O Brasil está envelhecendo, e rápido. Em apenas 12 anos, o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4%, segundo o IBGE. Hoje, elas representam mais de 10% da população, o que corresponde a mais de 30 milhões de brasileiros. Em 2010, eram pouco mais de 14 milhões. 

A transformação demográfica acende o alerta para uma pergunta essencial: estamos apenas vivendo mais ou também vivendo melhor?

Essa foi uma das reflexões centrais do 18º Fórum da Longevidade, promovido nesta terça-feira (21/10) pelo Grupo Bradesco Seguros, em São Paulo. Com o tema "Longevidade em Movimento", o evento reuniu nomes como Cissa Guimarães, Zezé Motta, Denise Fraga, Tony Ramos e o gerontólogo Alexandre Kalache, além de palestrantes nacionais e internacionais, entre eles a escritora norte-americana Ashton Applewhite, referência mundial no combate ao etarismo.



“O Fórum é um espaço de troca, aprendizado e inspiração, que a cada ano se renova e amplia sua relevância na sociedade”, afirmou Alexandre Nogueira, diretor de Marketing do Grupo Bradesco Seguros.

A revolução da longevidade

A abertura do evento ficou por conta da atriz e cantora Zezé Motta, exemplo vivo de vitalidade aos 81 anos. Ela abriu o evento cantando “Tigresa”, de Caetano Veloso, inspirada nela.

Zezé Motta abriu o evento

Fabio@casadaphoto/Divulgação


O médico e gerontólogo Alexandre Kalache, consultor de longevidade do grupo, foi um dos principais nomes do evento. O especialista lançou durante o Fórum um livro que celebra seus 80 anos de vida e 50 anos de dedicação ao estudo do envelhecimento populacional. "A revolução da longevidade: vivemos mais do que nunca. Mas estamos preparados para isso?" é uma conversa sincera sobre o que é envelhecer neste século, bem como os desafios atuais de um mundo que envelhece rapidamente. 

Kalache destacou o quanto a longevidade representa uma revolução silenciosa na história da humanidade. “Em 1945, a expectativa de vida no Brasil era de 47 anos. Em 1970, saltou para 57. Hoje, chegamos a 78, e as projeções indicam que, em 2070, viveremos em média 83,9 anos. É uma conquista extraordinária, mas que exige novas formas de pensar políticas públicas, saúde e vínculos sociais”, afirmou.

Ele ressaltou que, se por um lado vivemos mais, por outro o país enfrenta queda na taxa de fecundidade. “Nos anos 1970, eram quase seis filhos por mulher; hoje, menos de dois. Isso muda completamente a estrutura das famílias, que se tornam mais verticais — com mais avós do que netos. Quem vai cuidar dos idosos no futuro?”, questionou.

Corpo e mente em movimento

O educador físico Marcio Atalla, conhecido por incentivar hábitos saudáveis, lembrou que longevidade não se resume à idade cronológica.



“Nunca vivemos tanto, mas também nunca estivemos tão parados. Sete em cada dez brasileiros não praticam atividade física regularmente. O corpo foi feito para se mover, e é esse movimento que garante independência na velhice”, afirmou.

Para Marcio, envelhecer bem depende de pequenas escolhas diárias. “Levar o celular pra cama, comer mais do que o necessário, ficar horas sentado: tudo isso mina nossa energia e afeta o envelhecimento. O ambiente moderno nos estimula ao sedentarismo, e precisamos lutar contra isso com consciência e disciplina”, disse.

Além da prática física, ele destacou o papel das relações humanas. “Viver em grupo faz diferença. A solidão envelhece o cérebro, o coração e o corpo. A gente precisa se sentir útil e conectado”.

Alexandre Kalache (esq.), Ana Leoni e Marcio Atalla debateram sobre qualidade de vida no envelhecimento e saúde financeira

Fabio@casadaphoto/Divulgação

Planejar o futuro

Ana Leoni, especialista em comportamento financeiro, chamou atenção para a importância do planejamento ao longo da vida. “É difícil pensar no futuro porque o nosso ‘eu do futuro’ é um desconhecido. E é ainda mais complicado quando o tema é dinheiro, um dos maiores medos das pessoas, ao lado da morte e de falar em público”, afirmou.

Ela destacou que o envelhecimento financeiro saudável depende de autoconhecimento e responsabilidade. “Mesmo quem tem boa renda pode envelhecer sem segurança se não souber acumular e usar o ‘desacúmulo’, ou seja, saber aproveitar o dinheiro.’

Segundo Ana, o conceito de gerontologia financeira precisa ganhar espaço nas discussões sobre longevidade. “Não se trata apenas de aposentadoria, mas de garantir bem-estar para o idoso e sua família. É um processo multifatorial que começa muito antes da velhice”, completou.

Humanização

Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz, fez um alerta para a formação de novos profissionais de saúde. “Vivemos mais, mas quem vai cuidar de nós? Tenho medo de um país com tantas faculdades de medicina, uma geração de médicos tecnicamente formados, mas incapazes de compreender o que é envelhecer”, disse.

Ela ainda defendeu a obrigatoriedade da disciplina de geriatria e humanidades nas faculdades de medicina. “Aprendi que não devemos nos envolver com pacientes. Discordo totalmente. Precisamos nos envolver, chorar com eles, e saber o que estamos fazendo”, afirmou.

Margareth ainda relacionou a saúde global ao envelhecimento. “A longevidade vem acompanhada de novos desafios, como as mudanças climáticas e o risco de futuras pandemias. O que nos espera não é saber se haverá outra, mas quando”.

Margareth Dalcomo enfatizou sua preocupação com a formação médica atual

Fabio@casadaphoto/Divulgação

Indicador de longevidade

Na ocasião, o novo Indicador de Longevidade Pessoal (ILP), realizado anualmente pelo Grupo, foi divulgado com uma novidade: o desempenho regional para entender como cada estado está lidando com o envelhecimento. Com mais de 4 mil entrevistas online, a pesquisa analisa seis dimensões que definem o comportamento brasileiro:

  • Atitudes em relação à longevidade: apenas 17% encaram o envelhecimento como algo negativo e 84% se importam muito com o tema

  • Saúde física: 3 em cada 4 pessoas praticam atividade física, mas apenas 36% mantêm a rotina de quatro dias ou mais por semana 

  • Saúde mental: 9 em cada 10 reconhecem que suas ações de saúde mental ajudam na longevidade - essa percepção é mais forte entre o público com mais de 50 anos

  • Interações sociais e meio ambiente: 42% responderam que avaliam o seu ambiente como saudável - sendo que 18% enxergam o ambiente como pouco ou nada saudável 

  • Cuidados de saúde e prevenção: 77% estão atentos em medidas preventivas, mas essa atenção continua sendo maior entre mulheres. 45 % das pessoas procuram atendimento médico apenas diante de sintomas 

  • Finanças: 55% dos mais jovens gastam acima da renda, sendo que, do total, 2 em cada 3 pessoas apontam não ter reserva para a aposentadoria

Segundo o levantamento, o estado do Paraná é o menor índice geral, ou seja, no acúmulo de pontos. Já São Paulo e Rio de Janeiro superam a média nacional com mais de 60 pontos seguindo os critérios listados. 

Mas além de rankear os estados, o indicador traz o debate que a longevidade da população brasileira requer debate, planejamento e educação para que o tema se transforme em conversa contínua e colaborativa, além de intensificar a educação sobre o tema - especialmente entre os mais jovens. 

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