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Estado de Minas TURBULÊNCIA INTERNACIONAL

Minas Gerais aprende as lições dentro de uma crise 'que ainda não acabou'

Há cinco anos, a quebra do banco Lehman Brothers deixou o mundo em pânico. Os efeitos são sentidos até hoje. No Brasil, economia desaqueceu, mas os empregos foram mantidos


postado em 15/09/2013 06:00 / atualizado em 15/09/2013 07:41

Desempregada há dois meses, Pedrina Pereira dos Santos faz biscates enquanto procura um novo trabalho, em Mateus Leme(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A. Press)
Desempregada há dois meses, Pedrina Pereira dos Santos faz biscates enquanto procura um novo trabalho, em Mateus Leme (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A. Press)
Há exatamente cinco anos, o anúncio de um banco de investimentos dos Estados Unidos caiu como uma bomba na economia mundial. A manhã de 15 de setembro de 2008 entrou para a história como o dia em que o Lehman Brothers, fundado em 1850, comunicou que pediria concordata. A decisão causou pânico em operadores do sistema financeiro nos cinco continentes, pois a empresa tinha cerca de US$ 600 bilhões em ativos em mais de 80 países. Considerada o marco do agravamento da atual recessão internacional, a derrocada do Lehman ajudou na queda de indicadores econômicos de várias regiões do globo.

Em Minas, por exemplo, a indústria ainda sente a recessão internacional. A produção do setor não retornou ao mesmo patamar de antes da quebra do banco americano. "Está 0,7% menor", calculou o economista Paulo Casaca, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). No ano da surpreendente concordata, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 5,2%, abaixo dos 6,1% apurados em 2007. O pior resultado para o indicador, porém, viria em 2009: recuo de 0,3%. Em 2010, subiu 7,5%. Depois, desacelerou em 2011 (alta de 2,7%) e em 2012 (aumento de 0,9%).

Em alusão à data, o Estado de Minas publica essa semana uma série sobre os efeitos da recessão econômica. As reportagens mostram estratégias adotadas por setores produtivos do estado para driblar as perdas e recuperar mercado. Neste domingo, pequenos e médios empreendedores de duas cidades do Centro-Oeste mineiro – Nova Serrana, pólo calçadista, e Divinópolis, cujo parque fabril responde por cerca de 20% das roupas fabricadas no estado – revelam as mudanças implantadas para resgatar o faturamento.

É bom frisar que, num contexto mais amplo, o Brasil sente menos o efeito da crise em relação ao resto do planeta. Enquanto o PIB nacional, no confronto entre o segundo trimestre de 2013 e o de 2012, cresceu 3,3%, o de alguns países da Europa ficou no vermelho: Espanha (-1,7%), Portugal (-2%), Itália (-2%) e Grécia (-4,6%). "O Brasil, relativamente às demais nações, sofreu bem menos os efeitos da crise. Vivemos uma (recessão) internacional brutal, a qual devastou o poder de compra de uma série de países", disse Rainy Workmann, professor de Economia internacional da FGV/IBS.

Representantes do primeiro escalão do Palácio do Planalto ressaltam a importância dos indicadores favoráveis ao país no momento em que o planeta ainda atravessa turbulências econômicas. Em suas andanças pelo país, por exemplo, Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, faz questão de destacar a era do pleno emprego no Brasil – o último balanço do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado há duas semanas, mostrou que a taxa de desocupação caiu de 6% em junho para 5,6% em julho.

"Eu, às vezes, penso até que o Brasil guardou distância da crise internacional. Estamos conseguindo atravessar (a recessão) mantendo o pleno emprego, mantendo uma taxa de crescimento razoável, mantendo a taxa de inflação sob controle e com as contas públicas equilibradas. Ou seja: é um verdadeiro sucesso a política econômica brasileira", disse Pimentel ao EM, na última segunda-feira, em Belo Horizonte, durante a abertura da Semana Internacional do Café.

DESEMPREGO Mas o pleno emprego não chegou a todos. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que, no acumulado de janeiro a julho, o total de demissões em 166 das 853 cidades mineiras foi maior do que o de admissões. Em Mateus Leme, na Região Central, o saldo está negativo em 130 vagas. Uma delas era ocupada por Pedrina Pereira dos Santos, de 30 anos. Na última quarta-feira, enquanto procurava emprego, ela fez uma pausa para descanso num dos bancos em frente à igreja de Santo Antônio.

Em 2008, no mesmo ano da quebra do Lehman, Pedrina e o marido trocaram Padre Paraíso, no Vale do Mucuri, pelo município próximo à capital. Vieram atrás de dias melhores. "Trabalhamos por um tempo numa fazenda. Eu fazia queijos e ele trabalhava na roça. Perdemos o trabalho há dois meses. Temos uma filha de 9 anos e, agora, vivemos de bico e do seguro desemprego. Mas as coisas estão difíceis. Cobro R$ 50 por faxina. Porém, consigo apenas cinco ou seis por mês. Se eu tivesse estudo (ela cursou até a 5ª série), talvez, as coisas fossem melhores. Vou lutar para minha filha ter um futuro melhor".

Razões da quebra do Lehman Brothers

Para entender o pedido de concordata da instituição financeira, é preciso esclarecer a derrocada do mercado conhecido como subprime. Aproveitando os juros baixos nos Estados Unidos, na primeira metade da década passada, bancos começaram a emprestar dinheiro para os clientes subprime, aqueles com baixa renda ou até mesmo com perfil de inadimplência. Tais clientes usavam o empréstimo para comprar imóveis. O Lehman Brothers havia investido pesado no mercado subprime (crédito imobiliário de alto risco). Ocorre que o preço dos imóveis começou a cair e os juros, subirem. Muitos compradores não conseguiram honrar os compromissos e a inadimplência avançou a passos largos na maior economia do planeta. Houve o estouro da bolha imobiliária, com o calote causando danos graves à economia da terra do Tio Sam e provocando a derrocada do quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos.

Medidas para formentar o pib

Ao longo dos últimos anos, o governo brasileiro adotou uma série de medidas para estimular a economia, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a chamada linha branca – geladeira, fogões, máquina de lavar, entre outros produtos – e para os automóveis. A redução de tributos também teve como missão fomentar o consumo. A expansão do crédito, contudo, engessou o orçamento de várias famílias nos últimos meses.


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