Há pouco mais de um mês, desde que os primeiros casos de suspeita de intoxicação por presença de metanol em bebidas no Brasil foram divulgados, alguns bares e restaurantes de Belo Horizonte seguem enfrentando os efeitos da crise. Mesmo sem nenhuma ocorrência confirmada em toda Minas Gerais, esses estabelecimentos na capital mineira se deparam com um cenário de queda no número de clientes e pedidos de drinques que envolvam destilados. 

“As pessoas ainda estão muito receosas. Na última semana, consegui vender um quarto do que eu vendia. Na sexta, vendi apenas 30 drinques, e 40 no sábado, são números muito baixos. Estou tentando trabalhar com o que a casa tem, com as comidas, por exemplo”, contou Antônio Mello, sócio-proprietário do “Baixaria”, bar localizado no Centro de BH. 

A reportagem do Estado de Minas conversou com Antônio no início de outubro. Na ocasião, o sócio-proprietário já havia compartilhado o sentimento de incerteza e insegurança em relação às vendas. Na tentativa de reverter esse cenário, Antônio explicou, em nova entrevista, que, junto aos seus sócios, estão programadas duas festas em novembro. 

“Estou apostando em dois eventos. Consegui trazer para cá a "Alta fidelidade", que é de um amigo, e uma festa de música brasileira gigantesca também, que acontece em lugares maiores”, disse. “Não adianta fazer uma campanha de drink sem álcool, não acredito que essa seja a saída”, completou. 

Na mesma data, Marcelo Doche, sócio-proprietário do “Bença Bençoi”, estabelecimento localizado na Região Noroeste de BH, relatou ao EM que o comércio registrou uma queda de quase 50% nos pedidos de drinques. Um mês depois, o cenário é praticamente o mesmo, com a diminuição não somente dos pedidos, como também de clientes.

“Escutamos muitos comentários, brincadeiras do tipo: ‘Ah, tem metanol?’. Aquelas perguntas, meio que indiretas. Não teve só uma queda no pedido de drinques. Todo o movimento do bar caiu. Toda essa queda impactou diretamente no nosso faturamento. O lucro é, normalmente, em cima dos drinques e das comidas”, explicou Marcelo. 

Por outro lado, o proprietário do “Bebedouro - Bar e Fogo”, na Pampulha, Diogo Manfredini, contou que o movimento no estabelecimento está voltando ao normal. “Houve uma queda de 20% a 30% nos pedidos de drinques e uma mudança nos hábitos de consumo, dando preferência a outros tipos de bebidas. Mas, o movimento já começou a ser retomado”, disse.

De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado na sexta-feira (31/10), 59 casos de intoxicação por metanol foram divulgados. Há ainda 45 notificações suspeitas em investigação. Outros 682 casos foram descartados. Já o número de mortes permanece em 15. 

A maioria dos casos confirmados aconteceu no estado de São Paulo, que registra 46 confirmações e nove notificações em investigação. Também há casos confirmados no Paraná (6), em Pernambuco (5), no Rio Grande do Sul (1) e em Mato Grosso (1). 

Além de São Paulo, outros oito estados possuem casos suspeitos de intoxicação. Pernambuco investiga 20 notificações, Piauí (5), Paraná (4), Mato Grosso (2), Rio de Janeiro (2), Bahia (1), Mato Grosso do Sul (1) e Tocantins (1). 

Do total do número de óbitos confirmados (15), nove são no estado paulista, três no Paraná e três em Pernambuco. Já os que estão em investigação caíram para seis - sendo dois em São Paulo, três em Pernambuco, um no Rio de Janeiro e um no Mato Grosso do Sul. Outras 40 notificações de óbitos foram descartadas.

Situação em Belo Horizonte 

Mesmo sem casos confirmados na capital mineira, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou, em nota, que a Secretaria Municipal de Saúde enviou aos trabalhadores da rede SUS-BH uma orientação para conduzir as equipes na identificação de possíveis casos de intoxicação e na assistência a ser prestada, caso seja necessário. 

A pasta ainda está intensificando vistorias em estabelecimentos. O Executivo municipal também destacou que a Vigilância Sanitária da capital está participando de ações integradas com outros órgãos de fiscalização. Caso os moradores percebam qualquer irregularidade, as denúncias devem ser registradas nos canais oficiais de atendimento disponibilizados pela Prefeitura, como o Portal de Serviços ou o telefone 156.

Em Minas Gerais

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) explicou que, mesmo sem registros de casos suspeitos de intoxicação pela substância, está orientando os serviços de saúde e alertando a população mineira sobre o tema.

A pasta ainda informou que encaminhou orientações às regionais de saúde, reforçando a necessidade de notificação imediata de qualquer suspeita. Ao bares e comércios, restaurantes e lojas que vendem bebidas alcoólicas, a SES-MG orienta comprar esses produtos apenas de fornecedores legalizados, verificar a origem das bebidas e guardar as notas fiscais, além de reforçar o controle interno e suspender imediatamente a venda de bebidas suspeitas. 

Quais orientações os consumidores devem seguir?  

A forma mais segura de se prevenir é a atenção à procedência da bebida. Dentre as orientações do Ministério da Saúde está a de não consumir bebidas alcoólicas vendidas de forma informal, sem lacre, rótulo de segurança ou selo fiscal da Receita Federal; desconfiar de produtos com preço abaixo da média do mercado; verificar se o rótulo contém informações claras, como o nome do fabricante, ingrediente e número de registro no Ministério da Agricultura. 

Os sintomas podem demorar de seis a 72 horas para aparecer após o consumo da bebida contaminada. Sensação de embriaguez que não passa, acompanhada de náuseas, vômitos, dor abdominal e desconforto gástrico são alguns dos sintomas iniciais. Os intoxicados também podem apresentar sinais neurológicos, como dor de cabeça, tontura e confusão mental.

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Caso apresente algum sintoma, a recomendação é procurar imediatamente o serviço de emergência mais próximo. Não se deve esperar os sintomas piorarem, o tratamento rápido é essencial para evitar sequelas irreversíveis.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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