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Estado de Minas

Relatório Trimestral de Inflação deixa evidente perda de força da política monetária do Brasil

Relatório do Banco Central prevê inflação acima dos 4,5% ao ano até 2015, mesmo com taxa de juros em alta, e refaz a projeção de crescimento do PIB para apenas 2,3% este ano


postado em 21/12/2013 06:00 / atualizado em 21/12/2013 07:22

A inflação se tornou mais resistente frente ao Banco Central. Mesmo com os juros básicos (Selic) de volta aos dois dígitos – passaram de 7,25% ao ano em abril para 10% em novembro –, parece ter se tornado impossível restringir a carestia à meta de 4,5%. Pelo menos até 2015, a autoridade monetária e as famílias terão de se resignar a um dos custos de vida mais elevados do planeta e, ainda, ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), preso na banda superior do limite de tolerância. Durante divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, ontem, o BC deixou evidente a perda de força da política monetária. Para o ano que vem, mesmo com crescimento mais baixo e juros maiores, a previsão é de uma inflação de 5,6%. Em 2015, esse número cai apenas 0,2 ponto percentual, para 5,4%.


As previsões do BC caíram ainda no descrédito depois que o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, informou que a instituição trabalha com reajuste zero para a gasolina em 2014. O mercado, pelo contrário, vê como insustentável para o caixa da Petrobras passar o próximo ano sem um reajuste dos combustíveis. Como o governo faz o controle de preços da estatal, é impossível prever a correção, mas a defasagem com os valores internacionais compromete os investimentos da companhia. Hamilton informou ainda que a autoridade monetária projeta uma alta de 7,5% para a energia elétrica.

Fatura  Caso se confirme o desempenho projetado pelo BC, a presidente Dilma Rousseff chegará ao último ano de mandato com baixo crescimento e inflação resistente em um nível elevado, e o próximo governo terá ainda que pagar parte dessa fatura. “Frente a esse resultado podemos pensar que, ou os juros não servem para controlar a inflação, como alguns economistas gostam de defender, ou temos algum motivo não explícito no resultado”, criticou Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Segundo ele, o desafio do BC está nos preços administrados, que, durante este ano, ficaram represados e, em algum momento, terão de ser corrigidos.

“A confiança do mercado, em geral, reflete essa percepção de que os preços não vão ceder mesmo com esse aperto dos juros que o BC colocou em curso desde abril”, disse o economista-chefe do Rabobank Brasil, Robério Costa. Hamilton admitiu que a inflação está longe de convergir para o centro da meta, de 4,5%. “A inflação está recuando a uma velocidade baixa”, disse o diretor. Ele, porém, deixou a entender que o BC pode apertar ainda mais os juros, além dos 10,25% ao ano esperados pelo mercado em janeiro, para amenizar o custo de vida. O economista, por cinco vezes, repetiu que esse cenário pode vir a se tornar mais benigno e que o “BC está de olho na inflação”. “Não estamos jogando com a sorte”, rebateu ao ser questionado se a instituição mirava um alvo maior que o centro da meta.

O diretor ainda avaliou o desempenho da condução da política monetária como adequado, classificando o trabalho do BC como “bom”. O economista ainda criticou os reajustes salariais acima do nível de produtividade dos trabalhadores e das empresas. Segundo ele, a “inflação dos salários” está em 8,6%. “Isso é um ganho elevado em qualquer lugar do mundo”, disse.


Crescimento No documento apresentado por Hamilton, o BC ainda fez a revisão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano para 2,3%. Essa foi a terceira revisão ao longo do ano. Em setembro, a autoridade monetária apostava em uma alta de 2,5%, e, três meses antes, em um crescimento de 2,7%. Em março, no primeiro Relatório Trimestral de Inflação do ano, o BC estava ainda mais otimista para 2013: à época, apostava numa alta de 3,1%.

 

Copa e dívidas pesam

 

Brasília – Além da resistência da inflação, vai ficar mais caro ser brasileiro na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. Com a proximidade e a chegada dos maiores eventos esportivos do mundo, o custo de vida, segundo estudo feito pelo Banco Central, deve aumentar. Nos cálculos dos técnicos da instituição, o auge da elevação de preços ocorre no primeiro ano após a realização dos torneios e, seis meses depois de encerrada a competição, esse efeito se dissipa. Para o Brasil, o impacto será de um incremento de 2 pontos percentuais no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período que vai de 2007 a 2017.
Para o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, o impacto dos eventos no custo de vida não é preocupante. “Os resultados sugerem que choques decorrentes da realização de megaeventos podem ser ligeiramente inflacionários”, disse durante a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação de dezembro.

Endividados
Um dos motores do crescimento econômico, o consumo, tem dado sinais claros de esgotamento. O endividamento das famílias chegou, em outubro, a 45,38% da renda acumulada em 12 meses, valor recorde para a análise do Banco Central, iniciada em 2005. Pelas projeções da instituição, o gasto dos consumidores deve crescer 2,3% em 2013, taxa que, se confirmada, será a pior desde 2003, quando houve retração de 0,8%. Para Carlos Hamilton, o orçamento dos trabalhadores, agora, tem espaço pequeno para novas dívidas.

Alívio externo
Já a economia global começa a dar alívio. Segundo o Banco Central, o crescimento das maiores nações, no entanto, deve ocorrer em ritmo moderado e em um cenário de acomodação dos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional) e da inflação aos consumidores. Até mesmo a área do euro deve apresentar alguma recuperação. Em meio a esse cenário, a autoridade monetária estima a retomada, ainda que gradual, das exportações brasileiras.

Caixa furado
Mesmo com uma carga tributária recorde, que apenas em 2012 consumiu 35,85% das riquezas produzidas em um ano por famílias e empresas, o governo não tem conseguido fazer caixa suficiente para fechar as contas. E pior, abandonou as metas de superávit primário (economia para pagar juros da dívida). Para o Banco Central, esse quadro dificulta a missão de manter os preços dentro de um limite de tolerância e torna quase impossível atingir o objetivo de uma inflação em 4,5% ao ano, ao menos até 2015.

A sanha do governo em engordar os cofres públicos levou a carga tributária a bater recordes seguidos. Faz três anos que o peso do Estado sobre a sociedade não para de crescer. Ainda assim, o setor público enfrenta dificuldades em cumprir as metas impostas em lei de economizar uma parcela dos tributos e impostos arrecadados para pagar juros da dívida pública. Carlos Hamilton defendeu que um superávit primário ideal não existe, mas deixou claro que uma economia ao redor de 2% do PIB, como projeta o mercado financeiro, é suficiente para reduzir a dívida bruta e ajudar a autoridade monetária no controle da inflação. “Quanto mais a política monetária for apoiada pela fiscal, melhor para o combate à inflação”, argumentou.


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