Minas propõe novo protocolo para diagnóstico precoce de câncer de próstata
Nova diretriz inclui ressonância magnética multiparamétrica antes da biópsia e reforça integração da rede de atenção à saúde do homem
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Entre 2019 e 2023, Minas Gerais registrou 36.416 casos de câncer de próstata em hospitais de referência. As regiões Centro, Sudeste, Extremo Sul e Oeste concentram mais registros. A doença costuma apresentar sintomas somente em estágios avançados. Com foco em ampliar o diagnóstico precoce, o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões, anunciou, nesta terça-feira (18/11), a proposta do Protocolo Estadual de Cuidado da Próstata.
O documento, elaborado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), orienta a investigação de homens com suspeita de câncer prostático na rede pública e será submetido à Comissão Intergestores Bipartite (CIB), instância de negociação entre gestores municipais e o gestor estadual do Sistema Único de Saúde (SUS).
A proposta inclui a realização da ressonância magnética multiparamétrica da próstata antes da biópsia. O exame aumenta a precisão diagnóstica e reduz a necessidade de procedimentos invasivos, como a própria biópsia.
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Para ampliar o acesso, o Estado propõe aporte financeiro próprio, equivalente a 53% do valor da tabela do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos e Medicamentos do SUS, condicionado à aprovação da CIB.
Desenvolvido em cooperação técnica com a Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), o protocolo segue as recomendações do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e organiza o fluxo de atendimento, desde a atenção primária até os serviços especializados. A diretriz não prevê rastreamento populacional, mas prioriza a investigação de sintomas e alterações no PSA (antígeno prostático específico).
O que muda?
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Luiz Otávio Torres, o PSA pode se alterar por diversos motivos, como infecções. Por ser sensível, exige preparação prévia, atividade física, relação sexual ou masturbação podem afetar o resultado.
“Vale destacar que o PSA e o toque retal são exames complementares. Um não exclui o outro. Havendo alteração em qualquer um deles, o paciente realiza a ressonância magnética para análise aprofundada. Só então é indicada a biópsia, caso haja suspeita de câncer”, enfatiza.
O especialista explica que se utiliza a medida PI-RADS, padronização criada para interpretar e relatar ressonâncias magnéticas da próstata. A ferramenta orienta biópsias dirigidas e auxilia em decisões terapêuticas. “As duas últimas escalas indicam a necessidade de biópsia, um procedimento invasivo.”
- PI-RADS 1: muito baixa probabilidade de câncer clinicamente significativo
- PI-RADS 2: baixa probabilidade
- PI-RADS 3: probabilidade intermediária
- PI-RADS 4: alta probabilidade de câncer clinicamente significativo
- PI-RADS 5: muito alta probabilidade
Confusão
Durante o anúncio, Simões disse que a ressonância magnética substituiria o toque retal. “O toque retal deixa de ser um procedimento padrão para diagnóstico em câncer de próstata. PSA alterado, pelo nosso protocolo, indica a realização, a partir de agora, de ressonância magnética na nossa rede conveniada. Claro, cada médico irá adotar o procedimento que achar mais adequado”, afirmou.
Em outro momento: “Passamos a ser o primeiro Estado do Brasil em que a ressonância magnética substitui o toque e o ultrassom como diagnóstico padrão a partir do PSA alterado”.
Como explicado, Luiz Otávio reforça que o PSA não substitui o toque retal, e vice-versa, destacando que a ressonância magnética é um exame muito mais caro que os métodos preventivos.
Medo
A fala pode gerar confusão e reforçar o medo em torno do toque retal, que também auxilia na identificação de outras condições, como câncer de intestino.
Um estudo do Hospital de Câncer A.C.Camargo, em parceria com a Nexus, revelou que três em cada dez homens nunca fizeram e não pretendem fazer o exame. Além disso, 44% desconhecem as formas de prevenção do câncer de próstata, que causou 17.587 mortes no Brasil em 2024 - cerca de 48 por dia.
“Muitos homens ainda associam o exame ao constrangimento ou a uma ameaça à masculinidade. Nosso papel é trazer naturalidade e informação”, afirma o urologista Guilherme Valente, da Rede Mater Dei de Saúde.
O especialista lembra ainda que cerca de 20% dos tumores são identificados apenas pelo toque retal, mesmo em pacientes com PSA normal. “A avaliação ideal combina os dois exames, considerando idade, histórico familiar e fatores de risco individuais”, reforça.
Saúde masculina
Junto ao anúncio, o Mercado Central recebeu, ao longo do dia (18/11), diversas ações voltadas para a promoção da saúde masculina. Das 9h às 15h, o público teve acesso à aferição de pressão arterial, orientações de saúde com profissionais da rede pública, atividades preventivas e materiais informativos sobre cuidados contínuos.
As ações foram gratuitas e abertas ao público, reforçando a importância da prevenção na rotina dos homens de todas as idades.
Além dos exames, os participantes tiveram acesso às ativações das instituições parceiras, como Faculdade de Ciências Médicas da UFMG, Fhemig, Hemominas, Mário Penna, Feluma, Hospital da Baleia e Santa Casa.
O aposentado Marcos Vinícius, 65 anos, foi um dos presentes. Ele soube da ação pela televisão e, por morar perto, decidiu comparecer. “Minha pressão deu 14 por 8, mas provavelmente porque vim caminhando nesse calor”, brinca. Após a aferição, seguiu para a dosagem sanguínea do PSA.
“A campanha poderia ser realizada durante todo o ano. É mais cômodo do que ir ao posto de saúde”, comentou o autônomo Antônio José Almeida, 54 anos. Para ele, os homens costumam se acomodar e não buscam prevenção, diferentemente das mulheres. “Prevenir evita diagnósticos tardios.”
A recomendação é que todas as pessoas que possuem próstata consultem o urologista anualmente a partir dos 45 anos — ou aos 40, em caso de histórico familiar.
Braz Domingos, 68 anos, também ficou sabendo da iniciativa pela TV. Tratando diabetes desde 2004, afirma ser muito exigente com a própria saúde. “Eu prefiro me cuidar. Se cheguei até aqui bem, é porque me preveni. Tenho um colega que não faz isso e está acabado. Meu primo brincou que vou viver até os 150 anos de tanto que me preocupo”, relata. Ele realizou a coleta sanguínea para o PSA e aguardará o resultado.
Bacchereti destacou que muitos homens “se sentem super-heróis”, o que contribui para a falta de prevenção de doenças, especialmente condições crônicas, como hipertensão e diabetes. “É comum que, em palestras sobre prevenção, a maioria seja de mulheres. Por isso, é preciso insistir na importância da saúde masculina desde a infância - vacinação contra HPV, cuidados contínuos e atenção a doenças que também os acometem, como o câncer de intestino, para o qual a colonoscopia é tão importante quanto para as mulheres.”
A próstata, tema central do anúncio, está associada ao tipo de tumor mais comum entre os homens, depois do câncer de pele. Apesar de sua alta incidência, ainda há grande tabu sobre o assunto. “É fundamental reforçarmos a busca ativa por prevenção e promoção da saúde masculina.”