ARBOVIROSES

Por que a chegada da chuva traz preocupação também com nuvens de mosquitos?

Após recorde de casos de dengue em 2024, Minas teve período de alívio, mas preocupação volta com a estação chuvosa, favorável à reprodução do Aedes aegypti

Publicidade
Carregando...

O início do período chuvoso acende o alerta para o aparecimento dos primeiros casos de arboviroses em Minas. Depois de enfrentar a pior epidemia de dengue da história, em 2024, o estado teve um ano com redução nos registros de casos e mortes pela doença, assim como ocorreu em todo o país. Segundo o Ministério da Saúde, houve queda de 75% nos diagnósticos este ano em comparação com o anterior. A pasta informa ainda que a maior concentração de casos é observada em São Paulo, responsável por 55% dos registros, seguido de longe pelo território mineiro, com 9,8%. Neste ano, os casos e mortes ficaram concentrados na Região do Triângulo.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O ESTADO DE MINAS NO Google Discover Icon Google Discover SIGA O EM NO Google Discover Icon Google Discover


De acordo com o painel de vigilância epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), neste ano foram registrados 112.953 casos confirmados e 135 mortes pela doença, até a 45ª semana epidemiológica. No mesmo período do ano passado, o estado tinha 1.401.331 casos e 1.214 mortes. O Triângulo Mineiro concentra 55.902 casos e 87 mortes por dengue este ano, contra 80.500 diagnósticos e 98 óbitos no mesmo período de 2024. A Saúde estadual informa que trabalha para enfrentar um cenário que pode ser complexo, com a possível circulação dos sorotipos 2 e 3 do vírus simultaneamente, combinando iniciativas de prevenção e combate ao mosquito Aedes aegypti.


Prevenção e tecnologia

Nesta semana, o Ministério da Saúde lançou a campanha nacional “Não dê chance para dengue, zika e chikungunya”, voltada para a prevenção das arboviroses, além de anunciar mais R$ 183,5 milhões para ampliar o uso de novas tecnologias de controle ao mosquito transmissor no país.


O ministro Alexandre Padilha disse que, mesmo diante da redução dos casos e mortes em relação a 2024, não se pode baixar a guarda, já que a dengue continua sendo a principal endemia do país. “E o impacto das mudanças climáticas amplia o risco de transmissão em regiões onde antes o mosquito não existia”, afirmou.


O 3º Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), feito pela pasta em 3.223 municípios entre agosto e outubro deste ano, mostra que 30% das cidades estão em situação de alerta para dengue, chikungunya e zika.


Com os R$ 183,5 milhões previstos, o ministério pretende ampliar o uso de tecnologias para redução da capacidade de transmissão do vetor, como o método Wolbachia, além de ampliar medidas como uso das Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDL), a técnica do inseto estéril e a borrifação de inseticida dentro de moradias.


Panorama no estado

A Secretaria de Estado de Saúde informa que reforçou as iniciativas de prevenção e combate às arboviroses em todo o estado. Entre elas, cita o Plano Estadual de Contingência para Enfrentamento das Arboviroses, que orienta a resposta ao cenário epidemiológico com ações de vigilância, controle vetorial, capacitação de profissionais de saúde, mobilização social e descentralização de insumos e equipamentos, priorizando regionais com mais ocorrências.


O plano de contingência, segundo a pasta, prevê ações específicas para o período de seca, com reforço das atividades de campo e medidas educativas voltadas para a eliminação de criadouros e preparação dos municípios para o período chuvoso, de maior risco. As ações incluem a atualização dos planos municipais de contingência e o monitoramento contínuo dos insetos.


O governo do estado destinou R$ 23,6 milhões a ações emergenciais neste ano, e prevê R$ 47,3 milhões em compromissos para anos seguintes. Adicionalmente, foram repassados R$ 35,1 milhões por meio de consórcios intermunicipais, destinados à descentralização de recursos, aquisição de insumos, equipamentos e tratamento de áreas críticas, de acordo com a SES-MG.


O subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi, ressalta que o cenário da dengue este ano é bem diferente do enfrentado em 2024 no estado. “Quem mora no Triângulo, por exemplo, vivenciou um cenário mais complexo, com maior número de casos, de sorotipo 2 e 3 em circulação.”

----------------------------------------------------------------------------

“É uma doença complicada, que tem que ser levada a sério. Mas, mesmo tomando todos os cuidados, ainda assim o mosquito está por aí.”

Juvenal Messias
Aposentado, de 66 anos, morador do Bairro Fernão Dias, que teve dois quadros seguidos de dengue

----------------------------------------------------------------------------

Prosdocimi diz que a pasta está preparada para enfrentar um cenário com a circulação dos dois sorotipos ao mesmo tempo no estado. “É melhor termos um sistema de preparação muito robusto, para que a resposta possa ser maior ou menor, mas que estejamos preparados para ela. É o grande objetivo do estado de Minas Gerais. Estamos à disposição dos municípios, consórcios e prestadores, para enfrentar esse período. Esperamos que não seja como em 2024, nossa maior epidemia, mas estamos preparados para dar a resposta.”


DRONES E VACINAS PARA A PREVENÇÃO

O subsecretário de Vigilância em Saúde ressalta que drones estarão disponíveis para fazer monitoramento de situações de risco em todo estado. “Todos os municípios são atendidos, seja diretamente, pelo serviço, ou pelos consórcios intermunicipais de saúde.”


Sobre a vacinação contra a dengue, a SES-MG informa que segue a recomendação do Ministério da Saúde para imunizar crianças e adolescentes de 10 a 14 anos nos municípios contemplados pela estratégia nacional. Nos locais com vacinas que estejam perto do vencimento, é autorizada a ampliação da faixa etária de 4 a 59 anos. Em 2024, foram aplicadas cerca de 264 mil doses da vacina contra a dengue, e, em 2025, aproximadamente 209 mil já foram registradas.


O quadro na capital

Resultados do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) de 2025 mostram que em cerca de 0,6% de 53 mil imóveis visitados em Belo Horizonte foi identificada a larva do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. A Regional de Venda Nova é a de maior incidência, com 1%.


O estudo é feito anualmente pela prefeitura para identificar as áreas com mais focos e os tipos de criadouros mais comuns. O resultado classifica a capital como área de baixo risco. Segundo padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde, índices iguais ou superiores a 4% indicam risco alto; entre 1% e 3,9%, risco médio, e inferiores a 1%, risco baixo.


O levantamento também identificou que 88,8% dos focos do mosquito estão em ambientes domésticos. Os criadouros predominantes encontrados em residências foram pratinhos de plantas, com 40,8%, redes pluviais – como ralos e canaletas – com 9,9%, objetos sem utilidade e recipientes domésticos, com 7,7%, e caixas d’água, com 7,4%.


Segundo o boletim divulgado pela PBH, em 2025, até 7 de novembro, foram confirmados 1.416 casos de dengue e uma morte pela doença. Nesse mesmo período de 2024 eram 205.059 casos confirmados e 124 mortes.


O Executivo municipal ressalta que, durante todo o ano, a Secretaria Municipal de Saúde mantém ações de vigilância e combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Agentes de combate a endemias percorrem imóveis reforçando orientações sobre os riscos do acúmulo de água em locais que podem se tornar potenciais criadouros do mosquito, além de orientar sobre como eliminar esses criadouros e, se necessário, fazer a aplicação de larvicidas. Em 2025, foram feitas cerca de 3,7 milhões de vistorias.


O monitoramento é feito ainda por meio de drones, facilitando a identificação de possíveis focos. Os equipamentos também são utilizados para a aplicação de larvicida diretamente nos locais de risco, quando estes são de difícil acesso para a equipe de Zoonoses. Até o momento, foram feitos 54 sobrevoos, com a identificação de quase 7 mil focos em potencial nas nove regionais do município.


