O assassino era CAC. Em sua casa, foram apreendidas pistolas e um fuzil
 -  (crédito:  Rede Sociais/Reprodução)

O assassino era CAC. Em sua casa, foram apreendidas pistolas e um fuzil

crédito: Rede Sociais/Reprodução

Pouco mais de 24 horas depois de matar a ex-mulher a tiros no Gama, Wesly Denny da Silva, 29 anos, foi preso em uma operação das Polícia Civil do Distrito Federal e as militares do DF e de Goiás. O assassino estava escondido na casa de um amigo, em Santa Maria. Ainda ontem, os investigadores da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) apreenderam o carro e a arma usados para cometer o feminicídio. Temido até por familiares, Wesly tem um histórico violento, marcado por agressões, encarceramento, ameaças de morte e, agora, assassinato. O Correio ouviu pessoas próximas à família de Wesly, que relataram detalhes sobre o passado e a personalidade fria e calculista dele.

O primeiro feminicídio de 2024 vitimou Taynara Kellen, 26, mulher com quem Wesly conviveu por cerca de 10 anos e teve uma filha, de 5. O relacionamento do casal era conturbado, segundo amigos e familiares da jovem. Entre términos e reconciliações, Taynara enfrentava uma série de violências, desde a psicológica até a física. A jovem era constantemente agredida, mas relutava em registrar ocorrência na delegacia por medo. Dizia que o ex-sogro, pai de Wesley, um PM aposentado, o defenderia e que não resultaria em nada. "Eu pedi para ele deixá-la em paz por várias vezes. Ela queria seguir a vida dela. Era uma pessoa trabalhadora, que sempre foi fiel a ele, mas ela nunca a respeitou", contou uma pessoa, a quem a reportagem chamará de Bruna*.

Amigos da vítima afirmam que o motorista de transporte por aplicativo mantinha um relacionamento extraconjugal e, por isso, Taynara resolveu colocar um ponto final na relação. Há uma semana, o casal estava separado, mas, inconformado, Wesly quis tirar a vida da ex. Foragido, a Polícia Civil, sob a coordenação do delegado William Ricardo, da 14ª DP, fez diligências ao longo do dia de ontem em endereços ligados ao investigado. Entre eles, um rancho de propriedade do irmão de Wesly, em Corumbá 4, em Goiás.

Após a coleta de informações, os policiais descobriram o paradeiro do motorista. Wesly foi preso na casa de um amigos, na QR 317 de Santa Maria. "Compartilhamos informações com a PM de Goiás e com a PCDF sobre o suposto esconderijo do autor. A PMGO tomou conhecimento, a partir de denúncias, que ele poderia estar em Santa Maria. Diante disso, conseguimos localizá-lo e prendê-lo", destacou o tenente Pedro Henrique, da PMDF.

Histórico

Wesly nasceu e conviveu em um lar violento. Ao lado do irmão, presenciou, por diversas vezes, as agressões do pai contra a mãe, com quem ele parou de ter contato frequente. Uma pessoa próxima da família detalha o cenário. "O pai espancava a ex-mulher, ameaçava com arma todos os dias praticamente e tentou várias vezes contra a vida dela."

Num dos episódios, o ex-policial militar chegou no trabalho da ex, em um posto de saúde, e atirou contra a mulher, mas os tiros não acertaram a vítima. Foram inúmeras ocorrências registradas pela mãe de Wesly contra o ex-PM, mas na época a Lei Maria da Penha não existia e nada foi feito. Ele também respondeu por um homicídio praticado no Recanto das Emas. A suspeita era de um confronto policial, mas as investigações apontaram para um assassinato cometido pelo militar contra o esposo de uma suposta amante. Por esse crime, ele ficou cerca de um ano detido no 19º Batalhão, na Papudinha.

Wesly, por sua vez, reproduziu os comportamentos do pai com as ex-namoradas. Ainda criança, ele e o irmão foram retirados do lar da mãe e passaram a conviver com a avó paterna. Foi submetido a tratamento psicológico, mas nada impediu a formação da personalidade fria e calculista. Uma jovem com quem se relacionou, antes de Taynara, registrou ocorrência contra Wesly por violência doméstica. Além disso, ele acumula passagens por porte ilegal de arma de fogo, desacato e vias de fato.

Por seis meses, esteve detido no Complexo Penitenciário da Papuda e recebia visitas de Taynara. Semanalmente, a jovem ia ao presídio e levava comida, roupas e produtos de higiene para quem viria a ser o seu assassino. Solto, Wesly começou a trabalhar como motorista de transporte por aplicativo e tirou o registro de colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC). Em casa, ele guardava ao menos três pistolas e um fuzil.

Amigos da vítima acreditam que Wesly recebeu apoio de parentes durante o período de fuga, isso porque, um dia antes de cometer o crime, ele estava na companhia dos familiares por parte de pai. "Eles abrigaram ele, tanto é que ele estava na casa de conhecidos. Certeza que plantaram provas falsas para despistar a polícia, como, por exemplo, ir no rancho, que era um local que ele não estava", ressaltou Bruna.

Preso, Wesly responderá por homicídio qualificado pelo feminicídio e a pena pode ultrapassar os 30 anos de prisão. Ele ainda foi bloqueado pelo aplicativo de transporte de passageiros e está impedido de trabalhar pela plataforma. 

O crime

Antes de ser morta, Taynara recebeu uma mensagem de uma suposta cliente interessada no alongamento de cílios, especialidade da vítima. Pelo WhatsApp, ela marcou o horário das 14h de ontem. No entanto, se tratava de Wesly disfarçado de cliente. No horário agendado, Wesly enviou uma mensagem para Taynara dizendo estar perdido na região e sem conseguir encontrar o endereço do salão. Ela saiu por três vezes com a filha do casal até a rua, na tentativa de localizar a cliente.

Na quarta vez, foi surpreendida a tiros pelo ex, que estava em um Argo branco. A filha de Taynara foi levada até o banheiro do salão e ficou com uma das clientes, mas teria visto o pai no local. Para a família, a criança disse: "Meu pai deu pou pou na mamãe". 

Taynara será velada às 8h de hoje, em Três Marias, Minas Gerais. O sepultamento também será na cidade mineira.