TARIFA ZERO EM BH

Domingo ‘sem catraca’ nos ônibus muda a rotina e é aprovado pela população

Primeiro dia de gratuidade no transporte coletivo de BH surpreende passageiros, alivia o bolso e reacende debate sobre Tarifa Zero na capital

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Para muitos passageiros, atravessar a catraca dos ônibus de Belo Horizonte neste domingo (14/12) sem pagar a passagem, cujo custo é de R$ 5,75, foi uma experiência acompanhada pela surpresa, estranhamento e, logo em seguida, de alívio. Inaugurado neste fim de semana, o primeiro domingo de ônibus gratuito na capital mineira foi amplamente bem avaliado por quem utiliza o transporte coletivo.

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A reportagem do Estado de Minas acompanhou o movimento nas ruas da região central, em pontos de grande circulação como a Avenida Amazonas e os arredores da tradicional Feira Hippie. Ao longo do caminho, ouviu moradores de diferentes regiões da cidade, trabalhadores, famílias e idosos que, cada um à sua maneira, traduziram o impacto da medida no cotidiano. Em comum, a maioria destacou o alívio no bolso e a sensação de que a cidade ficou, ao menos por um dia, mais acessível.

Professora e usuária frequente do transporte coletivo durante a semana, Patrícia Pinto de Paula, de 58 anos, saiu do Bairro Graça, na Região Nordeste de BH, para uma manifestação política na Praça Raul Soares, no Centro da capital. Ao perceber que o ônibus estava gratuito, comemorou. “Isso é fundamental para de fato fazer valer o direito de ir e vir. O transporte é público, não é? Então deveria ser gratuito”, afirmou.

Patrícia contou que, nos fins de semana, costuma recorrer mais a aplicativos de transporte ou ao carro, justamente pelo custo da passagem somado ao deslocamento. Com a gratuidade, diz que a lógica se inverte. “A gente até quer sair mais com o transporte público gratuito. Já é uma economia, para mim e até para os meus alunos. Isso faz diferença no orçamento e muda o jeito como a gente ocupa a cidade”, disse. “A minha esperança é que a gente tenha o ônibus gratuito de segunda a segunda”, completou.

A surpresa também marcou a experiência do chaveiro Rodrigo Cardoso, de 41 anos, morador do Jardim Filadélfia, na Região Noroeste. Ele saiu cedo de casa para ir à igreja e, como de costume, abriu o aplicativo de transporte no celular. O susto veio com o valor da corrida. “Estava chegando a quase R$ 100. Desanimei na hora”, contou. A alternativa foi o ônibus. “Quando fui pegar, fiquei sabendo que ele estava de graça. Para mim foi muito bom. Pra quem ia gastar quase R$ 100 e acabou vindo de ônibus mesmo”, relatou.

Rodrigo disse que já tinha ouvido falar da novidade, mas não sabia que a gratuidade começaria justamente neste domingo. “Fiquei sabendo no momento em que já estava funcionando”, relatou. Para ele, o impacto vai além da economia individual. “Vai ser uma economia para o bolso de todo mundo que sai no domingo, para passear, para quem é assalariado e não pode gastar passagem com lazer. Isso ajuda muito”, comenta.

No meio do vai e vem de pessoas no ponto de ônibus em frente ao posto UAI na Praça Sete, o vendedor Wilson do Nascimento, de 61 anos, observava o movimento com atenção. Morador de Ponte Nova, na Zona da Mata mineira, ele já não paga passagem por conta da carteira do idoso, mas fez questão de destacar, em conversa com a reportagem, o alcance social da iniciativa. “Eu vejo o quanto a gratuidade me beneficia. E agora essa mesma oportunidade está se estendendo para mais gente”, afirmou.

