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Estado de Minas

Fantasma do racionamento reduz vazão em Três Marias

Um dia depois de informar que reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste estão no mesmo nível de 2001, ONS determina a contenção de água na hidrelétrica no Rio São Francisco


postado em 07/03/2014 00:12 / atualizado em 07/03/2014 07:13

Com apenas 20,6% da sua capacidade, represa da Cemig está com comportas fechadas e vai cortar passagem de água nas casas de máquina, reduzindo geração de energia e provocando apreensão para agricultores mineiros(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Com apenas 20,6% da sua capacidade, represa da Cemig está com comportas fechadas e vai cortar passagem de água nas casas de máquina, reduzindo geração de energia e provocando apreensão para agricultores mineiros (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O racionamento branco de energia já começou em pelo menos uma usina hidrelétrica do país. Informações obtidas pelo Estado de Minas junto a uma fonte do setor elétrico dão conta de que o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS) determinou uma redução de 30% da vazão efluente (água que sai da represa), da usina hidrelétrica de Três Marias, no Rio São Francisco, que saiu ontem dos habituais 500 mil litros por segundo para 350 mil litros por segundo. A vazão na usina da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) deverá ser reduzida ainda mais, chegando a 50% do volume normal ou 250 mil litros por segundo. Com a redução do volume de água que sai da represa, o volume de energia produzido também vai cair. A decisão teria sido tomada um dia depois de o ONS divulgar que o nível dos reservatórios das usinas das regiões Sudeste/Centro-Oeste está em 34,66%, nível próximo ao registrado no mesmo período em 2001 (33,45%), ano que que houve racionamento de energia.


De acordo com o prefeito de Três Marias, Vicente Resende, a situação do lago da usina nunca esteve tão crítica. Em agosto de 2001, um mês depois que o racionamento de energia foi decretado, o lago estava com 3 bilhões de litros de água. Hoje, em pleno período chuvoso, o volume de água está perigosamente perto dessa marca – 4,2 bilhões de litros. No total, a capacidade do reservatório é de 21 bilhões de litros. “Em 50 anos de existência da represa, nunca viemos uma situação tão grave. Ainda não fomos comunicados da redução da vazão. Se isso realmente ocorreu, o lago será preservado. Vamos torcer para São Pedro mandar chuva entre março e abril para a situação melhorar”, diz Resende.
Procurado ontem pelo Estado de Minas, o ONS ainda não se manifestou sobre a determinação que teria dado à Cemig e nem mesmo sobre a necessidade de adoção da mesma medida em reservatórios de outras usinas com baixo armazenamento, como Marimbondo (19,56%), no Rio Grande, e Itumbiara (16,21%) no Rio Paranaíba. A concessionária mineira também não comentou a redução da vazão em Três Marias.


Irrigação

Segundo Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia (Abrage), a redução da vazão efluente poderá afetar a irrigação no Projeto Jaíba e o abastecimento de água em municípios como Pirapora, São Romão, São Francisco e Januária, que ficam a juzante (abaixo) do lago da usina de Três Marias. Jorge Luís Raimundo de Souza, presidente da Associação dos Fritucultores do Norte de Minas Gerais (Abanorte), na área do projeto Jaíba, está apreensivo. Ele teme que a redução entre 30% e 50% na água que sai da represa e segue pelo rio São Francisco afete a produção de frutas no local. “A redução é muito expressiva”, justifica.


Hoje, de acordo com ele, o complexo de fruticultura do Rio São Francisco ocupa quase 50 mil hectares irrigados e gera 100 mil empregos diretos. Só no Jaíba, são 35 mil hectares com uma produção de, em média, 20 toneladas de frutas cada um, o que, fechadas as contas, soma mais de 600 mil toneladas de frutas. “Só do Jaíba saem entre 30 e 40 caminhões de frutas por dia”, calcula. A Abanorte tem sede em Janaúba, onde a falta de chuvas no ano passado reduziu o nível de armazenamento na barragem do Bico da Pedra, no Rio Gurutuba, em 14 metros. Com isso, já há racionamento de 50% de água destinada à irrigação desde o ano passado.


“Cerca de 30% da área foi severamente afetada”, sustenta Souza. De acordo com ele, dos 6.800 hectares do perímetro irrigado do Gurutuba, 2 mil hectares foram totalmente perdidos. Além dessa área, uma parte está seriamente efetada, mas conseguiu sobreviver. “Assumimos o prejuízo que nos cabia. A tomada de água destinada a perenizar o rio não foi afetada. Já a agua que vai para os canais de irrigação, apesar da reucperação de sete metros no reservatório da represa em janeiro, continua sob racionamento de 50% porque a situação está muito incerta”, diz.

Compensação

A redução da geração de energia em Três Marias, em decorrência da queda na vazão elfuente, não é um grande problema, pois pode ser compensada com o aumento da produção em reservatórios que estejam mais cheios, diz a fonte do setor elétrico. “A questão toda é que mesmo com a geração térmica no máximo, os reservatórios não estão enchendo na época de chuva. O problema é que a chuva não está caindo nos reservatórios de cabeceira, como Três Marias, Itutinga (Rio Grande), São Simão (Rio Paranaíba) e Nova Ponte (Rio Araguari). “No racionamento de 2001, havia como compensar um pouco o problema pois os reservatórios do Sul do país estavam cheios, o que não ocorre agora”, sustenta a fonte do setor elétrico.

Medo de perdas nas margens

O secretário de Transporte de Januária, que fica a Juzante da represa de Três Marias, Ilson Almeida Oliveira, teme que a redução da vazão de água na usina de Três Marias, no Rio São Francisco, afete o município. “Já tivemos que mudar as boias. O rio ficou mais longe do cais”, revela. De acordo com ele, com a seca, a distância entre a água e o cais já é de 100 metros, o que pode afetar a navegação turística. No município de Janaúba, que está na mesma situação, o prefeito Yugi Yamada, diz que apesar do racionamento na área irrigada do Gurutuba, o abastecimento na cidade está normal. Ele, no entanto, está preocupado com a situação dos mil hectares de bananal que possui no Jaíba.

Paulo Roberto de Carvalho, gerente de irrigação da Companhia de Desenvolvimenro dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), explica que não sabe dizer se a redução do volume de água no rio afetará a fruticultura na região porque isso nunca ocorreu antes. A Codevasf capta no máximo 20 mil litros por segundo para a atividade quando a estiagem é superior a quatro dias. “O que pode acontecer é reduzir a quantidade de água e isso mudar o curso do rio, afastando o nosso ponto de captação, mas nunca vivemos uma situação assim”, reconhece. De acordo com ele a situação é preocupante porque o São Francisco é muito largo em tem muita areia. “Estamos na margem direita e se o curdo do rio mudar, será necessária uma intervenção”, acredita. (ZF)


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