MP investiga vice-prefeito de Uberlândia por injúria racial
A apuração parte do episódio de críticas feitas pelo vice a um evento sobre o Dia da Consciência Negra no Centro Administrativo do município
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O Ministério Público de Minas Gerais abriu investigação para verificar um suposto crime de injúria racial envolvendo o vice-prefeito de Uberlândia, Vanderlei Pelizer (PL). A apuração parte do episódio de críticas feitas pelo vice a um evento sobre o Dia da Consciência Negra no Centro Administrativo do Município.
A 9ª Promotoria de Justiça de Uberlândia instaurou a notícia de fato após uma manifestação enviada à Ouvidoria do Ministério Público de Minas Gerais, que relatou a ocorrência de ofensa em um ambiente educacional.
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O despacho, assinado pelo promotor Moisés Batista Abdala, determina a "abertura do procedimento preliminar com o objetivo de verificar se houve a prática prevista no artigo 2º-A da Lei 7.716/89". O documento também orienta que o caso seja distribuído para uma das promotorias criminais da comarca, que ficará responsável pelas providências cabíveis.
A notícia de fato é o primeiro passo para que o Ministério Público avalie a consistência da denúncia. Ela não representa ainda uma acusação formal, mas registra oficialmente a suspeita para que seja analisada e, se necessário, aprofundada por meio de investigação.
O caso
Em vídeo divulgado por Pelizer em suas redes sociais, o vice-prefeito afirma existir constrangimento e "lavagem cerebral" de estudantes por parte de professores e coordenadores escolares do próprio município. "Racismo tem que ser eliminado. Isso pra nós é muito caro. O que nós não podemos aceitar é uma lavagem cerebral realizada, muitas vezes, em nossas crianças. E pior, por coordenadores ou professores, muitas vezes orientadores despreparados, que não sabem nem explicar aquilo que está se ensinando", diz o político na publicação.
Pelizer está opinando sobre a 22ª Mostra Visualidades, definida pela própria administração municipal como "espaço de valorização e difusão do ensino artístico oferecido nas escolas da Prefeitura de Uberlândia". O tema desta edição foi “Pluralidades: Arte afro-indígena em nós”.
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No vídeo, o vice-prefeito mostra uma aluna recitando poema sobre empoderamento e aborda uma mulher — que aparenta ser profissional da educação municipal — questionando o que seria esse empoderamento. Pelizer discorda da resposta dada por ela. Em outro momento, afirma que as crianças teriam sido constrangidas. Uma outra mulher discorda do vice-prefeito, que responde: "O que você acha não me interessa".
Repúdio
Em nota divulgada à imprensa, Vanderlei Pelizer diz não ter qualquer fala de cunho racial e afirma que a denúncia ao MP se trata de "tentativa de setores da militância ideológica da esquerda de utilizarem a via judicial como instrumento de perseguição política". Ele ainda declara repudiar qualquer tipo de discriminação.
Os vereadores Professor Ronaldo e Dr. Igino, ambos do PT, alegam ataque a direitos humanos por conta do vídeo em que o vice critica uma exposição sobre racismo e entraram com um pedido de cassação na Câmara Municipal de Uberlândia.
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Leia a nota completa de Pelizer
"Não houve, em nenhuma de minhas palavras ou em minha fiscalização, qualquer forma de manifestação de cunho racial, e reafirmo meu absoluto repúdio a qualquer tipo de discriminação.
O que se observa, com clareza, é mais uma tentativa de setores da militância ideológica da esquerda de utilizarem a via judicial como instrumento de perseguição política, em um fenômeno conhecido como ativismo judicial seletivo, prática já vista em regimes modernos de viés autoritário, nos quais o Judiciário passa a ser utilizado como ferramenta para silenciar opositores.
Carrego com orgulho os ensinamentos das professoras e professores que contribuíram para minha formação. Sou apaixonado pela educação e pela nobre missão de ensinar — missão esta que sempre defendi com firmeza. Não por acaso, sou um apoiador convicto dos colégios cívico-militares, onde o professor é respeitado, valorizado e protegido, tendo ao seu lado a segurança necessária contra alunos que, infelizmente, já não respeitam mais a autoridade do educador.
Todavia, como vice-prefeito, reafirmo: sou totalmente contra aqueles que, em vez de ensinar, tentam doutrinar crianças com pautas comunistas, ideologias de esquerda ou agendas político-partidárias. Professor tem que ensinar sua matéria, preparar o aluno para a vida, formar cidadãos, e não transformar a sala de aula em palanque ideológico e político. E é isso que minha fiscalização combate.
É contra esse tipo de atuação, que desvirtua a essência da educação, que tenho me levantado — sempre de forma clara, aberta e dentro do direito constitucional de crítica e opinião. Isso se chama democracia.
Por isso, a utilização do Poder Judiciário, assim como pedidos de cassação movidos contra minha pessoa por políticos de esquerda, ou a mando desses, apenas confirma aquilo que a população já percebe: há um grupo que não aceita o livre debate, não suporta opinião divergente e tenta silenciar quem pensa diferente. Para eles, quem discorda deve ser eliminado do debate público — uma postura que afronta diretamente o maior princípio democrático: a liberdade de expressão e o confronto saudável de ideias.
Reforço que seguirei firme, com a consciência tranquila e o compromisso intocável com Uberlândia, com a educação de verdade e com a defesa da democracia — aquela que existe para todos, não apenas para quem pensa igual.
Também estarei totalmente à disposição das autoridades para esclarecer minha atuação e fiscalização enquanto vice-prefeito, atuação essa pautada pelos princípios da ética, do zelo e do senso de obrigação enquanto vice-prefeito eleito democraticamente."