É na sola da bota e no embalo de violas e até de guitarras que o sertanejo vem movimentando milhões de reais em Minas e no país. O gênero musical, literalmente, estourou. E não é mais voltado apenas para o público do interior ou de baixo poder aquisitivo. É a classe A/B a responsável por abrir a porteira dos lucros do setor. Prova disso é a quantidade de eventos de música sertaneja voltados para o público de alto padrão que está sendo promovida no estado neste mês e em maio. Apenas quatro deles devem movimentar mais de R$ 7 milhões, somente com as vendas de ingressos cotados nos valores mais baixos para pista. Vale lembrar que ainda há gastos com camarotes, que incluem serviços como open bar e food, custo dos traslados e até o aluguel de casas ou diárias de hotel, como os que foram desembolsados por quem que decidiu curtir o feriado da semana santa na quarta edição do Escarpas Folia Sertaneja, em Capitólio, no Sul de Minas.
Para ter ideia, o município tem apenas 8,5 mil habitantes. E o evento recebeu cerca de 20 mil pessoas por dia, no sábado e no domingo. "Tem muito dinheiro circulando hoje no sertanejo", diz João Wellington, produtor responsável pelo Escarpas Folia e por diversos outros shows promovidos pelo país afora. Segundo ele, no último ano, a procura pelos eventos cresceu pelo menos 90%. "Tudo se profissionalizou. Antes contratávamos dois violeiros. Hoje, eles têm empresas completas", afirma. Wellington está neste mercado há mais de 20 anos e acredita que ele não vai parar de crescer.
No Escarpas Folia Sertaneja, os ingresso variavam de R$ 60, por dia de pista, a R$ 320, valor diário do Camarote Wood’s. Mas aqueles que passaram o feriadão no balneário já famoso por atrair pessoas de maior poder aquisitivo, desembolsaram bem mais do que R$ 120 ou R$ 640 por duas noites animadas pelos shows de cantores consagrados no meio, como Fernando e Sorocaba ou Luan Santana. Segundo o prefeito de Capitólio, José Eduardo Terra Vallory, o turismo já está entre os carros-chefes da geração de renda na cidade. E a semana santa é destaque. Tem turista que gasta bem acima de R$ 1 mil por dia, tendo em vista o aluguel das casas e o custo do combustível das lanchas. "Na semana santa, a capacidade da rede hoteleira, que chega a 1 mil leitos, esgotou. Também não havia mais casas para alugar", conta. O valor da locação variou de R$ 4 mil a R$ 20 mil, dependendo do padrão dos imóveis. Com o maior giro de turistas e de dinheiro, também foi maior a geração de empregos. Pelo menos 400 vagas temporárias foram geradas na cidade.
As amigas Érica Brandão, Eliene Oliveira, Éricka Rattis e Priscila Jacome foram curtir o feriado em Capitólio. Cada uma delas desembolsou pelo menos R$ 1,3 mil. Érica conta que seus amigos mais próximos ocuparam pelo menos cinco casas no balneário, e que consumo deles em termos de eventos sertanejos não para por aí. "A minha frequência em festas assim pelo menos dobrou no último ano", afirmou, lembrando que os preços cobrados pelos ingressos também ficaram bem mais altos. "Valorizou", observa a estomatologista de 30 anos, que mora em BH e frequenta normalmente a Wood’s, o Observatório e o Clube do Chalezinho.
Elas já planejam ir a pelo menos dois dos próximos eventos previstos para a Grande BH no mês que vem: Villa Mix, no Mega Espace, e Uma Tarde de Buteco, com show do Zezé di Camargo e Luciano, no Alphaville, em comemoração de um ano da Wood’s, casa especializada em sertanejo na Grande BH.
Os amigos Vítor Aguiar, de 27, e Lucas Barbosa, de 23, também não perdem esses eventos na capital e mesmo no interior. Na quinta-feira, eles fizeram as malas e partiram em direção a Capitólio. Faziam parte de um grupo de 40 pessoas que locou duas casas em Escarpas do Lago, o condomínio famoso do município. O aluguel de cada uma delas saiu por cerca de R$ 12 mil. "Valeu muito a pena", reforçou Vítor.