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Estado de Minas

Brasil tem espaço para novas fontes de água mineral

Risco de escassez abre perspectiva para produção de águas mineralizadas, com sabor e até vitaminas


postado em 03/06/2012 07:35 / atualizado em 03/06/2012 07:36


Mesmo ainda longe de se configurar como commodity, produto de cotação internacional, a água reciclada já é um bom negócio para a indústria, se for considerado que os volumes comprados da rede pública são de uso múltiplos desde o mais nobre consumo humano ao mais vulgar. Por outro lado, as preocupações com escassez e confiabilidade da água pressionam a demanda e levam ao surgimento de águas alternativas com sede de beber na mesma fonte do mercado mineral.
Muitos desses engarrafados foram forçados na Justiça a mudar o marketing. Primeiro foram as chamadas águas “mineralizadas”, com adição de sais. Depois foram as com sabor, que acabaram sendo classificadas como refrigerantes. E ainda estão tentando criar uma terceira categoria nesse grupo, as chamadas águas vitaminadas. Parte desse movimento também se explica como migração estratégica dentro do universo das bebidas com uma maior preocupação com os hábitos saudáveis.

Toda a atividade econômica depende de água, umas mais, outras menos, e o Brasil já aproveita desse diferencial global na agricultura, como maior produtor de alimentos, e na eletricidade, com mais da metade da geração sendo hidráulica, conferindo uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta. “O Brasil comemora a riqueza do pré-sal sem se dar conta de que sua água pode ser ainda mais estratégica no futuro”, afirma Carlos Alberto Lancia, da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam).

Consolidar o crescimento no mercado interno é também, segundo Lancia, a fórmula para conquistar outros mercados no exterior. Desde 2007 o setor se expande a um ritmo anual em torno de 10%, puxado pelas classes A e B. Ainda assim, o consumo anual per capita do brasileiro é considerado acanhado, de 45 litros, ante os 120 do europeu.

Folga Lancia salienta ainda a folga com as outorgas existentes para um salto na produção doméstica: o país engarrafa atualmente 8 bilhões de litros anuais de água mineral, enquanto suas fontes têm capacidade de fornecer o triplo desse volume sem riscos de afetar o equilíbrio de reposição natural dos aquíferos. Como as águas são livres de agentes biológicos e com produção totalmente fiscalizada, as regras seguidas pelo setor são iguais às da agricultura orgânica, sem insumos artificiais.

Uma realidade distinta no mercado interno revelaria, por exemplo, que as águas minerais brasileiras poderiam competir com famosas marcas europeias, considerando que são, na média, mais leves e menos salgadas que as do velho continente. “Temos o leque completo, com amostras das mais puras e saborosas do planeta, algumas até desconhecidas do grande público. Minas Gerais, por exemplo, concentra a melhor oferta mundial de águas com propriedades terapêuticas”, ilustra o geólogo.

Além da torneira

O professor da Universidade de Campinas (Unicamp) Ademar Romeiro ressalta a existência de custos indiretos no consumo de água fornecida pelo serviço de abastecimento, se forem considerados seus efeitos nocivos à saúde da população. Ele duvida que a água mineral venha a ficar mais barata que a da torneira. Contudo, em lugares como a capital paulista a qualidade dos volumes captados na principal fonte (represa Guarapiranga, no caso) é ruim apesar dos enormes gastos com tratamento.

Segundo o especialista em recursos hídricos, isso decorre, em primeiro lugar, em razão dos próprios produtos químicos usados e, depois, porque nem sempre se atinge a dose certa de agentes para evitar proliferação de algas tóxicas, que passam facilmente pelo sistemas de filtros, podendo até matar pessoas debilitadas. “Se despesas em tratamento de saúde decorrentes dos malefícios da água de rede pública fossem contabilizadas, seu preço se tornaria provavelmente superior ao da água mineral”, ressalta.

Pouco mais da metade da população não está ligada a qualquer rede de esgoto e só um terço dos esgotos é tratado. Apesar disso, o consumo de desinfetantes usados pelas companhias de saneamento vem subindo a taxas anuais de 2% a 4,5%, chegando em 2011 a 43 milhões de toneladas só de cloro, que concorre com processos como radiação ultravioleta e ozônio. “O cloro é mais eficiente na eliminação de micro-organismos nocivos à saúde, porque desinfeta a água até a torneira do usuário”, ressalta Aníbal do Vale, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor).

Aquífero estratégico O Brasil é o principal acionista da maior reserva subterrânea de água doce do mundo, dividida com Argentina, Paraguai e Uruguai, sendo boa parte dela já explorada. O estoque de água do chamado Aquífero Guarani equivale a um quinto de todos os conhecidos hoje, com volume suficiente para abastecer 2,8 bilhões de habitantes regularmente, dentro dos padrões de consumo recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Formado entre camadas de rochas arenosas, 71% do aquífero está em território brasileiro. Em São Paulo, 80% dos municípios dependem dessa fonte para atender 5,5 milhões de habitantes.


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