Lições do imperador inspiram escola no bicentenário de dom Pedro II
Projeto pedagógico de instituição de ensino em BH celebra os 200 anos do monarca que valorizou a educação na construção da identidade nacional
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O caudaloso curso da História do Brasil tem, nesta terça-feira (2/12), uma vertente preciosa para se conhecer mais sobre o passado, refrescar memórias e irrigar os caminhos que conduziram ao presente. Há 200 anos, nascia dom Pedro II (1825-1891), que esteve à frente do Império por 49 anos – de 1840 até o exílio na Europa após a Proclamação da República. Último monarca a governar o país, dom Pedro II era, conforme o pesquisador e biógrafo Paulo Rezzutti, um homem admirável em caráter e integridade e no modo de tratar a coisa pública.
“Dom Pedro II buscou, pela educação e pela ciência, trazer para o Brasil o que havia de melhor”, diz Rezzutti que, no sábado (29/11), participou no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), em Belo Horizonte, da sessão solene em homenagem ao Bicentenário de nascimento do imperador. Durante a cerimônia, houve a entronização protocolar do busto artístico do monarca. Doada pelo desembargador Marcos Henrique Caldeira Brant, associado do IHGMG, a peça que irá compor o acervo do instituto.
Hoje, em BH, haverá dupla reverência à memória do imperador. A Escola Estadual Pedro II, na Avenida Alfredo Balena, no Centro, comemora seu centenário. A abertura com o nome de Grupo Escolar Pedro II, em tempos republicanos, veio para homenagear o ex-monarca na passagem de um século do seu nascimento. Desde o início do ano, o professor de história, Fernando Rosa, aborda esse e outros temas em sala de aula. “Foi um grande estadista”, resume o professor diante do quadro do imperador no salão nobre da escola tombada pelo patrimônio. Para os alunos, o momento permite multiplicidade de informações.
Dupla celebração escolar
No salão nobre da Escola Estadual Pedro II, instalada há 100 anos em prédio neocolonial na Avenida Afonso Balena, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, se encontra, em destaque, um quadro de dom Pedro II. “É uma pintura do século 19. Apresenta um retrato oficial do imperador em trajes militares, com uma aparência mais jovem altiva, diferente das imagens que ficaram mais popularizadas de dom Pedro II”, explica o professor de história da escola, Fernando Rosa, formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com mestrado na mesma instituição. Também no alto do salão, já do lado esquerdo, se vê a imperatriz Teresa Cristina (1822-1889), com quem dom Pedro II teve quatro filhos, entre eles a Princesa Isabel (1846-1921).
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Desde o início do ano letivo, Fernando Rosa vem trabalhando com os estudantes do ensino médio sobre o período Imperial brasileiro, com foco na figura de dom Pedro II. O motivo está nas duas datas especiais neste mês: um século da escola – inaugurada quando Fernando de Mello Vianna (1878-1954) era presidente de Minas (na época ainda não se falava governador) – e dois séculos de nascimento do imperador.
E por que, em tempos republicanos, dar o nome do ex-monarca a uma escola pública? A resposta serve para iluminar o estilo do imperador e o cenário décadas após seu exílio: “Foi construída para homenagear dom Pedro II, um estadista, independentemente do sistema de governo, e, acima de tudo, um ‘imperador professor’, que valorizou muito a educação como um meio de construção da identidade nacional”, afirma Fernando, lembrando que, a partir da Proclamação da República, houve uma tentativa de “silenciamento” da figura dele.
Mas novos ventos estavam soprando na década de 1920, a República Velha sucumbia, as oligarquias rurais perdiam força. “Sobretudo com o primeiro centenário da Independência, em 1922, o Brasil começa a se repensar e ter um olhar para dentro de si mesmo. Símbolo disso foi a Semana de Arte Moderna, que exaltou as tradições eminentemente brasileiras, com forte referência às culturas afro-brasileiras e dos povos originários. Assumindo, portanto, uma forte oposição à República oligárquica que mirava apenas os modelos de ciência, arte e cultura”. Nesse cenário, a figura do imperador ressurge. “Ele gostava muito do Brasil, tornou-se um dos patronos da educação, admirava a ciência”, diz o professor da escola tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).
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Na companhia dos alunos, Fernando diz que o centenário da escola e os 200 anos de nascimento de dom Pedro II significam excelente oportunidade para atividades de educação patrimonial, pesquisas e discussões em sala de aula. E as ações surtem efeito com a turma do terceiro ano, na faixa dos 17 anos. “Aprendendo mais sobre esses fatos e personagens, conhecemos mais sobre a cidade, o estado, o país e também sobre nós mesmos”, observa Rafael Souza Costa.
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PRAÇA DA LIBERDADE
A memória de dom Pedro II é reverenciada em outros pontos de Belo Horizonte, a primeira capital planejada no Brasil republicano. Além da famosa avenida – “a Pedro II”, que liga o Centro à Região Noroeste –, há um busto do imperador na Praça da Liberdade, espaço mais nobre da cidade. Foi instalado, por ocasião do centenário, pela Sociedade Mineira de Belas Artes “em nome do povo mineiro”.