Pacto de aço: a união que selou o destino de Mussolini
O tirano italiano se aliou-se a Hitler, acreditando em glória. A parceria levou a Itália ao desastre, culminando na queda humilhante do fascismo em 1945
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Siga noA imagem de Benito Mussolini pendurado de cabeça para baixo numa praça pública de Milão completa 80 anos. Mas antes de seu fim humilhante, o ditador italiano protagonizou uma das alianças mais desastrosas da história: o pacto com Adolf Hitler e a Alemanha nazista.
A aproximação entre os dois regimes começou ainda nos anos 1930, quando Mussolini, já no poder desde 1922, viu na ascensão de Hitler uma oportunidade de fortalecer sua própria posição na Europa. Em 1939, os dois selaram oficialmente o chamado Pacto de Aço, comprometendo Itália e Alemanha a atuarem lado a lado numa guerra que já se desenhava. Mesmo sabendo que o Exército italiano não estava preparado, Mussolini declarou guerra aos Aliados em 10 de junho de 1940, acreditando que garantiria sua parte no “butim” das vitórias alemãs.
O resultado foi catastrófico: derrotas em série na Grécia, no norte da África e na União Soviética, onde soldados italianos mal equipados morreram congelados. Em 1943, o colapso era inevitável. Com a invasão da Sicília pelos Aliados, Mussolini foi deposto pelo próprio regime fascista e preso por ordem do rei. Pouco depois, o novo governo italiano assinou a rendição. A Itália saía oficialmente da guerra, trocando de lado.
Mesmo assim, Hitler resgatou Mussolini com tropas de elite e o instalou como líder de uma república fantoche no norte do país – a chamada República Social Italiana. Sem poder real, vigiado pelos nazistas e odiado pela população, o antigo “Duce” era agora apenas uma sombra do tirano que um dia comandara multidões.
A fuga e a execução
Nos últimos dias de abril de 1945, com a Alemanha prestes a se render, Mussolini tentou escapar. Fugiu com sua amante Clara Petacci rumo à fronteira suíça, disfarçado de soldado alemão, mas foi reconhecido perto de Dongo, no norte da Itália. Preso por combatentes da resistência (os partisans), foi julgado sumariamente e executado no dia 28 de abril.
Na manhã seguinte, os corpos de Mussolini, Clara e outros 16 colaboradores foram levados à Piazza Loreto, em Milão – o mesmo local onde meses antes 15 antifascistas haviam sido mortos pelo regime. Os cadáveres foram jogados no chão e, mais tarde, pendurados de cabeça para baixo em uma estrutura metálica, diante de uma multidão que se aglomerava para ver o ditador abatido.
A cena foi marcada por um misto de fúria e alívio. Uma mulher disparou cinco tiros no corpo de Mussolini gritando: “Cinco tiros pelos meus cinco filhos assassinados!” Outros apenas cuspiam. Um homem zombou: “Mussolini virou porco!”
O fim de uma era
A execução de Mussolini simbolizou o colapso não apenas de um homem, mas de toda uma ideologia. O fascismo italiano, que prometera glória imperial, deixou como legado um país em ruínas, dividido, faminto e traumatizado. A aliança com Hitler, que o Duce acreditava ser um passo rumo à grandeza, revelou-se seu maior erro estratégico e moral.
O episódio brutal de 1945 foi o último ato de uma tragédia nacional. Sem julgamento formal, sem tribunal de guerra, foi o povo italiano quem aplicou sua sentença — em praça pública.
Oito décadas depois, a imagem dos corpos pendurados ainda simboliza o preço pago por uma nação que permitiu o autoritarismo crescer. E permanece como alerta histórico sobre os perigos de alianças baseadas no ódio, na ambição desmedida e na supressão da liberdade e democracia.