EMAGRECER

Perder muito peso pode trazer mudanças na personalidade; entenda

Saiba o que pode acontecer com o comportamento de pessoas que perdem muito peso, como pacientes de cirurgia bariátrica e usuários de canetas emagrecedoras

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Nos últimos anos, entraram em evidência diversos casos de celebridades e pessoas comuns que vêm emagrecendo de forma significativa com o avanço dos recursos médicos para combate à obesidade. Junto com esses casos, aumentam nos consultórios relatos de transformações profundas que vão muito além do corpo. Alterações no humor, irritabilidade, impulsividade, compulsões que surgem ou migram para outros hábitos, autoestima que se reinventa. Assim, surge uma pergunta que tem ganhado força: emagrecer pode mudar a personalidade?

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Segundo a nutróloga e psiquiatra Angela Vianello, a resposta não é simples, nem única. "Medidas médicas que provocam o emagrecimento não mudam quem a pessoa é, elas alteram o modo como o corpo lida com emoções, fome e prazer. Quando isso acontece, o comportamento pode se reorganizar. Às vezes, para melhor. Outras vezes, com novos desafios", afirma.

Ela explica que, para compreender o fenômeno, é preciso entender que comer não é apenas nutrição - é memória, conforto, recompensa. Muitas pessoas desenvolvem, desde a infância, uma relação emocional com a comida: o doce que acalma o choro, o prato cheio que substitui abraço, o alimento como forma de ser amado.

"Quando alguém passa a vida se regulando emocionalmente pela comida, e de repente a comida deixa de ser opção, como ocorre após a bariátrica e com a redução da fome por meio de medicamentos, o cérebro vai procurar outro meio para gerar alívio e prazer," pontua.

O que era compensado com comida pode migrar para outros comportamentos. É aí que surgem relatos de aumento de consumo de álcool, compras impulsivas, compulsão por alimentos açucarados, uso de jogos e substâncias ou até explosões emocionais.

Dimensão do problema e o risco de troca de compulsões

Pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica revela que o Brasil realizou cerca de 290 mil cirurgias bariátricas nos últimos cinco anos - um procedimento que tem o potencial de gerar perda entre 50% e 80% do excesso de peso corporal nos dois primeiros anos.

Já no caso dos medicamentos análogos do GLP1, as chamadas canetas emagrecedoras, que podem gerar perda de até 20% do peso corporal total, há relatórios internacionais que indicam que as vendas atingiram 38,5 bilhões de dólares em 2024 e podem quadruplicar em menos de dez anos.

Esses números são evidências de que há uma população crescente que deve se atentar às questões de saúde mental relacionadas à luta contra a obesidade.

A médica alerta que as substituições emocionais ou até o surgimento de compulsões e vícios não são sinais de fraqueza, são um fenômeno químico que pode ocorrer no organismo. Após a cirurgia bariátrica, por exemplo, a capacidade do estômago diminui e parte das rotas hormonais ligadas à fome e à saciedade se alteram. A dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de recompensa, busca novos caminhos para proporcionar ao corpo alívio, estímulo e prazer.

"Muitos pacientes relatam que nunca foram de beber, mas passam a consumir muito álcool. Nunca compraram demais, mas começam a gastar. Não é que viraram outra pessoa, é que perderam o primeiro canal de compensação emocional e inconsciente," ressalta. “Isso pode ser temporário e adaptativo ou se transformar em problema se não houver suporte psicológico.”

Angela chama a atenção para entendermos que, além da química, existe a dimensão simbólica, pois, para algumas pessoas, o corpo grande servia como armadura, presença e uma forma de ser visto.

"Há quem inconscientemente associe o tamanho do corpo a respeito, proteção e poder. Quando emagrece, perde não só peso, mas também uma linguagem de comunicação com o mundo", afirma.

Sem essa presença física que sustentava a segurança, pode surgir a necessidade de outra forma de afirmação: falar mais alto, ser mais impositivo, confrontar. A mudança que de fora parece arrogância pode, por dentro, ser apenas defesa.

Essa transformação pode ser positiva

A especialista defende que as histórias pós perda de peso têm forte potencial de serem positivas. Para isso, é fundamental que o emagrecimento não ocorra de forma isolada (apenas com a cirurgia ou com medicamentos). Acompanhamento multidisciplinar pode fazer uma grande diferença no desfecho do paciente: terapia, suporte médico contínuo, avaliação hormonal, acompanhamento nutricional e atividades físicas reduzem a ocorrência de recaídas e favorecem uma mudança sustentável e saudável.

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“A transformação no corpo possibilita que a pessoa retome atividades, reveja relacionamentos, aumente a autoestima, melhore a mobilidade, incremente a vida social e os planos. Existe uma grande chance de, sem a barreira do corpo adoecido e da comida usada de forma exagerada, a pessoa descobrir quem ela sempre foi, mas estava escondida por trás de um sofrimento específico, que dificultava a auto expressão e criava barreiras físicas e psicológicas.”

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