A luta invisível contra o sofrimento emocional no câncer de mama
Cerca de 40% das pacientes relatam o sintoma; psicóloga conta como lidar com diagnóstico e explica o papel das empresas no acolhimento para a cura
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O Outubro Rosa mobiliza o país em torno da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Contudo, o que acontece no momento seguinte ao diagnóstico é uma luta silenciosa, mas igualmente vital: a batalha pela saúde mental.
Receber a notícia de um tumor é um evento avassalador. O medo da morte, da mutilação, do tratamento agressivo e das incertezas do futuro impactam profundamente o bem-estar da mulher. Dados do Ministério da Saúde e estudos na área de oncologia apontam que, além do desgaste físico, cerca de 40% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama relatam sintomas de sofrimento emocional intenso, como ansiedade, depressão e crises de isolamento.
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A sobrevivência à doença depende, em grande parte, da capacidade da paciente de aderir ao tratamento, e a estabilidade psicológica é o pilar que sustenta essa jornada.
Para Ticiana Paiva, psicóloga clínica e head de saúde mental da Starbem, o diagnóstico gera um "choque emocional" que não pode ser ignorado. "É fundamental quebrar o tabu de que a paciente precisa ser 'forte' o tempo todo. O medo é real, o luto pela perda de partes do corpo ou do cabelo é legítimo, e a oscilação de humor é esperada durante a quimioterapia", afirma Ticiana.
Segundo a psicóloga, muitas mulheres reprimem essas emoções por medo de parecerem frágeis ou de preocupar a família, o que pode levar a um isolamento ainda maior.
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O acompanhamento psicológico é crucial para:
- Lidar com o medo do tratamento: ajudar a paciente a gerenciar a ansiedade ligada aos efeitos colaterais (náuseas, fadiga, dor) e à incerteza dos resultados.
- Ressignificar a autoimagem: ajudar a mulher a reconstruir sua autoestima e sua identidade após cirurgias como a mastectomia, trabalhando a aceitação das mudanças corporais.
- Apoio pós-tratamento: O acompanhamento não deve cessar com a remissão. Muitas vezes, a depressão e a ansiedade chegam com força total após o fim do tratamento, quando o suporte médico se torna menos frequente e a paciente precisa retomar sua vida.
O papel humanizado da empresa
No ambiente de trabalho, o diagnóstico exige um olhar de acolhimento e flexibilidade. Ticiana destaca que a forma como a empresa reage pode ser determinante para a recuperação e para o retorno ao trabalho (RT) da colaboradora.
"O câncer de mama impacta diretamente a capacidade de trabalho. A fadiga crônica e o 'brain fog' (confusão mental) são comuns durante a quimioterapia. A empresa que oferece um suporte real evita que a mulher enfrente uma crise de estresse social somada à doença", explica.
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As ações corporativas ideais incluem:
- Garantia de flexibilidade: Criar políticas de ajuste de jornada ou de trabalho remoto, quando possível, para acomodar os dias de tratamento, que são exaustivos
- Comunicação confidencial: Estabelecer um canal seguro e sigiloso para que a colaboradora possa discutir suas necessidades com a área de RH ou gestores, sem sentir-se exposta ou julgada
- Integração da saúde mental: Oferecer acesso facilitado a consultas com psicólogos, grupos de apoio e programas de bem-estar contínuo para todas as colaboradoras, reforçando que o cuidado emocional é um valor da empresa, e não apenas uma resposta a uma crise
Ao integrar o acolhimento psicológico à jornada do Outubro Rosa, a sociedade e o mundo corporativo garantem que a mulher diagnosticada receba o pilar de apoio necessário para enfrentar a doença e, mais importante, para se curar por completo.
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