Quatro meses depois de ser indiciado pelo homicídio do gari Laudemir de Souza Fernandes em Belo Horizonte, Renê da Silva Nogueira Júnior afirma que foi vítima de um “complô” entre as quatro testemunhas do crime e investigadores da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).

O empresário é réu pela morte da vítima, além de ameaça, fraude processual e porte ilegal de arma de fogo. O crime aconteceu em 11 de agosto no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte, depois que o réu teria se irritado com um caminhão de coleta de resíduos.

Em entrevista à TV Record, além de afirmar que é inocente, Renê alegou que os garis, que acompanhavam a vítima no dia de trabalho, estão com “total interesse financeiro”. Ao ser questionado se acredita que foi vítima de um conluio, Renê afirma que sim, “entre as quatro testemunhas e os investigadores”.

O empresário também afirma que sua prisão, no dia do crime, pela Polícia Militar de Minas Gerais, foi ilegal e que o exame de balística, que comprovou que o disparo foi feito pela arma de uso pessoal da sua esposa - a delegada Ana Paula Lamego Balbino -, não foi realizado. “Ela [a arma] não foi reconhecida. Porque não teve balística. A polícia está dizendo várias coisas, mas não está provando nada. Se tem a prova, cadê o projétil”, disse.

Procurada, a PCMG informou que o inquérito policial tramitou em conformidade aos preceitos constitucionais e legais vigentes, respeitando a ampla defesa e o contraditório do investigado. “Considerando que o caso encontra-se em fase processual e em tramitação no Poder Judiciário, a instituição não comenta inquéritos concluídos e nem eventuais estratégias de defesa adotadas por procuradores legais”.

Mudança de versões

Desde o momento de sua prisão, o empresário já apresentou várias versões sobre o que teria acontecido na manhã de 11 de agosto. Em um primeiro momento, Renê negou que teria cometido o crime e passado pelo local no dia. No entanto, o álibi foi derrubado pelas investigações que obtiveram imagens nítidas do carro do suspeito e dele guardando a arma de sua esposa, delegada da PCMG, em uma mochila.

Após a divulgação das gravações, o investigado, em novo depoimento, confessou que estava no local e disparou a arma da esposa. Conforme registrado no termo de declaração da oitiva, pela PCMG, Renê afirmou que essa teria sido a primeira vez que pegou a pistola .380, de uso particular da mulher. Ainda segundo a nova versão, ele teria feito isso para se proteger por “estar indo para um local perigoso” e por não conhecer o caminho. A arma, então, seria “para proteção”.

Em seu último depoimento, durante a audiência de instrução, na última quarta-feira (26/11), o empresário afirmou que sua confissão foi feita sob ameaça de dois delegados da Polícia Civil de Minas Gerais. E que nunca disparou a arma da esposa.

“Eu não mudei minha versão. É que na realidade é que nós estamos dentro de um processo legal. Não, eu não tenho relatado nada para ninguém, eu não tenho acesso a ninguém. Infelizmente elas estão erradas. Eu não gostaria de fazer um ajuste a minha versão, porque estou falando a verdade”, disse à TV Record.

Em relação ao motivo de estar armado no dia da morte de Laudemir, Renê afirmou que decidiu manter o artefato no carro depois que sofreu ameaças de uma antiga sócia que tem relação com o jogo do bicho. O réu ainda afirmou que na época registrou um boletim de ocorrência relatando a situação.

Ele ainda afirmou que, no dia, ao sair de casa, ficou cerca de 30 minutos parada no trânsito para sair do bairro onde mora e que “teve a oportunidade de atirar em outras pessoas, mas não o fez”. Além disso, ele afirmou que jamais atiraria em alguém por estar parado no trânsito.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia 

Como o crime aconteceu?

  • Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
  • Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
  • Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
  • O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria "dar um tiro na cara" da condutora.
  • Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
  • Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
  • O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
  • No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
  • Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
  • Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais
  • Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH
compartilhe