A capital conta ainda com mais de 1,7 mil armadilhas instaladas em pontos estratégicos das regionais para monitorar a circulação do Aedes aegypti e intensificar ações preventivas em áreas definidas. As armadilhas simulam o ambiente ideal para a reprodução que atrai as fêmeas. Somente em 2025 foram feitas mais de 59 mil visitas para monitoramento. Outra ação citada pela PBH é o uso do método Wolbachia, além de ações educativas.


A ameaça da dengue

A equipe do Estado de Minas percorreu alguns bairros da Região Nordeste de BH, a regional com maior número de casos confirmados em 2025: 238. Lá, a pensionista Aparecida Gomes, de 65 anos, moradora do Bairro Fernão Dias, relata que os relatos de dengue são frequentes na vizinhança. Conta ainda que agentes da Prefeitura de BH fazem vistorias regulares aos imóveis.


Além de mosquitos, a idosa diz que há outros vetores de doenças no bairro, como ratos, baratas e escorpiões. Apesar de nunca ter contraído a doença, dois irmãos e uma cunhada que vivem no mesmo imóvel que ela tiveram dengue, além de alguns vizinhos.

Um deles é o aposentado Juvenal Messias, de 66 anos, que teve dengue três vezes. “É uma doença complicada, que tem que ser levada a sério. Mas, mesmo tomando todos os cuidados, ainda assim o mosquito está por aí.”


Ele conta que, no ano passado, foram duas contaminações seguidas. “Peguei de dezembro para janeiro; me recuperando, por volta de março, peguei de novo. Foi uma atrás da outra. A recuperação foi complicada”, desabafa. O aposentado diz que ainda sente cansaço e comprometimento do sistema respiratório em decorrência da doença.


Responsabilidade na prevenção

O epidemiologista Geraldo Cury, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, lembra que é fundamental eliminar criadouros do mosquito, que estão, em sua grande maioria, nas moradias. “A população tem uma grande responsabilidade na prevenção.”


Para ele, o papel do poder público é fazer campanhas de conscientização, além da limpeza de áreas que podem se transformar em focos, como terrenos e locais abandonados. “E também oferecer atendimento médico para população que esteja doente.”


O combate efetivo à dengue, segundo o especialista, deve ocorrer quando houver vacina que possa ser produzida em larga escala para imunizar a população. “Embora existam outras arboviroses, como chikungunya e zika, que também são transmitidas pelo mosquito”, lembra. “Temos o exemplo da febre amarela, que matava muita gente. Depois apareceu a vacina e a doença praticamente deixou de existir. Mas, com a volta do mosquito e as pessoas que não se vacinam, a chance de ela voltar também existe.”


Iniciativas como o método Wolbachia e o uso de drones com larvicida também são consideradas importantes pelo epidemiologista. “São várias ações que, combinadas, promovem uma mudança importante.”


Biofábrica Wolbachia

A Biofábrica Método Wolbachia, do governo de Minas, localizada no Bairro Gameleira, Região Oeste de BH, inaugurada em abril de 2024, já produz os mosquitos que devem ser soltos em 2026. O equipamento é administrado pela SES-MG e pela Fiocruz, e foi construído com recursos de parte do acordo judicial firmado com a Vale, em razão dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019. A participação da mineradora também prevê o custo das operações da estrutura por cinco anos.


As obras da biofábrica começaram em fevereiro de 2023 e a estrutura conta com instalações de laboratórios e espaços destinados ao setor administrativo, tudo para atender a estimativa de produzir semanalmente 2,5 milhões de mosquitos. Quando inseridos no meio ambiente, eles se reproduzem com os Aedes aegypti locais e estabelecem uma população com a bactéria, que impede que os vírus se desenvolvam. Isso contribui para a redução da transmissão das arboviroses.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia


Pelo termo de compromisso, na primeira fase do projeto os mosquitos com a bactéria seriam soltos, com a concordância da população, em Brumadinho e em outros 21 municípios vinculados à Bacia do Rio Paraopeba.


“Já iniciamos, inclusive, o processo de mobilização dos municípios da bacia. Demos o pontapé inicial do processo de mobilização da sociedade, para a posterior soltura dos mosquitos nos municípios”, afirma o subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi.

Tópicos relacionados:

dengue minas-gerais saude

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay