Em um país com a média de 5 mil pessoas mortas ao ano por atropelamentos, como mostrou o Estado de Minas em sua edição de ontem, o sinal amarelo para esse tipo de acidente, agravado por imprudência e falta de infraestrutura, se concentra sobretudo nas grandes cidades brasileiras. Nesse cenário, Belo Horizonte não é exceção. O último levantamento anual consolidado da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMUR) mostra que a capital mineira registrou mais de 4 acidentes por dia envolvendo pedestres, em média, resultando na proporção de um óbito a cada 10 dias, aproximadamente, em 2023.
Naquele ano, foram atropeladas em BH 1.477 pessoas, das quais 36 morreram e 1.441 ficaram feridas. Do total de vítimas, 370 (25%) tinham mais de 60 anos. Ano a ano, os números mostram que a tendência de alto número de acidentes do tipo se mantém na capital, com variações discretas. Em 2021, foram registradas na cidade 1.082 ocorrências de trânsito tendo pedestres como vítimas, entre os quais 37 perderam a vida. No ano seguinte, o quadro foi ainda mais trágico, com 1.277 acidentados e 41 óbitos. Já dados preliminares de 2024 apontam 1.251 pedestres envolvidos nesse tipo de desastre.
Entre as principais causas de atropelamentos estão a imprudência de motoristas, com atitudes como avanço do sinal vermelho, combinadas com a alta velocidade dos veículos. Contribui também para esse tipo de ocorrência a desatenção de pedestres, que, muitas vezes, atravessam fora da faixa ou em locais inapropriados ou usam celulares e fones de ouvido. É o que afirma Jussara Bellavinha, subsecretária de Operações de Transporte e Trânsito, da SMMUR.
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Erros dentro e fora dos carros
Ela afirma que a Prefeitura de BH, por meio da secretaria, da Superintendência de Mobilidade (Sumob) e da BHTrans, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde, monitora constantemente as causas de acidentes fatais e com vítimas gravemente feridas. “A análise dos dados indica que o comportamento inadequado de motoristas e pedestres é elemento fundamental nas ocorrências de acidentes de trânsito, sobretudo nos atropelamentos”, ressalta.
“Atravessar fora da faixa ou em locais inapropriados, não observar o tráfego de veículos para transpor a via, o uso de aparelhos eletrônicos, como os celulares ou fones de ouvido, e atravessar quando o sinal está vermelho são importantes causas de ocorrências de atropelamentos na cidade”, afirma a subsecretária de Operações de Transporte e Trânsito.
“Outro ponto é o desrespeito à regulamentação de trânsito pelos condutores de veículos, especialmente ao trafegar com velocidade inadequada para a via, o avanço de semáforo, o descumprimento da parada obrigatória e a não observância da direção defensiva, que garante mais atenção e pode evitar acidentes de trânsito”, destaca Jussara Bellavinha.
Fique atento: onde o risco é maior?
A representante da Secretaria de Mobilidade Urbana informa que, predominantemente, os atropelamentos acontecem no hipercentro de Belo Horizonte, exatamente onde se concentra o maior movimento de veículos e pedestres. Os pontos de maior recorrência são a Avenida Afonso Pena, entre ruas dos Caetés e da Bahia, e os cruzamentos da Rua dos Caetés com Avenida dos Andradas e da Avenida Amazonas com Rua São Paulo e com Rua Curitiba. O perigoso Anel Rodoviário também registra grande número de acidentes do tipo.
“Além do hipercentro, a maioria dos atropelamentos ocorre nos principais corredores de tráfego, como nas avenidas Cristiano Machado, Antônio Carlos, Amazonas e outras. Entretanto, nos mapeamentos realizados, podemos verificar que eles acontecem de forma bastante pulverizada, em todo tipo de via, inclusive as de trânsito local”, informa a SMMUR.
Como a capital encara o problema?
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana informa que a BHTrans adota uma série de medidas de engenharia e fiscalização, como parte do plano de enfrentamento e redução dos atropelamentos e de outros acidentes no trânsito. “Na educação de trânsito, a BHTrans tem um forte trabalho com alunos de todas as faixas etárias, do ensino infantil ao ensino médio, com o intuito de formar cidadãos mais conscientes sobre o comportamento adequado no trânsito”, informa a pasta, lembrando que, por meio dos Centros de Referência de Assistência Social, é realizado também um trabalho de conscientização de idosos, “já que estes são as principais vítimas dos atropelamentos”.
Na parte de engenharia, segundo a SMMUR, medidas incluem a instalação de semáforos com focos de pedestres e a programação de semáforos com ciclos menores para os carros e maior tempo de travessia, destinados a pessoas com mobilidade reduzida. A secretaria lista ainda outras intervenções nas vias, como a implantação de radares, a maioria com limite permitido de 30 km/h, incluindo equipamentos com tecnologia de registro de avanço de sinal.
O desafio do celular
Jussara Bellavinha ressalta que o uso de celular tem elevado o risco de atropelamentos. “Pedestres e motoristas podem não ter a atenção necessária para o trânsito ao fazer uma ligação, enviar mensagens ou checar redes sociais. Outro item que pode tirar a atenção é o uso de fones de ouvido”, assinala.
A subsecretária de Operações de Transporte e Trânsito lembra ainda que a velocidade dos veículos está diretamente relacionada tanto à probabilidade de ocorrência de um acidente quanto à gravidade das suas consequências. Cada aumento de 1% na velocidade média produz, por exemplo, um aumento de 4% no risco de acidente fatal e um aumento de 3% no risco de acidente grave.
O risco de morte para pedestres atingidos frontalmente por automóveis também aumenta consideravelmente (4,5 vezes de 50 km/h para 65 km/h), de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Citando dados atribuídos à Organização das Nações Unidas (ONU), Jussara Bellavinha exemplifica afirmando que, na velocidade de 60 km/h, apenas uma em cada 10 vítimas desse tipo de desastre vai se salvar.
“Por isso, respeitar os limites de velocidade, obedecer a legislação estabelecida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e redobrar a atenção no tráfego de veículos e de pedestres são ações fundamentais para reduzir acidentes e salvar vidas”, destaca.
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Ameaça nas BRs
Além das ocorrências nas cidades, atropelamentos são uma tragédia também no cotidiano das estradas brasileiras. Em 2024, somente nas rodovias federais, 4.135 pessoas foram atropeladas, das quais 968 morreram. Os dados são do Anuário 2024, divulgado no primeiro semestre deste ano pela Polícia Rodoviária Federal. De acordo com o levantamento, entre os feridos, 1.401 tiveram lesões graves, aumentando os custos com internações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
