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Estado de Minas

Para aliviar o bolso, consumidores aprendem serviços

Preços dos serviços sobem bem acima do IPCA no país e começam a afastar os clientes, que aprendem a cozinhar, a se maquiar e até cortar os cabelos. Vale tudo para diminuir despesas


postado em 21/07/2013 06:00 / atualizado em 21/07/2013 09:17

Faz de tudo: Ana Cláudia Santana deixa de gastar R$ 500 por mês nos salões de beleza(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Faz de tudo: Ana Cláudia Santana deixa de gastar R$ 500 por mês nos salões de beleza (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Frequentadora assídua de salões de beleza, a bacharel em direito Ana Cláudia Santana optou por reduzir os gastos com os serviços depois de notar  alta generalizada dos preços. Para começar a cortar os custos, resolveu dispensar a manicure e pintar as próprias unhas. Depois, aprendeu a se maquiar, fazer a sobrancelha, cortar e hidratar os cabelos. Hoje, também corta o cabelo da mãe e do pai e vai ao salão apenas para pintar as unhas do pé. “Tinha cadeira cativa no salão, mas tive que aprender a fazer tudo em casa e, hoje, economizo R$ 500 por mês”, diz.

Em 2011, Ana Cláudia pagava R$ 80 para cortar o cabelo, custo que subiu a R$ 120 neste ano. O aumento no período foi de 33%,  quase cinco vezes acima da inflação oficial no país, de 6,70% nos últimos 12 meses até junho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O indicador é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta, que também foi sentida em outros serviços, levou a família a assumir outras tarefas. “Aqui em casa cada um lava seu próprio carro. Temos diarista uma vez por semana e nos outros dias nós mantemos a casa organizada”, garante.

Termômetro da economia, os serviços têm grande impacto no orçamento das famílias e, consequentemente, nos negócios dos brasileiros. Do último trimestre de 2012 para o primeiro deste ano despencou a taxa de crescimento do setor, de acordo com  pesquisa do IBGE. A expansão foi de 0,5%, metade do índice apurado no fim do ano passado e pior desempenho para o período desde 2005.

Outro indicador desfavorável, a geração de empregos formais nas empresas prestadoras de serviços desabou na última medição do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. De abril para maio, o saldo do emprego, ou seja, a diferença entre contratações e demissões, caiu de 79 mil para 24 mil. A queda alcança quase 70%. Desde o começo do ano, os resultados mensais do emprego foram inferiores aos de 2012. No acumulado dos primeiros cinco meses, ainda com base nos últimos dados disponíveis do Ministério do Trabalho, as contratações diminuíram 28%, descontadas as dispensas.

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Exageros

Os serviços têm respondido pela maior parte das pressões inflacionárias no Brasil. No primeiro semestre, o setor aplicou aumentos acima da média. O preço médio da depilação, por exemplo, subiu 13,1% de janeiro a junho, representando quatro vezes mais que a alta geral do IPCA, de 3,10%.

Registraram, ainda, aumentos sem justificativa os serviços de  psicólogo (7,46%), cursos diversos (6,92%), tratamento de animais (6,82%) e fisioterapeutas (6,33%). Completam a lista dos itens que mais ajustaram a tabela serviços médicos e dentários (6,27%) e manicure (6,11%). Não bastasse, ficou mais caro comer em restaurantes (5,32%) e contratar mão de obra para a reforma da casa (5,04%).

Cursos que ensinam a prática de alguns desses serviços despontam como alternativa para driblar a alta dos preços. Há três anos, a chef de cozinha Laura Tomás identificou a demanda e tem ministrado aulas ao preço de R$ 90 para aprimorar técnicas na cozinha. “Hoje, as pessoas estão interessadas em fazer a própria comida, reunir amigos e, assim, economizar”, afirma. Nos cursos, Laura ensina como preparar um jantar completo com entrada, prato principal e sobremesa.

