Viroses respiratórias continuam em alta, mas Minas dá sinais de alívio
Boletim da Fiocruz aponta início de queda ou interrupção no avanço da Síndrome Respiratória Aguda Grave em todo estado. No entanto, internações ainda preocupam
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Siga noMinas Gerais começa a registrar os primeiros sinais de trégua na crise provocada pelas doenças respiratórias. É o que aponta o mais recente boletim do InfoGripe, plataforma de monitoramento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado nessa quinta-feira (3/7), que mostra uma trajetória de interrupção do crescimento ou mesmo queda nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no estado. Apesar disso, o número de internações segue alto.
Depois de semanas figurando entre os estados com tendência de crescimento no longo prazo, Minas saiu da lista de alerta para aumento contínuo de casos, ainda que a incidência geral da SRAG, condição clínica provocada por vírus como o influenza A e o vírus sincicial respiratório (VSR), siga em níveis moderados a muito altos. As hospitalizações, no entanto, permanecem em níveis de alerta, o que requer atenção, aponta o boletim.
Belo Horizonte é uma das 19 capitais do país que ainda apresentam níveis de alerta, risco ou alto risco nas últimas duas semanas, mas, assim como o estado, não mostra sinal de crescimento sustentado dos casos de síndrome respiratória.
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O dado reforça a necessidade de atenção, mas também sinaliza uma mudança de direção na curva epidêmica. A análise da Fiocruz, referente à Semana Epidemiológica 26 (de 22 a 28 de junho), revela que Minas Gerais é uma exceção no Centro-Sul do país, onde a maioria dos estados começa a experimentar uma queda consolidada nos casos de influenza A entre jovens, adultos e idosos. Por aqui, segundo o InfoGripe, o número de ocorrências nessas faixas etárias ainda continua em crescimento, embora em ritmo menos acelerado.
Já entre as crianças pequenas, o estado acompanha a tendência nacional de estabilização ou queda nos casos causados pelo VSR, principal responsável pelas internações infantis neste período do ano. Ainda assim, a incidência entre os menores permanece alta, sobretudo entre bebês com até 1 ano de idade, grupo que concentra quadros mais graves de bronquiolite, infecção viral que muitas vezes demanda suporte de oxigênio e monitoramento intensivo.
A pesquisadora Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e uma das responsáveis pelo InfoGripe, ressalta que, mesmo com sinais de estabilização, o momento ainda exige resposta coordenada das autoridades sanitárias e atenção da população.
“Ainda não é hora de relaxar as medidas de controle e proteção, já que a incidência das hospitalizações permanece em um nível bastante elevado”, afirma. Ao contrário de Minas, seis estados do país (Alagoas, Mato Grosso, Paraná, Pará, Rondônia e Roraima) ainda apresentam tendência de crescimento de casos no longo prazo.
Internações ainda preocupam
Apesar dos sinais positivos, a realidade dentro dos hospitais mostra que a crise ainda está longe de ser superada. Levantamento feito pelo Estado de Minas com base nos dados do Painel de Doenças Respiratórias da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) mostra que o estado registrou mais de 54 mil internações por SRAG de janeiro até 3 de julho deste ano.
O volume representa um impacto expressivo no sistema de saúde, que chegou a decretar situação de emergência em saúde pública em 2 de maio por causa da escalada de casos.
Somente na última quinzena de junho, 6.145 pessoas foram hospitalizadas com quadros de SRAG em Minas, número 7,3% menor do que nas duas semanas anteriores, quando houve 6.630 internações. Entre maio e junho, o total de internações caiu discretamente de 12.824 para 12.775. A redução, embora ainda tímida, indica que a pior fase da epidemia pode ter ficado para trás.
Bebês e idosos estão no centro da crise respiratória que atinge Minas Gerais. De janeiro até 3 de julho, esses dois grupos somaram mais de 36,5 mil internações por SRAG no estado, segundo dados do painel da SES-MG.
O volume representa quase 70% de todas as hospitalizações registradas no período. Entre os bebês com até 1 ano de idade, foram 6.566 internações em Minas entre janeiro e 3 de julho. Boa parte desses casos envolveu quadros graves de bronquiolite, infecção respiratória comum em recém-nascidos que, em muitos casos, exige suporte de oxigênio e acompanhamento intensivo.
Do outro lado da linha etária, os idosos a partir dos 60 anos somaram nada menos que 30.027 internações por doenças respiratórias em Minas até os primeiros dias deste mês. Isso representa mais da metade de todos os casos registrados no estado. Outras faixas etárias, como crianças de 1 a 4 anos e pessoas entre 40 e 59 anos, também apresentam crescimento, mas em proporções menores.
Influenza A lidera registros de mortes
No levantamento feito nas quatro semanas epidemiológicas mais recentes, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) aparece em 47,7% das amostras positivas. Em seguida, vieram a influenza, com 33,4%, seguido pelo rinovírus (20,6%). Os dados apontam para uma prevalência significativa da influenza A entre os casos mais graves, especialmente nos idosos, e do VSR entre as crianças.
Entre janeiro e o início de julho, 1.259 pessoas morreram no estado por complicações respiratórias. A principal causa por trás dessa letalidade é a circulação intensa do vírus influenza A, apontado como responsável por 74,1% dos óbitos por SRAG no país neste ano, segundo a Fiocruz. O VSR aparece como agente de 14,1% das mortes e o rinovírus por 10,2%.
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A pesquisadora da Fiocruz chama atenção para a circulação simultânea desses vírus no país e ainda reforça a importância da vacinação contra a gripe, sobretudo entre os grupos prioritários. “O SUS disponibiliza a vacina de graça para os grupos prioritários, então é fundamental que todos estejam vacinados. Mesmo que você já tenha tido gripe este ano, é importante se vacinar, já que a vacina protege contra os três principais tipos de vírus da influenza que infectam humaos”, alerta Tatiana.