Depois de voltar na profissional que realizou o preenchimento, Mariana recorreu a uma consulta com uma dermatologista que receitou um tratamento com antibióticos e corticoides, que não tiveram efeito -  (crédito: Redes Sociais/ Reprodução)

Depois de voltar na profissional que realizou o preenchimento, Mariana recorreu a uma consulta com uma dermatologista que receitou um tratamento com antibióticos e corticoides, que não tiveram efeito

crédito: Redes Sociais/ Reprodução

Já faz mais de três anos que a influencer Mariana Michelini, de 35 anos, fez um preenchimento nos lábios, no queixo e na maçã dos rosto - o qual gerou a remoção de seu lábio superior e do buço. O trauma veio com a descoberta de que o produto aplicado no procedimento era polimetilmetacrilato (PMMA), e não ácido hialurônico, como ela imaginava. Em dezembro do ano passado, Mariana fez a primeira cirurgia de reconstrução e a próxima deve ser realizada daqui a alguns meses.  

O uso do produto para fins estéticos e reparadores é liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). A dermatologista Ligia Colucci, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e speaker da Allergan Aesthetics, explica que essa convergência entre os órgãos se dá pela finalidade do uso da substância. "O PMMA é utilizado há muitos anos e a aprovação dele na Anvisa foi para pacientes que têm imunodeficiência adquirida, AIDS ou SIDA. Algumas pessoas têm utilizado o produto em pacientes sem essa imunodeficiência, sendo que alguns pacientes sabem o que está sendo injetado e outros não".

Mariana foi um desses casos. Atuando como influencer e modelo, ela aceitou realizar uma harmonização facial em troca de divulgar a profissional de saúde da sua cidade - como ocorre em uma permuta.  "Na época, além dos posts nas redes sociais, eu também estava fazendo várias lives durante a pandemia. Então contei para os meus seguidores como foi fazer o procedimento, com quem eu fiz, falei que eu tinha adorado, tudo que fazia parte da divulgação".

Já em 2021, a modelo começou a sentir efeitos colaterais na região da aplicação e ao se consultar com um dermatologista - o qual aplicou enzima hialuronidase par dissolver o ácido hialurônico, descobriu a presença do polimetilmetacrilato. "Não é possível remover o PMMA porque ele se fixa na musculatura e para retirar tem que remover todo o produto com a musculatura junto, por isso as cicatrizes apresentadas pela Mariana", destaca Ligia, que frisa: "eu, como dermatologista, nunca trabalhei com esse produto porque acho extremamente danoso ao organismo. Nunca usei, justamente porque não é algo que eu colocaria em mim então não coloco nos meus pacientes."

TOXICIDADE 

"Eu fiquei desesperada, pesquisei na internet e vi que várias mulheres morreram depois de fazer procedimentos com PMMA. Eu só conseguia chorar, sem saber o que ia acontecer comigo. Processei a profissional da harmonização e contei o que aconteceu nas redes sociais. Mas ela também me processou e não posso falar o seu nome nem a profissão". 

Mariana Michelini, de 35 anos

Seis meses depois do procedimento, Mariana acordou com o rosto muito inchado e dolorido

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Para ser letal, a quantidade do produto deve ser muito grande, como elucida a dermatologista. "O que a gente tem visto hoje em dia são pessoas que utilizam o PMMA em áreas corporais, principalmente glúteos, com o intuito de que seja definitivo para não ter que repetir o procedimento. Mas esse produto em uma quantidade muito grande, o que a região do glúteo exige, por exemplo, acaba sendo nefrotóxico, ou seja, atinge os rins e a pessoa realmente pode vir a falecer por conta da quantidade". 

CUIDADO NUNCA É POUCO

Ainda que o polimetilmetacrilato seja danoso ao organismo. Deve-se ter atenção ao uso do ácido hialurônico - uma substância presente no corpo humano e reproduzida em laboratório, mas que em mãos não experientes e sem conhecimento da anatomia pode trazer complicações, porém com mais possibilidades de remoção. 

Por isso, se houver a oportunidade ou interesse de realizar um procedimento estético, pesquise sobre o profissional que vai aplicar, bem como um dermatologista ou cirurgião plástico que tenha experiência com esse tipo de procedimento e que esteja atualizado.

Leia também: Harmonização facial e cirurgia plástica: como escolher o cirurgião plástico

"O ponto da questão é: pensar que nada na gente é para sempre e ficar colocando produtos que duram para sempre trazem sempre uma consequência não positiva. E principalmente: para fazer algum procedimento estético é essencial procurar um profissional experiente e habilitado", recomenda Ligia. 

DIFERENÇA ENTRE PMMA E ÁCIDO HIALURÔNICO 

O cirurgião plástico Luiz Gustavo Leite de Oliveira, speaker da Allergan Aesthetics e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, esclarece as principais diferenças entre essas duas substâncias em destaque, confira:  

"O PMMA, o polimetilmetacrilato, é uma substância permanente. Ele se mantém no tecido e nunca mais sai. Essa é a principal diferença, e a mais importante. Já o ácido hialurônico é um preenchedor mais seguro e com mais possibilidades de resoluções frente aos eventos adversos. Ele tem o intuito de volumizar e preencher, e pode ser o volume de uma estrutura que seja mais densa, como osso, ou menos densa como uma gordura e por isso existem variações do ácido hialurônico. Ele é um dos principais
aliados para lidar com a prevenção do envelhecimento", afirma.  

  • Escolha um profissional que trabalhe com produtos de boa qualidade
  • Um preenchimento bem feito, com produtos certos, que no caso é o ácido hialurônico, deve ser aplicado na quantidade certa e com boa qualidade, pois ele também possui versões de má qualidade
  • Fique de olho nas referências. Amigos, amigas ou conhecidos que foram tratados por aquele médico ou aquela médica
  • É muito importante também que o profissional seja estudioso de anatomia.

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.