Baixas temperaturas garantem renda extra para milhares de famílias no Sul de Minas

Monte Verde, Camanducaia (MG) – Conhecido como “o homem do tempo” por medir a temperatura de Monte Verde há 14 anos, Nelson Tavares Pacheco também fala sobre a estrada que fomentou o turismo na cidade. De acordo com ele, o asfaltamento do acesso propiciou, além do turismo de fim de semana, o bate-e-volta de pessoas que moram nas regiões próximas. “Monte Verde está cada dia mais conhecida e, a cada dia, chegam mais turistas querendo saber sobre as temperaturas mais baixas já registradas aqui. A menor foi de -4°C, em 2011”, lembra. Nelson tem uma loja de lembranças onde vende também termômetros, um dos itens mais procurados pelos turistas que chegam a Monte Verde. “Vendo mais de 400 termômetros em uma boa temporada. Dá um bom dinheiro, pois tem dos mais baratos, de R$ 5 até os mais sofisticados, de R$ 200”, afirma.

Um dos grandes atrativos da cidade, a fábrica de cerveja e chopperia Fritz, que emprega mais de 20 pessoas do distrito, registrou um aumento de 40% na demanda nos últimos dois anos. De acordo com Jorg Franz Schwabe, mestre cervejeiro e proprietário da fábrica, são produzidos 25 mil litros da bebida por mês, que são vendidos em Monte Verde e outras 11 casas em São Paulo. No restaurante, são oferecidas visitas guiadas à fábrica, que custam R$ 20 ao turista. “Aumentou muito o número de turistas nos últimos anos, e muita gente de São Paulo que vem a Monte Verde quer conhecer a fábrica. É uma forma de aumentar nosso faturamento e ainda promover Monte Verde”, afirma Schwabe.

SOBRE O GELO Outro ponto turístico que também testemunha o aumento do fluxo de turistas para a cidade é a pista de patinação no gelo, que fica na principal avenida do local e costumava receber 100 visitantes por fim de semana até 2011. Hoje, em média, 240 turistas vão ao local a cada fim de semana. “Tivemos, em apenas um sábado deste ano, mais de 200 pessoas. Estamos recebendo mais crianças e adultos também. Até mesmo no calor, quando não recebíamos nenhum turista. Agora, já recebemos cerca de 120 por fim de semana fora da temporada de inverno”, comenta a funcionária do local, Rosana Vitória Rodrigues. Estima-se que apenas a pista de patinação movimente cerca de R$ 20 mil por fim de semana na alta temporada.


Na Companhia 4x4, uma das agências que oferecem passeio de jeeps e quadriciclos, o turismo também embala o crescimento da empresa. De acordo com José Gomes de Oliveira, a empresa já conta com 16 jeeps. “Quanto mais carros a gente tem, mais turistas temos para atender. Nunca vi uma coisa assim. Em Monte Verde, parece não haver crise, principalmente de uns dois anos para cá, depois de a estrada ser asfaltada. Ficou mais fácil para o turista chegar”, revela.}

Ampliações refletem otimismo

A alta na demanda pelo turismo no distrito está resultando também em ampliações e reformas de pousadas, lojas e até da antiga fábrica de chocolates Gressoney. O jovem empresário Tiago Faria inaugurou há 15 dias sua loja de vinhos e queijos. Trabalhando como atendente durante sete anos em uma loja da cidade, Tiago enxergou a oportunidade de ter o próprio negócio enquanto atendia turistas no antigo emprego e resolver arriscar. Com um investimento de mais de R$ 50 mil, ele conta que alugou o ponto, negociou os produtos com os fornecedores e abriu a loja, que já tem registrado bom movimento. “O pessoal está conhecendo a loja agora, mas, em um fim de semana em que Monte Verde tem os hotéis lotados, vendemos muito”, conta Tiago que já emprega duas pessoas e pretende recuperar o investimento feito em um ano.

No setor de hotelaria, empresários também investem em ampliações e novos empreendimentos. De acordo com a Prefeitura de Camanducaia, 10 novos negócios hoteleiros estão em construção e outros seis novos projetos já foram aprovados para iniciar as obras até o fim de 2014. A Pousada das Montanhas é uma das que estão em ampliação. A expectativa, segundo o proprietário do estabelecimento, José Vicente de Souza, é passar dos 14 quartos já em atividade para 40 até o início do próximo ano. O investimento de R$ 500 mil, segundo ele, deve ser recuperado em até cinco anos. “Com a construção da estrada, não temos mais baixa temporada. Meu faturamento aumentou cerca 30%. Agora, nós recebemos hospedes o ano inteiro. Antes, no verão, o movimento caía cerca de 60%”, lembra. A ideia, ainda de acordo com o empresário, é aumentar também o quadro de funcionários, de quatro para 10, quando os quartos estiverem prontos.

PRODUÇÃO GARANTIDA A fábrica de chocolates, uma das empresas mais antigas da cidade e que opera desde 1978, também foi ampliada no início do ano. De acordo com o proprietário, Gerson Godoy, a ampliação se deu com o aumento da demanda, que cresceu cerca de 40% nos últimos dois anos. O quadro de funcionários, que era composto por seis pessoas, mais que dobrou, chegando a 15 profissionais. “Na alta temporada, chegamos a uma produção de 1,5 toneladas por mês. Na baixa, costumava cair para 500 quilos. Agora, esse numero não cai tanto, mantemos uma produção maior e esse quadro de funcionários o ano todo”, comemora. Ainda de acordo com Gerson, em um fim de semana de grande movimento, quando Monte Verde costuma receber cerca de 10 mil turistas, são vendidas quase três mil Prímulas, o chocolate carro-chefe da casa.