STF

Redes sociais sob pressão: plataformas poderão pagar por conteúdo ilegal

Veja como a nova responsabilidade pode mudar a forma como usamos X, Instagram, Facebook e TikTok no Brasil

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O uso que fazemos das redes sociais no Brasil pode mudar drasticamente. Com a maioria dos votos já formada no Supremo Tribunal Federal (STF), as plataformas digitais como X (antigo Twitter), Facebook, Instagram e TikTok poderão ser responsabilizadas por conteúdos ilegais publicados por seus usuários. 

A decisão, que altera a interpretação de um dos pilares do Marco Civil da Internet, abre caminho para uma nova era de responsabilização e também de tensão entre liberdade de expressão e dever de controle.

O julgamento, ainda em curso, tem como ponto central a derrubada da exigência de decisão judicial para a retirada de publicações ilegais. Na prática, isso significa que, se uma plataforma for notificada por uma vítima e não remover o conteúdo prontamente, poderá ser processada e até ter que indenizar o ofendido. Com o placar em 6 a 1 a favor da mudança, a decisão do STF já é considerada um marco no debate sobre o papel das redes sociais na sociedade brasileira.

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O que está em jogo: liberdade ou responsabilização?

O Marco Civil da Internet, em vigor desde 2014, foi criado para garantir os direitos dos usuários e estabelecer deveres das empresas. Entre eles, está a regra que determina que plataformas só podem ser responsabilizadas por conteúdo de terceiros após decisão judicial. 

Essa proteção, no entanto, começou a ser questionada diante do crescimento de crimes digitais, como discurso de ódio, ameaças, ataques à honra e disseminação de desinformação.

A nova interpretação do STF altera esse cenário. Para a maioria dos ministros, a regra atual já não acompanha a realidade das redes, onde a viralização de conteúdos ofensivos ou criminosos pode causar danos irreversíveis em pouco tempo. 

Com isso, as plataformas terão que agir com mais rapidez e critério, sob pena de responder legalmente caso não removam conteúdo considerado ilegal após notificação da parte prejudicada.

O que muda para os usuários e as plataformas

Se a decisão do STF for confirmada nos próximos dias, o impacto será direto tanto para quem usa as redes quanto para quem as administra. O primeiro efeito é o aumento da responsabilidade das empresas de tecnologia, que vão ter que criar mecanismos mais ágeis e eficazes de moderação de conteúdo. Isso inclui, por exemplo, canais de denúncia mais transparentes, respostas em menor tempo e equipes capacitadas para avaliar se uma publicação infringe a lei.

Já para os usuários, a mudança representa um novo tipo de vigilância: conteúdos que hoje circulam com base na impunidade digital poderão ser removidos com maior facilidade. Comentários ofensivos, imagens íntimas vazadas, notícias falsas sobre terceiros e outros conteúdos com potencial lesivo poderão ser alvos de remoção imediata, mesmo sem decisão de um juiz. A dinâmica da postagem e da punição tende a ser mais rápida.

A reação no Congresso

A decisão provocou reações distintas entre os parlamentares. Deputados da oposição classificaram a medida como uma invasão de competência do Legislativo. Para eles, cabe ao Congresso Nacional legislar sobre o tema, especialmente por meio do Projeto de Lei 2630/20, conhecido como PL das Fake News, que propõe uma regulação mais detalhada das redes sociais e da circulação de informações.

Já os deputados da base do governo e partidos progressistas defenderam o posicionamento do STF. A avaliação é de que, diante da inércia do Congresso em aprovar uma nova legislação, o Supremo apenas respondeu a uma necessidade urgente da sociedade. O argumento é que crimes digitais não podem mais se beneficiar da lentidão do sistema judicial e da negligência das plataformas em coibir abusos.

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A polarização do debate ficou evidente na Câmara, mas o atual modelo jurídico da internet brasileira está em xeque Freepik

Como será feita a moderação?

Um dos maiores desafios da decisão é definir os critérios para o que será considerado “conteúdo ilegal” e como será feita essa triagem pelas plataformas. Em tese, o que for enquadrado como crime no Código Penal ou em outras legislações específicas, como calúnia, injúria, difamação, racismo, violência contra a mulher, entre outros, deverá ser removido após a notificação da vítima.

O problema está nos casos mais subjetivos ou nas disputas sobre o que é ou não ofensivo. A falta de uma padronização pode levar a decisões arbitrárias e a conflitos judiciais posteriores. 

Por isso, empresas como Meta, Google e TikTok devem investir em ferramentas de inteligência artificial combinadas com moderação humana para evitar erros e garantir a imparcialidade do processo.

Além disso, vai aumentar a pressão por mais transparência. Os usuários deverão ser informados sobre os motivos da remoção, seus direitos de contestação e os canais disponíveis para defesa. O risco de judicialização em massa preocupa tanto as plataformas quanto o sistema judiciário.

A responsabilidade civil e o impacto econômico

A nova interpretação do STF não trata apenas da remoção de conteúdo, mas também da possibilidade de indenizações. Se uma postagem causar dano comprovado a uma pessoa ou instituição e não for retirada em tempo hábil, a plataforma poderá ser condenada a pagar reparação financeira.

Isso abre um novo campo de riscos jurídicos para as empresas de tecnologia e plataformas digitais, que hoje lucram com o engajamento gerado nas redes. Algumas delas poderão rever suas políticas de uso, restringir funcionalidades, aumentar os termos de conduta e até alterar os algoritmos de recomendação para reduzir a circulação de conteúdos sensíveis.

Também há impactos econômicos indiretos. Influenciadores, criadores de conteúdo e pequenos negócios que usam as redes como vitrine poderão ter postagens limitadas ou removidas em caso de denúncias. A relação entre liberdade de criação e limites legais passará a ser permanentemente monitorada.

Apesar de já haver maioria no STF, o julgamento ainda não foi encerrado. Novos votos podem trazer ajustes no entendimento, especialmente no que diz respeito às exceções e às formas de notificação. Além disso, o Congresso pode tentar aprovar novas leis para reequilibrar o jogo, como uma regulamentação mais detalhada sobre responsabilidade digital, liberdade de expressão e proteção de dados.

O Brasil caminha para um novo regime de convivência on-line, onde a liberdade de expressão continua garantida, mas agora, com consequências reais para o que se diz, compartilha ou omite. A responsabilidade não será mais apenas de quem publica, mas também de quem lucra com a circulação de conteúdo.

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