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Estado de Minas DOAÇÕES MOVIMENTAM CIFRA BILIONÁRIA NO PAÍS

Estudo mostra que filantropia gera 2,3% do PIB

Solidariedade que aparece com mais força no Natal revela altruísmo dos brasileiros. Igrejas mineiras têm R$ 1 bi por ano


postado em 25/12/2014 07:00 / atualizado em 25/12/2014 07:59

"No fim do ano as doações triplicam. Parece que o coração das pessoas é tocado e elas saem de casa com o intuito de fazer o bem. Precisávamos que isso virasse rotina e não fosse apenas uma vez por ano", diz Sirlene Lima Ferreira, coordenadora da Acolhida Solidária Dom Luciano Mendes (foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
Festa cristã do nascimento de Jesus Cristo, ou simplesmente tempo de confraternização e de celebração do fim de mais um ano, o Natal mexe com o coração e desperta nas pessoas atitudes filantrópicas e altruístas. Sobra disposição para doar cestas básicas, roupas, brinquedos, sapatos, material de limpeza, remédios, dinheiro etc. A lista de doações do fim de ano passa por uma infinidade de produtos e itens que ainda é difícil mensurar com precisão, mas que movimentam cifras bilionárias na economia do país. Uma pesquisa da Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos, coloca o Brasil em 10º lugar no ranking de contribuição sem fins lucrativos, entre 15 países diferentes. Segundo o levantamento, essas instituições contribuíram com 2,3% do Produto Interno Brasileiro (PIB), entre 2002 e 2010, percentual abaixo da média do setor, de 3,6% para os 15 países pesquisados. 

O Estado de Minas apurou que uma bolada de R$ 1 bilhão ingressou nos cofres das igrejas católicas e evangélicas no estado somente neste ano, com base em levantamento divulgado com exclusividade pela Receita Federal. A arrecadação alcança quase R$ 2,7 milhões, em média, por dia. Isso, levando em conta apenas as doações feitas em espécie. Se forem contabilizadas as doações feitas em mantimentos, roupas, sapatos e até mesmo força de trabalho, esse número pode ser triplicado, principalmente no mês de dezembro, quando as pessoas ficam mais abertas à doação.

Exemplo disso ocorre na Acolhida Solidária Dom Luciano Mendes de Almeida, na Arquidiocese de Belo Horizonte. O projeto que atende a mais de 5 mil famílias recebe doações diversas que, se tivessem como ser contabilizadas, poderiam chegar a R$ 500 mil em um ano. No entanto, apesar do valor, o projeto precisa de muito mais para conseguir atender as famílias todos os meses. “No fim do ano as doações triplicam. Parece que o coração das pessoas é tocado e elas saem de casa com o intuito de fazer o bem. Precisávamos que isso virasse rotina e não fosse apenas uma vez por ano”, afirma a coordenadora do projeto, Sirlene Lima Ferreira. Segundo ela, durante muitos anos as doações que foram realizadas em dezembro conseguiram sustentar o projeto por meses, como neste ano (os donativos foram distribuídos até abril).

O projeto arrecadou 32 toneladas de alimentos, 24 mil toneladas de material de higiene e limpeza, mais de 1,5 mil unidades de remédio, além de 8,8 mil toneladas de roupas e calçados. A coordenadora afirma ainda que, mesmo recebendo muitas doações, há meses em que o projeto não consegue prestar assistência a todas as famílias cadastradas. Os gastos com mais de duas mil cestas básicas, por exemplo, passam de R$ 90 mil. “Pode ser pouco para quem doa, mas é muito para quem recebe. Não precisa ser dinheiro, precisa apenas ser de coração. Não tem como mensurar a importância de uma cesta básica para uma família carente. É um resgate de cidadania, de dignidade e nosso coração fica feliz em ver isso”, afirma.

Bom Pastor Muito mais do que dinheiro, as doações resgatam uma vida. A afirmação é do coordenador da Creche Bom Pastor, Aldo D’Vale, que cuida de mais de 50 pessoas com deficiência física e mental, em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A instituição que tem um custo mensal de, pelo menos, R$ 120 mil, tem 50% das despesas subsidiadas pelo governo, o restante é custeado por doações voluntárias. “O mais importante não é o dinheiro, mas sim as boas ações que são praticadas de coração aberto. Não recebemos doações em dinheiro, queremos apenas o alimento suficiente para dar aos nossos hóspedes, roupas para mantê-los acolhidos e, acima de tudo, o carinho para fazer com que eles se sintam bem. Tudo isso, dá esses outros R$ 60 mil que precisamos e mais um pouco”, ressalta.

