Minas se despede do jornalista e compositor Gervásio Horta
Gervásio morreu aos 88 anos, vítima de um AVC, em um hospital de Belo Horizonte. O corpo foi encontrado em sua casa pelos sobrinhos
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O jornalismo e a música mineiras estão de luto. Morreu, neste final de semana, aos 88 anos, vítima de um AVC, Gervásio Horta, que foi sepultado nesse domingo (23/11), no Cemitério Parque da Colina.
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Filho e neto de professoras de piano, Gervásio nasceu em Teófilo Otoni, em 2 de agosto de 1937. Sua família é de políticos tradicionais na região de sua cidade natal. Em 1954, a família mudou-se para Belo Horizonte. Dois anos depois, ele foi para o Rio de Janeiro, onde fez o curso de administração, na Fundação Getúlio Vargas.
No Rio, tornou-se jornalista e retornou a BH em 1959, para trabalhar na extinta revista “Silhueta”. Em 1961, tornou-se assessor especial do governo de Minas Gerais. Nesse período, trabalhou nos jornais Última Hora e Diário da Tarde. Montou, também, uma agência de publicidade, dedicando-se a campanhas políticas.
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Gervásio morreu em casa. Seu sobrinho, Brian Horta, conta que tentou falar com o tio, na quinta-feira, mas não obteve resposta por celular. Na sexta-feira, a empregada da casa ligou, dizendo que Gervásio não estava abrindo a porta da casa, sendo que seu carro estava na garagem. “Fui até a casa, junto com meu irmão. Abrimos a porta e o encontramos caído. Nós o levamos para o Hospital Vera Cruz e, de lá, foi transferido para o Life Center, onde faleceu”, conta Brian.
Músico e compositor
A partir de 1962, Gervásio foi convidado pelo compositor e jinglista Miguel Gustavo, para desenvolver campanhas políticas. Isso aguçou ainda mais o músico.
O músico compôs para os candidatos a governador Lomanto Junior (Bahia), Francisco Alencar (Espírito Santo) e Íris Rezende (Goiás). Em Minas, compôs jingles para os governadores Magalhães Pinto, Hélio Garcia, Newton Cardoso, Israel Pinheiro e Itamar Franco. Também compôs para a campanha de Fernando Collor de Melo à Presidência e dezenas de composições para senadores, deputados e prefeitos, mas se destacou a partir do momento em que passou a compor sambas.
A alavancada da carreira de compositor foi uma composição para a Greve Nacional dos Bancários, que despertou a atenção de ninguém menos que Lamartine Babo, que tinha um programa de rádio. Na época, Gervásio era bancário, no Rio de Janeiro.
Esse jingle, da campanha, teve a letra mudada e tornou-se a música de carnaval “Sete Amores”, com arranjo de Altamiro Carrilho. Gervásio passou a integrar o grupo de cantores da extinta TV Itacolomi.
Depois disso, teve a música “Beijo Roubado” gravada, em parceria, por Nélson Gonçalves e Lourival Pereira. Isso aconteceu em 1961, mesmo ano em que compôs, em parceria com Rômulo Paes, a marcha carnavalesca “A Rua da Bahia”.
Em 1971, Jorge Goulart gravou, de sua autoria, a marcha “Só deixo a rua pra ficar com ela”, música apresentada na parte nacional do “Festival de Músicas de Carnaval de BH”.
Em 1972, compôs o frevo “Bloco do pega-pega”, que foi gravado por Jackson do Pandeiro.
No total, Gervásio compôs 150 músicas, sendo considerado, até hoje, o cantor e compositor da memória de Belo Horizonte. Entre seus grandes sucessos estão “Adeus Lagoinha”, música que lembra o saudoso bairro tradicional de BH e “Bela Belô”, que fla dos pontos tradicionais da capital mineira. Também fez uma música que conta a história dos “Cemitérios de BH”.
Fez também uma música para o time de futebol de seu coração, o Cruzeiro, “Cruzeiro Centenário”. E homenageou, ainda, adversários de campo, como América e Villa Nova.
É autor do samba-enredo “Mamãe, eu quero fruta”, gravado por Jorginho do Império. Fez também o samba da campanha das “Diretas Já”.
Em 1996, lançou o CD “Amigos & canções”. Em 2000, o disco “Cacos de vida”. Produziu os CDs “Rômulo Paes e coisas mais” e “Minas – o estado da música”, do cantor e radialista Acir Antão. Produziu o CD “60 anos de canção”, de Acir Antão, em comemoração ao seu aniversário de 60 anos. Em 2003, lançou o CD “Praça Sete”, seu último trabalho.