O carnaval da capital ainda nem começou, mas já está dando o que falar. A Liga Independente das Escolas de Samba de Minas Gerais (LIESMG), organização que representa as escola de samba Unidos dos Guaranys, Estrela do Vale, Triunfo Barroco e Mocidade Independente da Pampulha, que compõem os desfiles da Passarela do Carnaval de Belo Horizonte, questiona as posturas tomadas pela PBH na condução da apresentação das agremiações.

De acordo com o presidente da Escola de Samba Unidos dos Guaranys, Gleison Fernandes, essa postura da PBH já ocorre há um tempo. “A nossa maior questão hoje é ter dinheiro para desenvolver o espetáculo, e ele só vai ser grande a partir do momento que tiver investimento. Sem recursos não conseguimos fazer um bom carnaval”, diz. “E não temos expectativa de que esse dinheiro vai vir para que possamos começar o nosso trabalho”, acrescenta.

Além dos recursos, a LIESMG cobra que a PBH divulgue as informações oficiais com o cronograma, as diretrizes operacionais, as garantias mínimas para o desenvolvimento dos projetos artísticos e a alteração da pasta que organiza os desfiles.

Mudança de comando

De acordo com o presidente da Escola de Samba Triunfo Barroco, Alvimar Neri, a proposta de mudança de comando organizacional do carnaval, saindo das mãos da Belotur e indo para a Secretaria Municipal de Cultura, já é algo cobrado há bastante tempo, pois os desfiles não podem ser visto apenas como um evento, mas por tudo que ele representa culturalmente.

“Eles precisam ter uma visão mais ampla, um planejamento, uma organização que, infelizmente, a Belotour não consegue ter para atender as demandas da população carnavalesca”, afirma. “Há anos sofremos com um processo de invisibilidade, isso que tem ocorrido não é novidade. Por isso, precisamos mudar a gestão, pois mudar a pasta que controla é mudar o olhar para o carnaval e nada melhor do que a cultura para fazer isso”, ressalta Neri.

A presidente da Liga das Escolas de Samba de Minas Gerais (A Liga), Maria Elisa, discorda que a mudança de comando da Belotur para a Secretaria Municipal de Cultura seja a solução, pois entende que o Carnaval de Passarela de BH merece soluções e elas não virão de rupturas improvisadas. "A cidade e a cultura do samba merece diálogo construtivo e não disputas institucionais", afirma. 

“A proposta de transferir integralmente o Carnaval de Passarela para a Secretaria Municipal de Cultura ignora limitações legais de transferência, riscos de fracionamento institucional, perda de integração logística e turística”, acrescenta Maria Elisa. “A solução não é deslocar responsabilidades, mas modernizar governança, com participação da cultura e do turismo”, ressalta.

Entretanto, A Liga defende que é necessário compreender o evento como uma política multidisciplinar, pois envolve cultura, turismo, economia, segurança e trânsito, o que, segundo a entidade, uma única secretaria não conseguiria fazer sozinha.

A Liga representa seis escolas de samba de BH: Canto da Alvorada, Cidade Jardim, Imperavi de Ouros, Mocidade Verde e Rosa, Raio de Sol e Unidos da Zona Leste.

Editais 

Tanto a Liga quanto a LIESMG concordam que há a necessidade de implantação de um terceiro dia de desfiles e que os recursos disponibilizados pela PBH são insuficientes para que ocorra o desfile das escolas de samba.

De acordo com Maria Elisa, não há editais suficientes para o Carnaval de Passarela e há um desinteresse das empresas em patrocinar o evento. Ela enfatiza a importância social das escolas de samba para o carnaval da cidade.

“Os editais são uma das ferramentas mais importantes e estratégicas para a sobrevivência e o crescimento de uma escola de samba, que vai muito além do carnaval”, diz. “O edital tem o poder de transformar uma escola de samba em espaço cultural permanente, porque ela consegue promover arte e cultura o ano inteiro. A escola de samba deixa de ser vista como atividade sazonal e se torna uma instituição cultural da comunidade”, enfatiza a presidente da Liga.

Na edição deste ano, o valor destinado pela PBH foi de R$ 2.842.940, sendo R$ 258.430 para as escolas do Grupo Especial e R$ 155.100 para os coletivos de acesso. 

Para 2026, a Belotur irá conceder o valor total de R$ 2.998.040 para as escolas de samba, pouco mais de R$ 150 mil em relação ao carnaval deste ano. Para cada uma das oito escolas de samba do Grupo Especial, habilitadas, será destinado auxílio financeiro no valor de R$ 258.430, enquanto que para as seis escolas de samba do Grupo de Acesso, habilitadas, o valor será de de R$ 155.100.

Da Afonso Pena para a Andradas

Neste ano, as 13 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval de BH desfilaram em 4 de março. As apresentações aconteceram na Avenida dos Andradas, entre as ruas Guaicurus e dos Caetés, no Centro da capital.

A troca da Avenida Afonso Pena pela Avenida dos Andradas se deu devido a uma solicitação antiga dos representantes das agremiações e dos blocos caricatos de Belo Horizonte. Na ocasião, a PBH afirmou que a nova localização oferece extensão maior e permite a ampliação do percurso.

Em 2025, a escola campeã foi a Canto de Alvorada, com o enredo "Kizomba – Festa da raça". Para chegar ao seu 18º título, a agremiação alcançou 179,3 pontos, o último título havia sido conquistado em 2020.

Outro lado

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que "a Belotur reconhece a importância histórica e cultural das escolas de samba, em especial sua contribuição para a preservação das tradições afro-brasileiras e periféricas". O texto ressaltou ainda o apoio às escolas e destacou que a política de fomento ao carnaval continuará sendo prioridade da gestão, "obviamente dentro dos limites legais e financeiros do município."

28/11/2025.Credito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press. Brasil. MG. Escolas de samba independentes reclamam de falta de organizacao para o Carnaval de 2026. Os Diretores das Escolas de Samba Triunfo Barroco,

A nota destaca também que, desde maio deste ano, a Belotur já realizou nove reuniões com as agremiações que desfilaram em 2025 e entidades representativas do segmento das escolas de samba. Sobre o Carnaval de Passarela o texto destaca que o evento integra o macroprojeto carnaval de Belo Horizonte, que também engloba o carnaval de rua, o que "ultrapassa o campo estritamente cultural e se consolida como um dos principais produtos turísticos da cidade."

Sobre os editais, a nota afirma que a PBH possui um edital específico de auxílio financeiro voltado aos blocos caricatos e às escolas de samba da cidade e que esse mecanismo de incentivo "é uma política pública já consolidada, criada para fortalecer a organização, a produção cultural e a continuidade das tradições carnavalescas formais da capital".

*Estagiário sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

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