Os riscos de misturar álcool e remédios para dormir, como Meirelles
Médicos alertam para os perigos da combinação, que pode causar de apagões e amnésia a paradas respiratórias e coma; entenda como a mistura age
compartilhe
SIGA
O recente episódio envolvendo o humorista Maurício Meirelles, ocorrido no último sábado (24/10), no Shopping Eldorado, em São Paulo, acende um alerta para um perigo real e muitas vezes subestimado.
Ele precisou interromper sua apresentação diante de quase 800 pessoas após subir ao palco sob o efeito da mistura de um remédio para insônia com menos de uma taça e meia de vinho.
Meirelles assumiu publicamente a responsabilidade, ofereceu reembolso e um novo show gratuito aos prejudicados, e enfatizou que o ocorrido foi um caso pontual.
“Então, tô fazendo esse vídeo pra explicar de forma geral. Você deve estar pensando: ‘O que aconteceu, Maurício?’ Cara, é basicamente o seguinte: essas pessoas foram ao meu show… e eu não. Esse é o resumo. Tô tomando um remédio pra insônia, que não pode ser misturado com álcool. Desdenhei disso, infelizmente misturei, e o efeito foi potencializado — deu esse chabu todo”, contou em suas redes sociais.
Essa combinação é perigosa porque tanto o álcool quanto os indutores do sono atuam como depressores do sistema nervoso central. Em outras palavras, ambos diminuem a atividade cerebral, promovendo relaxamento e sonolência.
Quando consumidos juntos, esse efeito não é apenas somado, mas multiplicado, sobrecarregando o organismo de maneira imprevisível.
Leia Mais
Como a mistura age no corpo?
Os medicamentos para dormir, como o hemitartarato de zolpidem, e o álcool agem em receptores cerebrais semelhantes, principalmente no sistema GABA, que é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro.
A interação potencializa a sedação, o que pode levar a uma depressão respiratória severa, fazendo com que a pessoa respire de forma muito lenta e superficial.
Essa redução drástica na respiração diminui a oxigenação do cérebro e de outros órgãos vitais. Em casos extremos, a respiração pode simplesmente parar, resultando em uma parada cardiorrespiratória.
O perigo é ainda maior porque a pessoa geralmente está dormindo e não percebe os sinais de que algo está errado.
Em artigo do Centro de Estudos do Medicamento da UFMG, a professora Alessandra C. Montes Frade destaca que a interação medicamentosa é mais conhecida em antibióticos, mas há risco também em outros grupos de medicamentos - ainda que algumas literaturas considerem seguro o consumo de etanol com certos fármacos.
“Os riscos nunca devem ser descartados completamente, pois dependem da dose de álcool, sexo, peso corporal, idade, estado fisiológico e da sensibilidade de cada indivíduo”, afirma.
Principais riscos da combinação
A interação entre álcool e remédios para dormir pode desencadear uma série de reações adversas graves, que variam de acordo com a dose e o metabolismo de cada indivíduo. Os principais perigos incluem:
- Apagões e amnésia: a pessoa pode realizar atividades complexas, como andar, conversar e até dirigir, sem ter qualquer lembrança do que aconteceu depois.
- Risco de overdose acidental: a margem de segurança do medicamento diminui drasticamente. Uma dose que seria segura quando tomada sozinha pode se tornar tóxica na presença de álcool, levando a uma overdose.
- Parada respiratória e coma: a sedação profunda pode fazer com que o cérebro "esqueça" de comandar os músculos respiratórios. A falta de oxigênio pode levar a danos cerebrais irreversíveis, ao coma e à morte.
A recomendação é clara e consta na bula da maioria dos medicamentos para insônia: o consumo de bebidas alcoólicas deve ser completamente evitado durante o tratamento.
E outros fármacos?
O Ministério da Saúde costuma alertar sobre as interações entre álcool e medicamentos durante o Carnaval, período em que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta.
Para enfatizar o risco, a pasta elaborou um guia com as principais combinações perigosas:
-
Álcool + paracetamol
Maior risco de hepatite medicamentosa, grave inflamação no fígado.
-
Álcool + dipirona
O efeito do álcool pode ser potencializado.
-
Álcool + ácido acetilsalicílico (AAS)
Eleva o risco de sangramentos no estômago. O acetilsalicílico irrita a mucosa estomacal. O que seria um leve transtorno, pode ser potencializado pelo álcool.
-
Álcool + antibióticos
É possível que leve a vômitos, palpitação, cefaleia, hipotensão, dificuldade respiratória e até morte.
-
Álcool + anti-inflamatórios
Aumenta o risco de úlcera gástrica e sangramentos.
-
Álcool e antidepressivos
Aumenta as reações adversas e o efeito sedativo, além de diminuir a eficácia dos antidepressivos.
-
Álcool + calmantes (ansiolíticos)
Aumenta o efeito sedativo, o risco de coma e insuficiência respiratória.
-
Álcool + inibidores de apetite
Pode aumentar o potencial de efeitos sobre o sistema nervoso central, como tontura, vertigem, fraqueza, síncope e confusão.
-
Álcool e insulina
Pode gerar hipoglicemia, pois o álcool inibe a disponibilidade de glicose realizada pelo organismo. A alimentação deve ser bem observada, pois com o álcool, a única disponibilidade de glicose vem das refeições.
Vale ressaltar que também pode causar efeito antabuse. Uso agudo de etanol prolonga os efeitos enquanto que o uso crônico inibe os antidiabéticos.
-
Álcool e anticonvulsivantes
Aumenta os efeitos colaterais e o risco de intoxicação, enquanto que diminui a eficácia contra as crises de epilepsia.
Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.