O subsídio de 50% do governo para a creche, que funciona há 33 anos, cresceu nos últimos anos. Houve época em que a instituição sobrevivia com 90% de doações. Hoje, eles sobrevivem com um orçamento apertado, sem folga. O coordenador reafirma a importância dessas doações e diz que não permite que façam da instituição um modelo de mendicância. Tudo que chega ao local, é de livre espontânea vontade do doador, nada é pedido. No fim de ano, entre os meses de novembro e dezembro, época em que as pessoas estão mais receptivas ao amor, segundo Aldo, o número de doações costuma dobrar ou até mesmo triplicar. O que recebemos sustenta a casa em dois ou três meses. “Sem contar as festas que recebemos que deixam todo mundo com sorriso no rosto. Não há como mensurar o valor dessas doações. É uma felicidade que não há moeda e nem fita métrica que possam medir ou dar um valor para essas ações”, completa.

Dedicação para pessoas carentes

E, se para quem recebe as doações não há como mensurar o valor delas, para quem coloca a mão no bolso e dedica várias horas de seu tempo para fazer o bem, também não. A advogada Rosa Werneck passa horas dos seus dias planejando uma festa de Natal que realiza há 15 anos para crianças carentes, além de uma visita no asilo em Santa Luzia no dia de Natal, para levar presentes aos idosos que vivem em uma casa na sua cidade natal, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O custo para ver a felicidade estampada no rosto de quem ela ajuda passa de R$ 10 mil, sem contar as doações que ela recebe de clientes e amigos que fazem questão de ajudar.

“Eu penso nesta festa o ano todo e planejo cada segundo dela. Brinquedos, presentes, comidas, refrigenrantes, picolés, tudo isso faz com que o dia fique ainda mais especial. E todo o dinheiro que gasto nessa festa é como se fosse um investimento. Não tem preço ver o o sorriso no rosto de uma criança que está tomando um sorvete pela primeira vez ou de um idoso recebendo um presente no dia de Natal. Tudo que eu doo, vem em dobro para mim depois, de alguma forma, e isso tem um significado tão bom”, completa.

Com potencial para melhorar

Apesar de as doações já movimentarem cifras bilionárias no país, o estudo World Giving Index 2014 divulgado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) afirma que o Brasil ainda tem muito o que melhorar para ficar entre os “potenciais doadores”. O país subiu um lugar no índice mundial de doações, que abrange 135 países ao redor do globo, e ficou na 90ª posição. E, apesar de ter apresentado evolução, passando de 91ª para 90ª, desde o início do levantamento, em 2010, já perdeu 36 posições. Os dados mostram que 22% dos brasileiros entrevistados afirmaram ter doado dinheiro para organizações da sociedade civil, 40% ajudaram desconhecidos e 16% fizeram algum tipo de trabalho voluntário.

Nos índices avaliados pelo estudo, doação, voluntariado e ajudar um estranho, o Brasil aparece entre os 10 primeiros colocados por ser um país populoso. No entanto, em termos de percentual da população ainda está mais perto do fim da lista. Segundo a diretora-presidente do Idis, Paula Fabiani, ainda há um enorme potencial para evoluir. O país precisa migrar de uma visão paternalista para uma visão mais estratégica, deixando de fazer apenas ações pontuais, mobilizando pessoas apenas em torno de tragédias como enchentes e incêndios. “Precisa-se fazer mais ações que corrijam o problema por inteiro e não parte dele. Ter um setor social vibrante é uma expressão da sociedade que apoia porque acredita nos valores. Vamos melhorar à medida que tivermos um terceiro setor participativo o que é uma demonstração de sociedade civil fortalecida. Ainda estamos caminhando nessa direção”, afirma.

O único ponto em que o Brasil cresceu entre 2013 e 2014 foi no voluntariado, que passou de 13% para 16%. Por outro lado, a doação caiu de 23% para 22% e o ato de ajudar a um estranho caiu de 42% para 40%. Paula afirma que há uma necessidade de investir na cultura de doação no país, uma vez que sete em cada 10 pessoas não fazem doações e oito em cada dez não praticam qualquer ação de voluntariado. “É importante estimular a cultura de doação no país, seja em dinheiro ou tempo. Os dados mostram que a doação não está apenas relacionada com a questão da riqueza. O que temos visto nesses anos em que o país apresentou crescimento é uma movimentação maior em cobrar ações de governo, mas que ainda não refletiu em ações ou doações voluntariadas dos cidadãos”, ressalta Paula Fabiana.

Cultura Nos países que compartilham o primeiro lugar no ranking, Estados Unidos e Mianmar, a cultura da solidariedade é forte. Os Estados Unidos são o único país a aparecer em números percentuais no Top 10 nos três tipos de doações. A liderança de Mianmar vem da ocorrência muito alta de doações em dinheiro. Nove em cada dez pessoas no país seguem a escola Theravada de budismo, com uma forte cultura de solidariedade, o que contribui para que a nação esteja na primeira posição em doação em dinheiro.

Além disso, um outro estudo do Idis em parceria com a Ipsos Public Affairs (Ipsos), sobre o Retrato da Doação no Brasil, mostra que os brasileiros não se sentem estimulados para doação e voluntariado, doam mais para pedintes de rua e igrejas do que para organizações da sociedade civil, 84% da população desconhece que pode fazer doações utilizando parte do Imposto de Renda e que crianças e idosos são grupos populacionais que mais sensibilizam a população para doações em dinheiro.

 

 


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