O pessimismo tomou conta do mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa), que recuou 19,06% no ano, pode cair ainda mais com a proximidade das férias de verão no hemisfério norte. Estudo do Bank of America Merrill Lynch (BofA) afirma que o mundo entrou na fase em que o investidor dos Estados Unidos aproveita para sacar lucros e operadores folgam.
Pelos cálculos da instituição, com base em dados que começam em 1928, de novembro a abril as bolsas norte-americanas apresentam alta média de 4,98%. De maio a outubro, o ritmo é bem menor, 1,83%. Para o Brasil, se esse cenário se confirmar, somado à fuga de capitais que já aflige o país, pode significar a redução expressiva de investimento em ações e a continuidade das perdas para a BMF&Bovespa.
Apesar de a pesquisa ser baseada em dados dos EUA, o Brasil não consegue se isolar do desempenho de outras praças, sobretudo das norte-americanas, que são referências importantes. Para alguns, a tese levantada na pesquisa do BofA é só uma lenda e o cenário desenhado pode não se confirmar. Coincidência ou não, desde maio o país deixou um dos preferidos do capital estrangeiro.
A explicação para esse movimento, ao menos em parte, está na recuperação da maior economia do planeta e na possibilidade de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), retire estímulos criados para acabar com a crise. “Isso fez com que as bolsas caíssem lá fora e os investidores embolsassem ganhos”, observa Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
“Há um crescente mau humor no mercado internacional, e até mesmo no doméstico, em relação ao Brasil. Isso tira o ímpeto de aplicar recursos aqui”, acrescenta Neto. Para os analistas, diante de todo esse quadro, a bolsa brasileira pode cair aos 48 mil pontos. Segundo os mais pessimistas, o piso está na marca dos 45 mil pontos.
NOTA DE RISCO Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lembra que a situação do Brasil se agravou depois que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s acenou para a possibilidade de rebaixar a nota do país, caso o governo não coloque as contas públicas em ordem. Essa é uma avaliação observada pelos investidores antes de decidir onde colocar o seu dinheiro. Quanto melhor a classificação, mais capital a região atrai.
“O governo deteriorou muito as contas públicas”, lamenta. Neto, da Tendências, faz análise semelhante. “O mercado já não compra mais o discurso do governo, de austeridade fiscal”, argumenta.
Para Agostini, a tendência, no curto prazo, é de fuga de capitais. Segundo dados do Banco Central, o movimento de fluxo cambial mostra uma saída, pelo mercado financeiro, de US$ 5,2 bilhões no ano. Em igual período do ano passado, essa conta era positiva em US$ 2,6 bilhões. “A bolsa brasileira tem apanhado há algum tempo e isso se intensificou com a desconfiança sobre a solidez das contas públicas”, afirma.
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