Roupas de adulto e infantis, R$ 754 em dinheiro e documentos de uma senhora de 65 anos. Este era o conteúdo dentro de duas malas encontradas por moradores de Linópolis, distrito de Divino das Laranjeiras, no Vale do Rio Doce, há cerca de três meses. A bagagem misteriosa foi levada para o 18° Batalhão da Polícia Militar (PMMG), localizado na cidade, dando início a uma busca pela dona dos objetos perdidos e com desfecho feliz, como divulgado pela corporação no último domingo (16/11).

Durante uma viagem para visitar o pai em São José do Divino, pequena cidade da região, Benvinda Dias Vieira passou por um enorme sufoco. O trajeto já era comum para a mulher, que o faz mais de uma vez por ano, sempre acompanhada de uma pessoa, já que ela “toma fortes medicações psiquiátricas e possui uma saúde instável”, conta a irmã, Nilcileide Oliveira Tiago, de 66 anos.

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Mas, na última ocasião, em meio ao desembarque de outros passageiros do carro onde viajava, sua bagagem desapareceu. 

“O motorista deve ter desembarcado algum passageiro e desceu as malas dela (que estavam por cima das outras no porta-malas), deixou no chão e esqueceu de colocar de volta”, afirmou Paulo Borges, soldado da polícia militar que ajudou a resolver o caso. Segundo ele, o condutor era de confiança e sempre a acompanhava nessa viagem.

A mulher só percebeu a perda ao chegar em seu destino. Ela e o motorista suspeitaram que as duas malas, que foram guardadas no porta-malas, haviam sido roubadas por um garoto que esteve com eles em parte do trajeto, e apenas três meses depois, quando a polícia militar bateu na porta de Benvinda em BH, descobriram que estavam enganados.

A irmã da idosa, Nilcileide, com quem vive no Bairro Santa Cruz, Região Nordeste de Belo Horizonte, contou que a irmã ficou muito chateada. “Ela ficou revoltada, um mês falando nessa mala, tinham roupas novas com etiqueta e dinheiro dentro dela”, relatou a irmã. Além dos próprios pertences, havia roupas que a viajante doaria aos familiares carentes.

Segundo Paulo Borges, soldado da polícia militar que ajudou a resolver o caso, as bolsas foram encontradas por populares em uma rua de Linópolis, distrito de Divino das Laranjeiras, também no Vale do Rio Doce. O local fica a 373 km de Belo Horizonte.

A cidade faz parte do caminho até a casa do pai. Na bagagem havia, além do dinheiro, documentos da senhora – até então desconhecida –, nascida em 1960, cartão de crédito e roupas infantis, o que comoveu os policiais. Ele disse que esse tipo de ocorrência não é comum na região.

Busca incessante

“Para encontrá-la buscamos registros de qualquer boletim de ocorrência que ela pudesse ter feito – a partir deles poderiamos encontrar dados como telefone e endereço –, mas no nosso sistema não havia nenhuma anotação”, contou Borges. 

Inúmeras consultas em sistemas, verificações de dados, ligações e contatos para várias cidades. A cada tentativa frustrada, permanecia a determinação dos militares em dar um desfecho digno àquela história.

O soldado disse ainda que a procura envolveu militares de Ipatinga e Belo Horizonte, e que finalmente, um deles encontrou um registro de Benvinda Vieira na plataforma GOV.BR, do Governo Federal.

Assim, identificaram o endereço da mulher e os agentes do 16° Batalhão da PM da capital mineira foram até lá para dar a notícia. “Ela ficou muito feliz”, contou Borges, com a sensação de dever cumprido.

Nilcileide, irmã que divide o lar com Benvinda, contou que ficou surpresa quando a viatura chegou em sua casa. “Como vocês nos acharam aqui?”, indagou. Segundo a irmã mais velha, ela toma fortes medicações psiquiátricas e possui uma saúde instável, além de ser muita apegada a suas coisas.

“Às vezes, a imagem que a polícia passa é repressiva, de que atua só com crimes, mas também há essas coisas”, desabafou Borges. Ele destacou o papel das polícias em, além de combater a criminalidade, auxiliar a população em situações mais simples.

Ainda segundo ela, neste mês, Benvinda fez aniversário, e esse foi o seu maior presente. “Ela nunca casou. Quando tive meu filho ela o amou tanto que quis ‘roubá-lo’ e veio morar aqui em casa pra me ajudar. Nunca mais foi embora”, contou Nilcileide em meio a risadas.

Segundo o soldado Borges, para não precisarem se locomover até a casa de Benvinda na capital mineira, seus pertences foram entregues ao sobrinho dela, que vive em Central de Minas, cidade que também pertence ao Vale do Rio Doce. O sobrinho ficou emocionado ao receber aquilo e perceber o empenho das autoridades ao ajudar.

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos

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