A Praça da Liberdade se transforma neste sábado (22/11) no epicentro da tradição musical mineira, com o 1º Encontro Estadual de Bandas de Minas Gerais. O evento, que busca valorizar o patrimônio cultural imaterial do estado, reúne 32 formações procedentes de diversas cidades, com apresentações gratuitas ao público.
A maratona musical começou às 11h com um espetáculo de união inédito: todas as 32 bandas se apresentaram juntas. Regidos pelo capitão Eleônio Ribeiro da Cruz, maestro da Banda da Polícia Militar, os mais de mil músicos tocaram em conjunto o Hino Nacional e o tradicional “Dobrado dois corações”. Os participantes são dispostos por naipes — sopro, percussão e instrumentos de corda.
Tradição e resistência
O encontro, que ocupa a praça e o histórico Palácio da Liberdade, é fruto de uma iniciativa da produtora Roberta Prochnow em parceria com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O evento acontece em meio ao processo conduzido pelo instituto para inventariar e registrar as bandas de música como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado.
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A seleção dos grupos musicais foi baseada nesse processo de inventário e buscou a descentralização, garantindo a participação de representantes de regiões como Ponte Nova, Perdões, São Lourenço, Diamantina, Pitangui e Congonhas. “Tentamos trazer pelo menos um representante de cada região do estado,” explica Roberta Prochnow.
Além da diversidade geográfica, o critério de escolha considerou a história de resistência dos grupos, incluindo a longevidade de bandas como as da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.
Apresentações simultâneas e repertórios surpresa
Após o show conjunto, as apresentações seguem simultaneamente em três espaços distintos: a escadaria do Palácio da Liberdade, a alameda lateral e o coreto. A maratona se estende por todo o dia, com término previsto para as 22h.
O público encontra uma variedade de estilos, já que o repertório ficou a cargo de cada banda. “Cada banda é única, por isso não demos nenhuma orientação com relação ao repertório. É surpresa mesmo”, afirma Roberta. “Mais do que um festival, é um encontro de pertencimento. As bandas representam o talento do interior e a expressão mais genuína da nossa mineiridade.”
Um momento de destaque é a performance da banda composta majoritariamente por crianças, vista pela organizadora como uma "sinalização de futuro" para a tradição.
Rafael Pitta é maestro da banda mirim Prefeito Antônio de Carvalho Cruz, de Diamantina, que se apresentou neste sábado e também participou, na última segunda-feira (17/11), da inauguração da iluminação de Natal da Praça da Liberdade. São 50 integrantes de 13 a 22 anos, que seguem um caminho iniciado em 1985, ano de surgimento do grupo musical, na cidade histórica mineira.
A banda costuma estar presente em eventos cívicos, festividades religiosas, procissões e outros tipos de eventos. "É uma alegria estarmos reunidos com bandas de várias cidades, uma honra estar com o Iepha na assinatura do termo de patrimônio imaterial. Um prazer trazer nossos jovens para BH, aqui nesse amontoado de músicos, todos com o mesmo objetivo, de fazer uma música boa", diz.
Para Rafael, a música ganha importância na vida dos integrantes. "A gente vê a transformação acontecer. Muitos seguem carreira como músicos, se encontram mesmo nessa profissão", conta.
Banda de Diamantina tem 50 integrantes entre 13 e 22 anos
Jeremias José Lopes Santos é instrumentista da Corporação Musical Perdoense, de Perdões, há 46 anos - ingressou ainda criança no grupo fundado em 1971 e toca baixo sousafone. Prestes a iniciar a apresentação na Praça da Liberdade, ele falou que não podiam deixar a peteca cair. "O nível das bandas e das músicas está muito bom e nos obriga a fazer mais. Costumamos viajar pelo interior e ser chamados para estar na capital é muito bom", pontua.
Judilene Carvalho de Moura é clarinetista na mesma banda. Para ela, essa é uma porta aberta para o intercâmbio musical e o desenvolvimento dos artistas. "É um momento significativo de união e troca de experiências entre os participantes. A música não se restringe apenas ao ato de tocar. É também uma oportunidade de fazer amigos, trocar ideias, conhecer outros arranjos. Para a comunidade musical, considero um evento desse tipo extremamente interessante", afirmou.
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Para o músico Bruno Rezende, membro da Associação Musical Santo Antônio, de Lagoa Dourada, o evento celebra a tradição das bandas de música em Minas Gerais. "É o resgate dessa cultura, um momento muito significativo, em reconhecimento aos mais antigos, aqueles que iniciaram essa tradição há centenas de anos."
Além de honrar o passado, o músico enfatiza a importância do encontro como um elo entre gerações. "É também uma forma de atrair o público mais jovem para a banda de música, de transmitir essa tradição aos mais novos. É a grandeza deste evento, que conta com a presença de mais de 1,2 mil músicos."
A técnica em biotecnologia Heloísa Alves de Oliveira acompanhava de perto o que ela considera ser uma importante manifestação cultural e histórica do estado. Ela fala sobre o significado do evento para a preservação e celebração da tradição musical mineira. "O encontro de bandas é algo que eu sempre acompanho porque, além de ser uma representação histórica das bandas de Minas, constitui o congraçamento de todas elas. Essa reunião é muito significativa para mim."
Natural do Espírito Santo, Sônia Maria Forrec Glória visitava o conjunto de museus na Praça da Liberdade quando se surpreendeu com a apresentação das bandas. À procura de atividades para preencher o dia, deparou-se com a música que resgatou memórias da infância. "Estava visitando o museu, buscando eventos, quando de repente ouvi a banda tocando na praça e me encantei. Há muito tempo que eu não ouço uma banda. Crescemos em área rural, onde o coreto era usado para música."
Com raízes no período colonial, as bandas de música mineiras continuam sendo símbolos de educação e cidadania
Companheira de Sônia no passeio, Rúbia Helena Forrec expressou sua admiração pelo evento. "Viemos passear em Minas Gerais e nos deparamos com esse fantástico evento, de valor inestimável para a cultura local. Todos que estão aqui podem participar gratuitamente e difundir a música como um meio de cultura do nosso país."
Formação e inclusão social
A programação teve início nesta sexta-feira (21/11) com ações formativas. O maestro Roberto Júnior, regente da Corporação Musical Nossa Senhora de Lourdes, de Vespasiano, conduziu uma vivência de teoria e prática de conjunto. Ele ressalta o papel das bandas como ferramentas de transformação social.
“As bandas atuam na inclusão social, na convivência e até na questão da segurança pública. Elas aproximam e emancipam as pessoas,” afirma o maestro, que compartilhou sua experiência pessoal de ter tido o horizonte ampliado por meio da música, destacando a importância da convergência entre os músicos.
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Com raízes no período colonial, as bandas de música mineiras continuam sendo símbolos de educação e cidadania, acompanhando a vida social do estado em festas cívicas e manifestações populares. O encontro celebra essa história e garante a continuidade desse patrimônio.
"Mais de 700 bandas de música de Minas Gerais continuam cantando e encantando a alma de todos os mineiros. Obrigada de coração a todos que nunca deixaram essa manifestação cultural tão intensa, tão mineira, passar", disse a secretária de estado de cultura e turismo de Minas Gerais, Bárbara Barros Botega, ao oficializar a expressão cultural como patrimônio imaterial do estado.
*Com informações de Daniel Barbosa