 Bruna Fernanda Campos Alves e Patrícia Barros Fonseca já percebem o efeito do curso ao preparar pratos para a família e amigos que custam um terço do preço nos restaurantes(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Bruna Fernanda Campos Alves e Patrícia Barros Fonseca já percebem o efeito do curso ao preparar pratos para a família e amigos que custam um terço do preço nos restaurantes (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Entre as alunas, estão as advogadas e cunhadas Bruna Fernanda Campos Alves e Patrícia Barros Fonseca, que já percebem o efeito do curso ao preparar pratos para a família e amigos que custam um terço do preço que pagariam em um restaurante. “A gastronomia acaba virando um hobby, que faz com que as saídas diminuam”, conta Bruna Além de aplicar os conhecimentos para os encontros entre amigos, Patrícia, que está com o casamento marcado para o ano que vem, pretende usá-los no dia a dia e ficar menos dependente dos restaurantes.

'Vacas magras' ameaçam empregos

Patrões que ainda não começaram a demitir estão congelando vagas ou encontrando outras formas de reduzir despesas e encarar um período de “vacas magras” sem prazo para acabar. “O cenário preocupa porque o setor de serviços, como grande empregador, é o principal pilar que sustenta o desemprego baixo no Brasil”, alerta Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank.

Caso essa capacidade de geração de postos de trabalho não esboce reação, a economia brasileira, já baqueada pelo baixo crescimento e pela inflação alta, terá de conviver como agravante da volta do desemprego a níveis mais elevados, justamente por conta do arrocho no principal setor da atividade econômica. “Seria o pior dos mundos”, adianta Serrano.

Os empresários estão diante de um dilema.O endividamento recorde das famílias—de65,2%, segundo último levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC)—acabou afugentando clientes como há muito não se via.Com menos consumidores ativos e total de despesas em franca ascensão, a estratégia para manter o negócio sustentável financeiramente tem passado pelo ajuste das tabelas e dos próprios serviços.

Sócio-proprietário da Barbearia Conde de Linhares, que está há 65 anos no ramo, Cleber Estevam Gomes reajusta os preços anualmente e diz que leva em conta os custos para manter as portas abertas, mas que não repassa tudo ao cliente para não perdê-lo. “Prefiro trabalhar mais e ganhar no volume”, explica. Para segurar a clientela depois de um aumento de 9,5% nos preços do corte de cabelo, que passou de R$ 21 no ano passado para R$ 23 neste ano, ele conta que também tem investido em novos serviços.“ Como algumas pessoas já estão cortando cabelo em casa para economizar, eu ofereço o acabamento por R$ 8 para acertar a nuca, costeleta. Me adaptei às mudanças do mercado”, garante.

Heleno Marta Júnior, proprietário de uma das franquias do salão Socila, explica que os reajustes de preços podem ser justificados pelo nível de exigência dos clientes, que querem uma mão de obra mais qualificada. “Os profissionais têm que se especializar cada vez mais, e isso tem um custo, tornando a prestação de serviços mais cara”, diz. De 2012 para cá, os preços do serviço de escova subiram50%, em média, passando de R$ 20 para R$ 30, e os serviços de manicure, incluindo a pintura de pé e mão, ficaram25% mais caros, passando de R$ 20 para R$ 25.

Preços dos serviços sobem bem acima do IPCA no país. Graziele Lopes, proprietária de petshop percebeu que os clientes sumiram(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Preços dos serviços sobem bem acima do IPCA no país. Graziele Lopes, proprietária de petshop percebeu que os clientes sumiram (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Os cuidados com animais, como os oferecidos por pet shops, seguiram a mesma tendência de alta. No entanto, neste ano, os empreendedores já sentem o distanciamento de alguns clientes. Na rede de salões Dog’s Shop, o reajuste anual tem ficado acima da inflação oficial no país. Em 2011, a tosa custava R$ 40, em 2012 subiu para R$ 45 e este ano chegou a R$50. A veterinária e empresária Graziele Lopes Capelo conta que a alta nos preços chega a atrapalhar o movimento. “Alguns clientes vêm com menos frequência e vão revezando o banho no salão e em casa”, conta. (CM, DA e FM)


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