O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou, neste sábado (1º), que seu país apoiará a África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) no processo contra Israel por usa operação militar no território palestino de Gaza.
"Decidi que o Chile participará e apoiará o caso apresentado pela África do Sul contra Israel perante a Corte Internacional de Justiça em Haia, no âmbito da Convenção de Genocídio da ONU", disse Boric em uma mensagem ao Congresso Nacional na cidade de Valparaíso.
O presidente chileno fez o anúncio no âmbito do terceiro resumo de sua administração desde que assumiu a presidência.
"O número de mortos já passa de 35.000, a situação humanitária é catastrófica e a infraestrutura de Gaza foi praticamente arrasada", disse ele.
De acordo com o Ministério da Saúde na Faixa de Gaza, que é administrada pelo movimento islamista palestino Hamas, já foram registradas cerca de 36.400 mortes, a maioria de civis.
- As ações de Israel requerem uma resposta firme -
De acordo com o presidente chileno, "esses atos exigem uma resposta firme da comunidade internacional".
O governo chileno condenou o recente ataque das tropas israelenses a um campo para palestinos deslocados em Rafah, na Faixa de Gaza, e pediu uma "interrupção imediata da ofensiva militar".
O ataque israelense causou um incêndio em um campo de deslocados internos em Rafah, matando pelo menos 45 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino, que é governado pelo grupo islamista Hamas desde 2007.
Em resposta ao conflito, o Chile chamou seu embaixador em Israel para consultas em protesto contra a operação militar em Gaza em outubro passado.
Em janeiro, o Chile, juntamente com o México, apresentou uma solicitação ao promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI) para investigar prováveis crimes de guerra no contexto do conflito entre Israel e o Hamas.
Boric considerou repetidamente que o que está acontecendo em Gaza "não tem justificativa alguma" ou é "simplesmente inaceitável".
O Chile reconhece o Estado palestino desde 2011.
O conflito em Gaza começou em 7 de outubro, após um ataque do movimento islamista Hamas no sul de Israel, que deixou 1.170 mortos, a maioria civis, de acordo com dados israelenses.
- Ex-colônia nazista será desapropriada -
De acordo com seu discurso, o presidente também anunciou que seu governo desapropriará parte da Colonia Dignidad (260 km ao sul de Santiago), um enclave alemão fundado por um ex-enfermeiro nazista e usado por Pinochet para manter prisioneiros políticos.
"Hoje posso informar ao país que esta semana iniciamos o processo de desapropriação de parte das terras da antiga Colonia Dignidad em Villa Baviera, incluindo a antiga casa de Paul Schäfer", disse Boric.
A Colonia Dignidad foi fundada em 1961 pelo ex-cabo nazista Paul Schäfer. O local foi apresentado como um idílico resort familiar.
Na realidade, Schäfer reinou brutalmente sobre essa comunidade alemã de algumas centenas de pessoas, submetendo-as à escravidão e abusando sexualmente de crianças.
Após a fuga de Schäfer em 1997, os chilenos descobriram que o enclave alemão também havia sido um inferno para os opositores da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), muitos dos quais foram torturados ou desapareceram no local.
Preso em 2005 na Argentina, Paul Schäfer morreu na prisão em 2010.
Boric disse que "esse é um passo importante no caminho para consagrar o local como um espaço de memória. Assim, do sul do Chile à Alemanha, em uma só voz dizemos ao mundo: Nunca mais!"
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