Wilson, que está na capital a passeio, ressaltou o impacto no lazer e na economia local. “Aqui é a capital do bar, né? As pessoas têm agora mais oportunidade de sair de casa. Sobra dinheiro para pagar um lanche para a criança. Olha como está cheio. Isso aquece o restaurante, a lanchonete”, disse, apontando para o movimento intenso no entorno. Para ele, a medida amplia horizontes. “Muitas mães com quatro, cinco filhos não têm condições de sair. Agora podem ir ao parque, ao zoológico. É uma oportunidade de conhecer mais a capital”, disse.

Começou neste domingo a gratuidade nos ônibus de BH. Na foto, Brena Cristina, de 29 anos, e Márcio de Jesus, de 28, com seus filhos, Bryan Marques, 10, e Tayla Gabriela, 2.
Começou neste domingo a gratuidade nos ônibus de BH. Na foto, Brena Cristina, de 29 anos, e Márcio de Jesus, de 28, com seus filhos, Bryan Marques, 10, e Tayla Gabriela, 2. Ramon Lisboa/EM/D.A.Press

É exatamente esse o caso da autônoma, Brena Cristina Carvalho, de 29 anos, que esteve na Feira Hippie da Avenida Afonso Pena neste domingo acompanhada do companheiro Márcio de Jesus, de 28, e dos filhos Bryan Marques, de 10, e Tayla Gabriela, de 2. O plano era passear, olhar as barracas, talvez comprar alguma coisa. A gratuidade do ônibus não estava nos planos, mas acabou sendo uma surpresa positiva. “Eu achei ótimo. Não estava esperando, mas foi muito bom”, contou.

De imediato, a família economizou cerca de R$ 35 apenas no deslocamento. Em passeios para regiões mais distantes, que exigiriam a utilização de dois ônibus, a economia seria ainda maior.“Só aqui eu já economizo seis passagens. Isso ajuda no lanche, ajuda a comprar alguma coisa a mais”, disse. Ela costuma sair com a família aos fins de semana e acredita que a medida vai facilitar a rotina. “Agora, sabendo que todo domingo e feriado vai ser de graça, já facilita para a gente vir, para poder comprar as coisas. Vai ter uma economia muito grande no nosso bolso”, diz.

Além dos domingos, a gratuidade no transporte coletivo será estendida aos feriados e integra o programa “Catraca Livre”, anunciado pela Prefeitura de Belo Horizonte no último dia 7, dentro da programação que marca os 128 anos da capital. A administração municipal estima que cerca de 190 mil passageiros utilizem o sistema aos domingos, com um custo anual aproximado de R$ 40 milhões aos cofres públicos.

A tarifa zero vale para todas as linhas convencionais e suplementares. Para utilizar o benefício, o passageiro pode passar o cartão BHBus normalmente na catraca, sem que o valor seja descontado, ou solicitar a liberação diretamente ao motorista, caso não possua o cartão. Treze linhas do sistema de Vilas e Favelas já são totalmente gratuitas, assim como as linhas alimentadoras 202, 204, 401 e 402.

Questionada pela reportagem, a prefeitura esclareceu que a medida será custeada por meio de remuneração complementar às concessionárias. A iniciativa também tem como objetivo incentivar o uso do transporte público e reduzir o número de veículos nas ruas, especialmente em dias de maior circulação.

O debate sobre a Tarifa Zero, no entanto, segue aberto na cidade. Em evento ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na última quinta-feira (11/12), o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) afirmou que gostaria de estender a gratuidade para todos os dias da semana, mas destacou o alto custo da medida. “Esse subsídio é muito alto, fica muito caro para a prefeitura. O senhor fala com o ministro Haddad para tirar a mão do bolso”, brincou, em discurso direcionado ao presidente.

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A fala ocorre dois meses após a reprovação do Projeto de Lei 60/2025, conhecido como PL do Busão, que previa a gratuidade em todas as linhas, todos os dias. A proposta se baseava em estudo da UFMG e previa a criação de um fundo específico, financiado por uma Taxa do Transporte Público paga por empresas com mais de nove funcionários, substituindo gastos com vale-transporte.

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