O metal é utilizado como material de vedação na base do copo -  (crédito: FREDERIC J. BROWN / AFP)

O metal é utilizado como material de vedação na base do copo

crédito: FREDERIC J. BROWN / AFP

Na última semana, os copos térmicos da marca Stanley estiveram no centro de uma polêmica nas redes sociais. O debate começou após usuários, principalmente nos Estados Unidos, realizarem testes rápidos que supostamente detectaram a presença de chumbo nos produtos, gerando uma onda de preocupação entre os consumidores.

 

A fabricante confirmou que os copos Stanley têm, de fato, chumbo em sua composição. O metal é utilizado como material de vedação na base do copo, mas, segundo a empresa, um revestimento de aço inoxidável impede o contato direto com o consumidor.

 


"A Stanley esclarece que não há chumbo em parte alguma da superfície de seus produtos que entre em contato com o consumidor, ou com líquidos e alimentos que estejam sendo consumidos", diz a empresa por meio de nota.

 

Os copos térmicos da marca possuem paredes duplas e isolamento a vácuo "é o que garante a conservação da temperatura de bebidas em seu interior", de acordo com a fabricante. O material de vedação incluiria uma parcela de chumbo em sua composição, "no entanto, uma vez selada, esta área é coberta por uma camada não removível de aço inoxidável, tornando-a inacessível aos consumidores".

 

A empresa acrescenta que "na rara ocorrência desta tampa de inox se soltar, devido a algum caso extremo, possivelmente expondo o selante, este continuará sem contato com o conteúdo ou com o usuário".

 

Ainda segundo a Stanley, seus produtos cumprem todas as normas regulatórias dos Estados Unidos e que realiza testes e validações por meio de laboratórios terceirizados credenciados pela FDA (agência de vigilância sanitária norte-americana).

 

O chumbo é um metal tóxico que pode ser absorvido pelo corpo após a inalação de partículas finas ou vapores, ou após a ingestão de compostos solúveis. Segundo o Ministério da Saúde, não há nível de exposição que seja conhecido como isento de efeitos nocivos.

 

Segundo o toxicologista e patologista clínico Álvaro Pulchinelli, presidente da SPBC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial), se o chumbo estiver isolado do consumidor, não há risco. "Para que haja intoxicação, é preciso haver exposição efetiva da pessoa ao chumbo", afirma.

 

O especialista acrescenta que o material é muito utilizado na indústria de tintas e vernizes, e na preparação de baterias. "O chumbo é usado em vários processos e, se houver sistema que isole o contato com o ambiente, não há perigo. A bateria de carro, por exemplo, tem chumbo, mas não fica em contato conosco".

 

Pulchinelli recomenda cuidado caso o copo térmico tenha algum dano físico, como trincas e rachaduras, que possam expor o seu interior ao contato humano. "Se o copo está íntegro, não sofreu nenhuma queda, ele pode ser utilizado. Não havendo exposição, não há intoxicação", afirma.

 

Segundo o médico, as formas mais comuns de intoxicação por chumbo são por ingestão oral ou de forma inalatória.

 

O metal pesado leva décadas para ser eliminado do organismo, mesmo após a interrupção da exposição. Ele afeta vários sistemas do corpo, como neurológico, cardiovascular, gastrointestinal e hematológico, sendo especialmente prejudicial a crianças pequenas. "Como muitas tintas têm chumbo em sua base, existem muitos casos de intoxicação de crianças que pegaram alguma casquinha e levaram à boca", diz o profissional.

 

A absorção pode ser até cinco vezes maior em crianças do que em adultos, de acordo com o CDC (centros de controle e prevenção de doenças do governo americano). Em gestantes, o chumbo pode atravessar a placenta e atingir o cérebro do feto.

 

Um relatório de 2020 da Unicef, braço da ONU (Organização das Nações Unidas) voltado para a infância, aponta que 800 milhões de crianças "ou uma a cada três" em todo o mundo têm níveis de chumbo no sangue iguais ou superiores a 5 microgramas por decilitro. Tal índice de contaminação demonstra a necessidade de intervenções globais e regionais, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

 

O metal é uma potente neurotoxina e a exposição na infância causa danos irreparáveis. Os maiores riscos são para bebês e crianças menores de 5 anos, podendo provocar deficiências neurológicas, cognitivas e físicas, além de danos à saúde mental, de acordo com o Unicef.

 

No caso das crianças mais velhas, as consequências da contaminação incluem um risco aumentado de danos renais e doenças cardiovasculares, diz o relatório.

 

Um estudo publicado em setembro passado na revista científica The Lancet Planetary Health estimou que 5,5 milhões de adultos morreram de doenças cardiovasculares em 2019 devido à exposição ao chumbo.