoadas cozinhas geram emprego e renda no interior de Minas. Em meio ao silêncio arrebatador que se espalha pelo adro da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, a intensa movimentação na cozinha pode passar desapercebida dos fiéis. Como numa fábrica, o trabalho requer planejamento e agilidade das mãos de 15 cozinheiras que moram na região. Durante eventos e encontros dos romeiros, que multiplicam as visitas, o número de trabalhadores mais que dobra, chegando a 32 vagas, ao todo, conta a supervisora do restaurante Espaço Dom João de Resende Costa, Monique Marques Carreira.


“Existe a necessidade de um novo espaço definitivo para servirmos o café (café colonial servido a R$ 29,90 o quilo) e as sobremesas. São receitas antigas que foram testadas e adequadas aos tempos e sempre influenciadas pela comida dos romeiros e de conventos”, afirma. As cozinheiras manuseiam um estoque impressionante de ingredientes da produção artesanal, já levada ao limite que a atual infraestrutura permite. A cada semana, são consumidos 80 quilos de farinha, 288 litros de leite e 120 dúzias de ovos transformados em roscas, biscoitos, bolos e doces.

Ocupada na fabricação de quintadas, Maria Lacy, de 59 anos, diz não ver as horas correrem. “Como é um lugar sagrado, venho trabalhar com o coração alegre”, diz. A colega de trabalho Terezinha Luiza Lima confirma: “A gente não vê o tempo passar. É muita paz”. Na queijaria improvisada na pedra, Alair Silva cuida da maturação de 60 peças, em média, a cada dois meses, vendidas por R$ 44,90 o quilo. O queijo fresco é comprado em Serra do Salitre, no Alto Paranaíba, e, ao sair personalizado do santuário, já cruzou as fronteiras do país para ser consumido em países como Portugal e Itália.

Pensamos em melhorar a nossa produção, que é diária e ajuda na manutenção do convento - Irmã Joana DArc Paulino, diretora do Instituto São Luís(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Pensamos em melhorar a nossa produção, que é diária e ajuda na manutenção do convento - Irmã Joana DArc Paulino, diretora do Instituto São Luís (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O Santuário do Caraça, da mesma forma, tem a sua equipe de trabalhadores na produção artesanal de pães, biscoitos e vinhos. Parte do pessoal envolvido na fabricação de itens que levam a marca do santuário recebe orientações dos profissionais da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Segundo o padre Lauro Palú, a parceria com as duas instituições faz parte do projeto de reconhecimento do valor dos ingredientes e da culinária típica do mosteiro. Antiga casa de férias dos seminaristas do Caraça, a Fazenda do Engenho, que hoje complementa a hospedagem na pousada do santuário, abriga uma queijaria que também foi reformada.

A produção artesanal tem tido espaço garantido também nos festivais culturais de Santa Bárbara e Catas Altas. O trabalho de resgate cultural envolve verduras típicas da região onde o santuário está localizado e a pesquisa de plantas medicinais. São ingredientes importantes no trabalho de recepção aos visitantes, incluindo 20 mil hóspedes, em média, por ano. Além dos brasileiros, o Caraça já atendeu, em 2015, turistas de 29 países, entre eles, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. Os estrangeiros têm os frequentes objetivos de observar as aves e de conhecer a riqueza arquitetônica e paisagística do santuário e das suas redondezas.

No Instituto São Luís, a irmã Maria Gonçalves da Cunha, com a ajudante Maura Teixeira, comanda a produção diária de quintadas. “Gosto e tenho prazer de trabalhar na cozinha. É uma tradição”, afirma a religiosa, concentrada no cozimento de doce de mamão em enormes tachos à moda artesanal. As compotas são vendidas a R$ 14, e os licores, a R$ 15. Preferidos do público, o licor e o vinho feitos de jabuticaba e chocolate são preparados duas vezes por semana, mas o ritmo da fabricação tende a aumentar, destaca a irmã Joana D’Arc Paulino. Em maio, um restaurante em construção em área contígua à do convento deve estar pronto, para atender 644 clientes. O espaço poderá, ainda, ser alugado para eventos de empresas.
O padre Lauro Palú, do Santuário do Caraça, valoriza a culinária típica e faz parcerias para a melhoria dos processos(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
O padre Lauro Palú, do Santuário do Caraça, valoriza a culinária típica e faz parcerias para a melhoria dos processos (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Engrenagem abençoada

Conheça algumas das curiosidades da produção dos mosteiros


>> A revitalização da infraestrutura de atendimento do Santuário da Piedade levou ao aumento do número de visitantes no último um ano e meio de 45 a 50 pessoas por fim de semana para 250 por semana.
>> As quitandas Cristo Rei são feitas sem conservantes e consomem muitos ovos para fazer valer a tradição das irmãs que usavam claras para engomar os hábitos e as batinas e aproveitavam as gemas na fabricação de doces
>> No Convento dos Redentoristas, os irmãos eram os responsáveis pelos serviços de manutenção, até que um cozinheiro foi o primeiro funcionário contratado, em 1974. Como ele não podia transitar dentro do convento, entrava no mosteiro por uma porta aberta para a rua. Até aquela época, os religiosos se organizavam por função. Havia o irmão cervejeiro, o cozinheiro, o porteiro e o alfaiate.
>> Os irmãos redentoristas podem tomar apenas uma garrafa de cerveja por pessoa durante a refeição. Cerveja, para eles, é alimento.


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