O livro tem prognósticos chocantes, mas que são necessários devido à necessidade urgente de ações para frear a crise climática -  (crédito: Pixabay/Reprodução)

O livro tem prognósticos chocantes, mas que são necessários devido à necessidade urgente de ações para frear a crise climática

crédito: Pixabay/Reprodução

"Aperte os cintos. Vai ser uma viagem atribulada em meio a uma noite tenebrosa”. Essa é a amarga previsão feita pelo professor de economia Nouriel Roubini a respeito da humanidade e da Terra. Ele é autor do livro “Mega-ameaças: Dez perigosas tendências que ameaçam nosso futuro e como sobreviver a elas”, lançado no Brasil com o selo Crítica da editora Planeta.

 

Nascido na Turquia e radicado nos Estados Unidos, Roubini é consultor de bancos centrais em vários países, dá aulas na Universidade de Nova York e já trabalhou na Casa Branca e no Tesouro norte-americano. Em 2006, passou a carregar a alcunha de “Dr. Apocalipse” por ter alertado sobre a proximidade de uma crise financeira seguida de recessão global, que seriam provocadas por uma bolha no mercado imobiliário. Até que o ano de 2008 provou que ele estava certo.

 


O professor divide o livro em três partes para tratar de uma lista formada por 10 mega-ameaças de médio e curto prazo que assombram ou que já deveriam preocupar os seres humanos, entre elas a estagflação (quando há recessão e inflação alta), a extinção de empregos pela Inteligência Artificial e a catástrofe climática. “Precisamos aprender a viver em estado de alerta máximo.

 

As certezas econômicas e geopolíticas consideradas garantidas no passado - da estabilidade no emprego a um planeta sustentável e saudável, no qual grande parte das doenças infecciosas havia sido debelada, e onde reinava a paz entre as grandes potências rivais - estão desaparecendo”, escreve. Há, ainda, segundo ele, a possibilidade de uma crise de endividamento sem precedentes.

 

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O economista, que é fundador e presidente da consultoria econômica e financeira Roubini Global Economics (RGE), diz que é provável o despertar de uma nova guerra fria durante as duas próximas décadas, desta vez entre Estados Unidos e China, o que pode levar a grandes interrupções na oferta e na demanda globais, paralisar cadeias de suprimentos e reorganizar alianças.

 

Com os mercados desestabilizados, crises poderão afetar os setores manufatureiros, bancários e imobiliários com frequência, até que uma China autoritária comece a ditar as regras da geopolítica. Cidadãos atolados em dívidas, que aumentaram durante a pandemia de COVID-19, poderão empurrar países pobres ou em desenvolvimento para situações catastróficas: empresas à beira da inadimplência e da falência, desvalorização, colapso de moedas locais e ascensão de líderes opressores.

 

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As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global também são bastante discutidas no livro. Nouriel Roubini explica que os desastres “naturais” cada vez mais frequentes vão interromper o fornecimento e a produção de bens essenciais, pois muitas fábricas fecharão as portas por causa de enchentes, incêndios, secas e calor extremo.

 

Essa é a mais poderosa das ameaças, pois tem o poder de tornar o nosso planeta completamente inabitável. Em alguns anos, conforme o autor, milhões de refugiados poderão deixar seus países de origem em busca de regiões menos hostis. Os conflitos e a pobreza extrema vão provocar uma onda de migração nunca vista na história. E aqui talvez o leitor precise se deitar no divã: o professor diz que a humanidade não terá recursos suficientes para agir a tempo de reverter esse quadro.


Além disso, Nouriel Roubini destaca que “o gênio da Inteligência Artificial já está fora da garrafa” e pode provocar uma revolução capaz de destruir empregos como um todo. O texto indica que a IA vai afetar tanto os profissionais dotados de conhecimento quanto os trabalhadores braçais. “Ninguém sabe quanto tempo levará para o desemprego tecnológico estrutural tornar a maioria dos trabalhadores irrelevante.

 

Todavia, mesmo esse espaço de tempo parece atribulado, propenso a choques de demanda negativos. Todos os sinais indicam que as alternativas oferecidas pela IA diminuirão as remunerações e os salários, e essa queda redunda em um problema exasperante”.

 

O livro “Mega-ameaças” tem prognósticos chocantes, mas que são necessários devido à necessidade urgente de ações para frear a crise climática e regulamentar o uso da Inteligência Artificial, de modo a garantir a sobrevivência das próximas gerações e encontrar respostas sobre as novas formas de trabalho. O “Dr. Apocalipse”, porém, não apresenta apenas o cenário sombrio.

 

Em um dos capítulos, ele desenha “um futuro utópico” onde os seres humanos tomam atitudes fundamentais na luta contra as mega-ameaças e, com muito trabalho e sorte, conseguem atenuá-las. “Receio que melhor que isso seja impossível”, ressalta.

 

 Nouriel Roubini, an economics professor, speaks at a panel discussion at the SALT conference in Las Vegas May 14, 2014.  SALT is produced by SkyBridge Capital, a global investment firm.   (UNITED STATES - Tags: BUSINESS)

O economista turco Nouriel Roubini

REUTERS/Rick Wilking

 

Trecho do livro

 

“A discórdia geopolítica impede a ação unida contra o mais radical perigo do mundo: a mudança climática global, que ameaça a vida de bilhões de habitantes de regiões quentes demais ou inundadas demais para serem habitadas. O aumento da temperatura na Terra provocará tempestades e ondas de calor mais frequentes e severas, acima do que os seres humanos são capazes de suportar. Essas condições precipitarão a catástrofe biológica. [...] Trata-se de mera questão de quando a próxima pandemia virulenta se abaterá sobre nós, e se nossa resposta será rápida o suficiente”.

 

Mega-ameaças

Nouriel Roubini
Tradução de Maria de Fátima Oliva do Coutto
Selo Crítica. Editora Planeta
352 páginas
R$ 71,23 (livro) e R$ 78,73 (e-book)