Edson Alves Pereira, pai de Alice Martins Alves, conta que a filha já havia sofrido outras agressões além das ocorridas no dia 23 de outubro. Mulher trans, de 33 anos, Alice morreu no último domingo (9/11) por complicações dos ferimentos sofridos. Neste sábado (15/11), ocorreu a missa de sétimo dia dela.

 

Emocionado, Edson não deu detalhes sobre quando ou onde as outras agressões contra a filha ocorreram, mas associou os ataques, incluindo os que resultaram na morte de Alice, à transfobia. "Transexual não tem direito de viver em paz?", ele desabafou no velório da filha, que ocorreu na tarde da última segunda-feira (10/11).

Sobre o apoio que a família têm recebido após a repercussão do caso, Edson pediu para que continue assim. “Os LGBTs e as transexuais sofrem muito, vamos dar continuidade a essa situação, buscar soluções e apoio a essa comunidade”, afirmou.

Apesar de haver indícios que as agressões sofridas por Alice tenham sido motivadas por uma dívida de R$ 22, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) também trabalha com a hipótese de que a mulher foi vítima de transfobia. “É um local que ela já tinha o costume de frequentar, que ela já era conhecida, que conhecia as pessoas ali e já havia revelado que sentia um certo preconceito de algumas pessoas, alguns olhares maldosos, preconceituosos”, afirmou a delegada Iara França, do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios, da PCMG.

Ataque fatal 

Na madrugada da quinta-feira (23/10), Alice foi brutalmente agredida. O ataque teria sido motivado por uma conta de R$ 22 não paga pela vítima, que consumiu em uma tradicional pastelaria, localizada na esquina das ruas Fernandes Tourinho e Sergipe. Edson Alves Pereira, pai de Alice, afirma que essa possível motivação da agressão que resultou na morte da filha é “extremamente fútil". 

“Dinheiro ela tinha na bolsa. Andava com dois cartões, um particular dela, de um banco digital, e outro cartão que eu sempre deixava com ela para que ela não passasse nenhuma dificuldade na rua”, afirmou Edson.  

A PCMG confirmou que os dois principais suspeitos de terem cometido as agressões são funcionários do estabelecimento onde Alice havia consumido, o Rei do Pastel. Até o fechamento desta edição, eles ainda não haviam sido presos. A delegada Iara França, do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios da PCMG, informou que a corporação já realizou todas as diligências da Polícia Judiciária. No entanto, não houve a confirmação se um pedido de prisão preventiva ou temporária foi encaminhado à Justiça. 

“Acho que a lei vai se encarregar devidamente dessas pessoas”, afirmou Edson sobre os dois suspeitos de cometerem as agressões.

Avaliação do local

Meses antes do crime, Alice havia publicado na internet uma avaliação negativa relatando comportamento agressivo de um funcionário do Rei do Pastel, unidade localizada na Avenida do Contorno, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. “Mais um detalhe que [indica que] o local tinha problemas”, afirmou Edson. 

Na avaliação, a vítima relatou que os atendentes foram “extremamente agressivos” e que ela “quase foi agredida”, fato que não teria ocorrido apenas porque ela se sentou com outras mulheres no estabelecimento, segundo ela. Alice registrou ainda que um dos funcionários afirmou que ela não teria pagado pela conta e que só poderia deixar o local mediante pagamento.

A mulher afirmou que já frequentava o Rei do Pastel há muito tempo e jamais havia sido questionada sobre isso. “Lugar bem pesado e os atendentes são meio duvidosos”, escreveu. Ao final, afirmou que não pretendia voltar ao estabelecimento. O Estado de Minas procurou o dono do Rei do Pastel para pedir um posicionamento sobre essas novas informações, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

Depois de receber diversos comentários em suas redes sociais, o bar Rei do Pastel, que tem sete unidades em Belo Horizonte, publicou uma nota afirmando que está colaborando com as investigações da Polícia Civil. Na nota, divulgada na tarde dessa sexta-feira (14/11), o estabelecimento afirmou que desde que foram procurados pelos investigadores se colocaram à disposição das autoridades e entregaram todas as informações solicitadas.

A pastelaria também afirmou que não “compactua” com ações discriminatórias referentes à identidade de gênero, orientação sexual, raça ou qualquer outra natureza. “Ressaltamos a nossa solidariedade aos familiares e amigos de Alice”, afirmou o Rei do Pastel.

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