Dia Mundial do Orgulho Autista
Enquanto muito se fala em autismo em crianças, pouco se discute sobre o TEA na adolescência, na fase adulta ou mesmo em idosos
compartilhe
Siga noNatália Inês Costa
Psicóloga. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano com Ênfase em Diferenças Individuais, Inteligência e Personalidade. Diretora do Censa Betim, Centro Especializado Nossa Senhora D’Assumpção, referência às pessoas com deficiência intelectual
O transtorno do espectro autista (TEA), também conhecido como autismo, é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por alterações comportamentais que afetam a comunicação e a interação social. Com início nos primeiros anos da infância, o TEA pode acometer indivíduos em variados graus, dificultando o diagnóstico precoce e também chegando a comprometer fortemente a capacidade desses indivíduos de conviver em sociedade.
Nos últimos anos, o número de pessoas com autismo vem crescendo de forma alarmante. Segundo dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) nos Estados Unidos, estima-se que 1 em cada 36 crianças tenha autismo, o que significa que cerca de 73 milhões de pessoas no mundo vivem com a condição. No Brasil, os números também são preocupantes. O Ministério da Saúde estima que mais de 2 milhões de pessoas sejam autistas, o equivalente de 1% a 2% da população. Apesar de muito difundido em campanhas, o autismo ainda enfrenta diversos preconceitos, como o da invisibilidade e da exclusão. O Dia Mundial do Orgulho Autista, celebrado em 18 de junho, é um momento para celebrar a neurodiversidade e lutar por uma sociedade mais inclusiva e justa para todas as pessoas com autismo.
Em meio às campanhas e discussões sobre o autismo, existe um grupo que tem sido ainda mais marginalizado: o dos autistas adultos e com grau 3, ou seja, aquelas pessoas com comprometimento severo, associado a outras comorbidades e que demandam muito mais apoio nas atividades da vida diária. Enquanto muito se fala em autismo em crianças, pouco se discute sobre o TEA na adolescência, na fase adulta ou mesmo em idosos. Essa invisibilidade gera diversos desafios como a falta de diagnóstico precoce, o isolamento social, a falta de acesso à educação e saúde de qualidade e a dificuldade de encontrar um lugar adequado para cuidar dessas pessoas.
Nesse contexto, é fundamental que a sociedade olhe para os indivíduos com TEA associado à deficiência intelectual grave com mais carinho e atenção. São pessoas que precisam de apoio integral desde o momento que acordam até a hora que vão dormir. Elas necessitam de ajuda, por exemplo, para manter a rotina diária de higiene, como escovar os dentes, pentear os cabelos, tomar banho. Se os autistas com grau moderado de acometimento conseguem ser incluídos em salas de aula ou mesmo no mercado de trabalho, essas pessoas têm uma extrema dependência da família ou de instituições para sobreviverem. Eles carecem de cuidados, acompanhamento e monitoramento durante 24 horas por dia durante toda a vida.
E quem vai cuidar desses autistas severos? A família, nem sempre, tem condições e estrutura para cuidar deles, não por falta de amor ou carinho, mas por necessidade de apoio transdisciplinar. Nesse contexto, espaços que assegurem a dignidade e permitam estimular o desenvolvimento desses indivíduos são de essencial importância para autistas severos e suas famílias.
É importante lembrar que o autismo severo não define uma pessoa. Cada indivíduo dentro do espectro possui suas próprias características, habilidades e desafios. O que precisamos é de uma sociedade mais preparada para acolher e apoiar a diversidade, garantindo que todas as pessoas autistas, independentemente do grau de severidade, tenham acesso aos direitos básicos e à oportunidade de viver uma vida plena e significativa.