Vacina de herpes-zóster pode reduzir risco de demência em 20%
Pesquisas com idosos galeses indicam que a imunização contra herpes-zóster pode reduzir o risco de demência e, em alguns casos, retardar a progressão da doença
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Uma política de vacinação adotada no País de Gales forneceu novas evidências de que a imunização contra o herpes-zóster pode reduzir o risco de demência. Em estudo conduzido pela Stanford Medicine, pesquisadores analisaram registros de saúde de mais de 280 mil idosos galeses e observaram que pessoas vacinadas, com o vírus atenuado, apresentaram probabilidade 20% menor de desenvolver a doença nos sete anos seguintes, em comparação com não vacinados.
O resultado, publicado em 2 de abril na revista “Nature”, reforça a hipótese de que vírus capazes de afetar o sistema nervoso podem desempenhar papel no desenvolvimento de quadros demenciais.
Um estudo complementar, com publicação na terça-feira (2/12) na revista “Cell", indica que a vacinação pode também trazer benefícios para pessoas já diagnosticadas, retardando a progressão da condição. A possibilidade de intervenção preventiva amplia o interesse na relação entre infecções virais e alterações neurológicas.
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Envelhecimento e suscetibilidade ao herpes-zóster
A partir dos 50 anos, o sistema imunológico passa por um processo de declínio natural, a imunossenescência, que reduz a capacidade de resposta a agentes infecciosos. “A partir dos 50 anos, a capacidade de combater vírus e bactérias é reduzida, tornando os adultos mais vulneráveis a doenças graves”, alerta a geriatra e clínica geral Maisa Kairalla, médica do núcleo de Geriatria do Hospital Sírio Libanês e presidente da comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Entre as doenças que ganham espaço nesse contexto está o herpes-zóster, ou “cobreiro”, resultado da reativação do vírus varicela-zoster, o mesmo que causa a catapora. O vírus permanece inativo no sistema nervoso e pode voltar a se manifestar anos após a infecção inicial, especialmente em pessoas mais velhas ou com imunidade comprometida - nos casos de portadores de doenças crônicas (hipertensão, diabetes), câncer, Aids, transplantados e outras.
"Adultos com doenças crônicas pulmonares, cardiovasculares e diabetes precisam ter uma visão ampla sobre sua imunidade. O envelhecimento natural e essas comorbidades enfraquecem as defesas do organismo”, reforça.
A enfermidade provoca dor intensa e pode gerar complicações. A principal delas é a neuralgia pós-herpética, caracterizada por dor persistente por mais de 90 dias, após o desaparecimento das lesões, podendo se estender por anos.
Os sintomas gerais incluem:
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Lesões cutâneas dolorosas que acompanham o trajeto dos nervos, geralmente no tórax, rosto ou região cervical
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Formigamento
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Sensação de queimação
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Febre que dura de 2 a 3 dias
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Mal-estar
O tratamento dura entre 10 a 14 dias. Mesmo sem tratamento, as pessoas podem evoluir para a cura, mas o tratamento adequado reduz o risco de complicações, como a dor prolongada característica da doença.
Situação no Brasil
No Brasil, o número de internações por herpes-zóster vem crescendo de forma contínua. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) registraram 2.037 internações em 2022, 2.284 em 2023 e 2.654 em 2024. Estima-se que mais de 90% da população adulta já tenha tido contato com o vírus.
Um estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (MG) a partir de dados do SUS no período de março a agosto de 2017 a 2019, com o mesmo período de 2020, nas cinco regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste), apontou um aumento de mais de 35% nos casos comparando o período de pandemia com o intervalo pré-pandêmico. As causas desse crescimento ainda são tema de investigação.
Atenção e orientação
Um episódio na capital mineira ilustra a importância da orientação adequada dentro da escalada de diagnósticos e internações. Adriana Bordalo procurou uma farmácia em busca de uma pomada para queimadura, sem saber que apresentava sinais de herpes-zóster.
A farmacêutica Rayanne de Souza identificou características compatíveis com a doença e recomendou que Adriana retornasse ao médico, que confirmou o diagnóstico. O caso demonstra como o reconhecimento precoce pode influenciar o percurso de cuidado.
Segundo Isabel Dias, gerente técnica da Drogaria Araujo, a imunização permanece como principal forma de prevenir a reativação do vírus, especialmente para pessoas com doenças crônicas ou com menor capacidade de resposta imunológica.
Atualmente, a vacina contra o herpes-zóster está disponível apenas na rede privada. O preço da vacina contra herpes-zóster depende do tipo de imunizante e da clínica ou farmácia onde é aplicada. O preço de uma dose da vacina varia entre R$ 850 e R$ 1 mil, em média. O esquema vacinal completo requer duas doses, aplicadas com intervalo de dois a seis meses, o que eleva o custo total da imunização para algo entre R$ 1,7 mil e R$ 2 mil.
A indicação vale para adultos a partir de 50 anos e, mediante prescrição médica, para maiores de 18 anos com comorbidades.
Este ano o Ministério da Saúde, solicitou à Conitec, a avaliação da incorporação, ao SUS, da vacina recombinante adjuvada para prevenção do herpes-zóster em idosos com idade maior ou igual a 80 anos e indivíduos imunocomprometidos com idade maior ou igual a 18 anos. Houve abertura de Consulta Pública nos meses de maio e junho - com mais de 200 participações, e posteriormente setembro e outubro.
Em sua análise, a Conitec considerou que a vacina é segura, mas que o imunizante é considerado não custo-efetivo. O tema foi discutido novamente durante a 24ª Reunião Extraordinária da Comissão, realizada dia 15 de agosto. Na ocasião, o Comitê de Medicamentos reconheceu a importância da vacina para a prevenção do herpes-zóster, mas destacou que "considerações adicionais sobre a oferta de preço precisam ser negociadas, de modo a alcançar um valor com impacto orçamentário sustentável para o SUS".
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