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Estado de Minas

Lojas fecham as portas no Prado

Perdas nos negócios chegam a 60% nos últimos 12 meses. Concorrência chinesa seria responsável pela queda nas vendas


postado em 19/07/2012 06:00 / atualizado em 19/07/2012 08:48

(foto: Simone Guedes)
(foto: Simone Guedes)

 

Um dos principais polos de moda de Minas Gerais, o Bairro Prado, na Região Oeste de Belo Horizonte, sente os efeitos da avalanche de roupas e acessórios chineses no Brasil. Desde 2011, mais de uma dezena de lojas fecharam as portas. E várias outras colocaram faixas na fachada anunciando a venda do ponto ou a liquidação do estoque. Há empresa que lamenta, nos últimos 12 meses, perda de 60% no volume de negócios devido à invasão das mercadorias asiáticas, produzidas a um custo muito mais baixo do que as nacionais em razão das grandes diferenças de encargos trabalhistas e tributários entre os dois países.

As entidades que representam o setor na região e na capital não têm estatísticas da quantidade de empresários “lesados” pela importação de vestuários e acessórios chineses, mas quem visita as ruas Brumadinho, Cuiabá e adjacências, verá que nem o tradicional bairro, frequentado por sacoleiras de todo estado, escapou do tigre asiático. “A indústria daqui não está conseguindo acompanhar a de lá. Temos cargas tributárias muito maiores. E a mão de obra da China é bem mais barata”, disse Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH).

“Antigamente se podia falar de má qualidade dos produtos da China. Hoje, eles conseguem colocar em outros países mercadorias de boa qualidade a preços extremamente baixos”, lamentou Gustavo Oliveira, dono da Ego, há 12 anos no ramo de moda feminina. A empresa dele é uma que deve fechar as portas em breve, conforme a faixa que anuncia a venda do ponto. “Não dá mais”, desabafou o empresário, dono de confecção e de loja.

Há 25 anos no ramo, a sacoleira Stael de Miranda lamenta o fechamento das lojas no Prado
Há 25 anos no ramo, a sacoleira Stael de Miranda lamenta o fechamento das lojas no Prado

Gustavo faz questão de contar, na prática, como parte do setor perde a competição para os importados: “Imagine uma cliente minha, que é uma pequena lojista no interior da Bahia. Ela vinha aqui e comprava parte de meus produtos para revender lá. Porém, uma grande rede chegou à cidade dela, oferecendo vestuário (da China) a preço bem mais baixo e para ser quitada em 10 parcelas. Resultado: a comerciante baiana não consegue vender a roupa que comprou na minha loja. E em consequência, nem eu consigo mais vender. Com isso, tive prejuízo grande com a inadimplência. A fonte disso é o produto chinês”, explica.

Problema semelhante enfrenta a Lolita Acessórios, na Rua Cuiabá, onde uma faixa oferece a liquidação do estoque. “Depois de três anos, devemos fechar o imóvel em agosto. Nos últimos 12 meses, para se ter ideia, as vendas caíram cerca de 60%”, calcula Carla Marçal, vendedora no local. A patroa dela, segundo a própria funcionária, planeja montar uma loja virtual com o estoque que não for negociado até lá. “Não dá para competir com os asiáticos”, conclui Carla, enquanto atende a sacoleira Stael de Miranda, que aproveita a conversa para lamentar o fechamento de várias lojas.

“Em 2011, pelo menos quatro lojas, em que eu comprava para revender, fecharam as portas. Em 2012, acho que são mais três. Estou nesse ramo há 25 anos. Se as coisas continuarem assim, acredito que terei de ir fazer compras em São Paulo ou Petrópolis (RJ)”, afirmou Stael. A derrocada na venda de alguns empreendimentos, porém, também se deve a outros fatores. Por ironia, um deles é a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de alguns setores, como a linha branca e veículos e cuja estratégia foi usada pelo governo federal para alavancar a venda desses segmentos.
Em vários locais do bairro é possível encontrar lojas de vestuário fechadas e placas de aluguel
Em vários locais do bairro é possível encontrar lojas de vestuário fechadas e placas de aluguel

Interferências Ocorre que o aumento das vendas dos segmentos beneficiados com a redução de impostos interfere nos negócios do vestuário. Rogério Ventura Araújo, diretor da Associação dos Consultores em Negócios de Moda (ACNM), explica que parte da população, aproveitando a queda no IPI, compra eletrodomésticos da linha branca ou troca de veículos, pagando esses produtos em parcelas. Dessa forma, parte do salário fica comprometido com o financiamento.

A alta do preço médio dos aluguéis na região foi outro entrave ao desenvolvimento de algumas empresas no Bairro Prado. “Eu pagava R$ 1 mil há cinco anos. Hoje desembolso R$ 5 mil”, ilustrou o dono da Ego, Gustavo Oliveira, cuja loja fica na Rua Turfa, em frente à imobiliadora de Antônio Secundino. “Em média, nos últimos três anos, o aluguel no Prado subiu de 300% a 350%. A explicação é a demanda. Veja: o Prado é o único bairro no entorno da Avenida do Contorno em que não há um aglomerado.”


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