Bloco alerta e pede mais áreas verdes nos espaços urbanos de BH
Foliões vestiram roupas temáticas e enfeitaram-se com manjericão para reforçar a mensagem do bloco nas ruas do Bairro Betânia
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Siga noO Bloco do Manjericão tomou as ruas do Bairro Betânia, na região Oeste de Belo Horizonte, nesta quarta-feira de Cinzas (5/3), reunindo foliões em torno da discussão sobre a legalização da maconha e a preservação ambiental. Em sua 14ª edição, o cortejo começou na Praça Luiz Rodrigues Pereira e seguiu em direção ao Parque Jacques Cousteau, onde a festa continuou ao som das marchinhas, cercadas pela mata.
Criado em 2011, o bloco surgiu no contexto da retomada do carnaval de rua em BH e se consolidou como um dos principais cortejos do último dia de festa. Além da defesa da legalização da maconha, a ocupação dos espaços verdes da cidade se tornou parte da identidade do grupo.
"A gente também quer mostrar os parques de BH para a própria cidade. Precisamos de mais verde nos espaços urbanos", afirmou Janaína Macruz, produtora cultural e co-organizadora do bloco.
Vestidos com roupas estampadas com folhas de maconha e enfeitados com manjericões nas orelhas e nos chapéus, os foliões reforçaram a mensagem do bloco ao longo do trajeto.
Carnaval e política nas ruas
Ao longo do cortejo, manifestações políticas se fizeram presentes. Foliões entoaram gritos de "Sem Anistia", em referência ao 8 de janeiro de 2023, enquanto a bateria do bloco, formada por cerca de 70 integrantes, embalava a multidão.
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Entre os participantes, a professora de artes cênicas Júlia Guimarães destacou a importância do carnaval como espaço de manifestação. "Vi esse carnaval nascer. Tenho muito orgulho do que ele se tornou. O carnaval de BH é um acontecimento para a cidade, mudou completamente sua dinâmica. Esse movimento de blocos é político, e eu acho isso fundamental. Não é só festa, tem um significado", afirmou Júlia, que já foi jornalista e cobriu carnavais quando a festa de rua ainda não tinha força na cidade.
Para Cristina Fornaciari, professora universitária e ex-jurada do carnaval de São Paulo, a festa de rua se destaca pela diversidade. "Hoje eu opto pelo carnaval de rua porque é muito mais democrático. Tem para todos os gostos, tem blocos para tudo, e é maravilhoso", disse.
Legalização em debate
A defesa da legalização da maconha tem ganhado novos capítulos no país, principalmente após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que descriminalizou o porte da substância para uso pessoal. No bloco, o tema divide opiniões, mas segue como uma das principais bandeiras.
"Não acompanho essa pauta de perto, mas sou a favor da legalização. O STF tem dado passos importantes, e a tendência é essa, apesar dos desafios", comentou Júlia Guimarães. Já Sandra Moura, foliã assídua do Manjericão, defendeu um debate mais amplo. "O Congresso ainda tenta minimizar essa discussão, mas a demonização da maconha não corresponde à realidade. Enquanto isso, outras drogas, como o álcool, seguem aceitas sem o mesmo peso".
Uso medicinal e regulamentação
Enquanto a legalização para uso recreativo segue em debate, o uso medicinal da cannabis já tem eficácia comprovada para o tratamento de epilepsia e dor crônica, segundo especialistas. Além disso, recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de derivados da cannabis na medicina veterinária, ampliando ainda mais as possibilidades terapêuticas da planta.
Em Minas Gerais, a Assembleia Legislativa também discute a regulamentação do cultivo e do uso medicinal da cannabis. O tema tem sido debatido em audiências públicas, com participação de pesquisadores, médicos e pacientes que já utilizam medicamentos à base da planta. Durante o cortejo do Manjericão, o avanço dessas discussões foi lembrado por foliões que veem no carnaval uma oportunidade de ampliar o alcance da pauta.
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O Bloco do Manjericão segue crescendo e, mesmo sem patrocínio, garantiu a edição de 2025 por meio de financiamento coletivo. Com a mobilização de foliões, a meta de R$ 4,2 mil foi atingida, assegurando mais um ano de debate nas ruas de Belo Horizonte.