Pais protestam contra ameaça de fim do ensino integral em escola da UFMG
Comunidade escolar se mobiliza diante de incerteza sobre o futuro do ensino em tempo integral no Centro Pedagógico da UFMG
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Pais e responsáveis de alunos do Centro Pedagógico (CP) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ocuparam a porta da escola pública de ensino fundamental com mais de 70 anos de tradição, na tarde desta segunda-feira (27/10). A manifestação se deve à possível extinção do ensino integral na unidade, localizada no campus Pampulha, em Belo Horizonte, e a falta de transparência da direção sobre as decisões.
A apreensão cresceu após a instituição não responder a questionamentos sobre rumores de mudança no modelo, segundo relatos ouvidos pelo Estado de Minas. Como reação, foi criado um abaixo-assinado on-line em defesa da manutenção do horário estendido, que, até a última sexta-feira (24/10), já reunia mais de 1046 assinaturas, além de um requerimento sugerindo a manutenção do ensino, com participação popular.
Os membros da comunidade escolar alegam uma movimentação interna da direção sobre o assunto, sem o consentimento dos pais, que se dizem “às cegas”. Segundo eles, uma comissão externa à universidade afirma que há dificuldades orçamentárias e de recursos humanos enfrentadas pela UFMG, e lança dúvidas quanto à viabilidade de manter o horário integral diante das restrições impostas pelo teto de gastos do governo federal, anunciado em maio deste ano. A extinção do modelo é justificada, conforme informado pelos pais, como opção devido ao cenário de cortes.
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O receio pela descontinuidade do modelo mobilizou os familiares, que se organizaram em um grupo online “Pais pelo Integral”, composto por cerca de 200 responsáveis, engajados em preservar o formato que consideram essencial para o desenvolvimento dos mais de 400 alunos atendidos pela instituição e para a rotina das famílias.
Preocupação
Na porta da escola, os familiares se juntaram à manifestação, com cartazes destacando o apelo e erguidos para o alto. Uma das mães, Vanessa Cristina Gonzaga, ressaltou o pedido de manutenção do tempo integral e o espaço de participação nas decisões tomadas pela direção.
“Queremos participar do processo. O prejuízo é principalmente pedagógico, porque é uma redução significativa na carga horária, algumas disciplinas serão reduzidas. E para a estrutura familiar, é uma reorganização. As crianças que dependem do transporte escolar também serão prejudicadas”, afirmou. Segundo ela, desde o ano passado circulam rumores sobre uma possível revisão no regime integral, mas a universidade não tem se posicionado de forma clara.
Glaucia Moura é mãe solo e teme que a decisão seja tomada de forma “antidemocrática”. “Tenho dois filhos e ambos estudam no CP. Eles ficam de 7h até 14h20, e permite que eu trabalhe. Caso eu tenha que buscar eles às 11h, como fica a vida em família, especialmente a questão financeira? Fora que sonhamos com um ensino de qualidade, e sabemos que aqui é diferenciado. Queremos ajudar, mas sem participar, não tem como”, lamenta ela.
Qualidade do ensino
Ana Flávia Moreira Santos, também presente na manifestação, destacou a perda da profundidade das aulas. “Sabemos que há uma movimentação para acabar com o tempo integral. Estamos muito preocupados, porque admiramos muito a qualidade da escola. Aqui temos um ensino que não é restrito à passagem de conteúdos. O horário estendido permite que nossos filhos tenham uma educação ampla, humanista e completa, com artes, línguas estrangeiras, e contato com frentes de pesquisas diferenciadas. Não devemos admitir esse retrocesso”, desabafou.
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Um pai, que preferiu não se identificar, concordou ao dizer que a tendência é a escola se tornar “conteudista”, ou seja, adotar uma tradição de ensino que prioriza a transmissão de conteúdos por parte do professor, enquanto a metodologia de ensino e aprendizagem, e o aluno são deixados em segundo plano. Isso porque, segundo ele, a redução do horário deixa inviável aprofundar as áreas de conhecimento.
Da mesma forma, Cristiane Pinto, diz que a instituição está fazendo um movimento contrário ao de outras instâncias, que estão tentando instalar o sistema integral para as crianças. “É uma escola em que os alunos têm matérias que despertam outros tipos de conhecimento. Com a perda desse tempo, percebemos que vão ficar apenas no básico. Vai colocar em risco uma educação de qualidade”, acrescentou ela.
Pequenas grandes vozes
Na saída da escola, uma euforia peculiar surgiu na forma de protesto mirim. Além dos adultos, as crianças também quiseram manifestar a frustração e o que representa para eles a interrupção das aulas. A pequena Laura, de 9 anos, foi uma das grandes vozes ouvidas pela reportagem. Ela contou que estuda das 7h às 14h, e que as aulas de Artes e Educação Física são suas preferidas. “Gosto muito daqui e acho um bom lugar para estudar”, compartilhou. Helena, de 10 anos, também se encanta pela área artística e parabenizou os mais velhos, especialmente a mãe que foi buscá-la, pela manifestação.
A aluna Bárbara Fernandes Oliveira deixou um comentário carregado de indignação. “Não quero que acabe com o ‘integral’, porque toda criança merece um integral, principalmente o 1ºano”, mencionou. Amanda, 10, se juntou às colegas e expressou a opinião ao EM. “Concordo com a reivindicação e concordo com a ampliação do horário, porque de 7h30 às 14h30 é pouco, podia ser até mais tarde, senão não vamos aprender quase nada. E aposto que se diminuíssem, não iriam colocar o ‘recreio’, e não teríamos tempo de brincar… acho que não teria nem almoço”, relatou ela.
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Procurada pela reportagem, a UFMG não se manifestou até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.