Uma morte por febre amarela na divisa entre Minas Gerais e São Paulo acendeu um alerta para o Ministério da Saúde. Trata-se de um homem de 50 anos, residente em Águas de Lindóia (SP), sem registro de vacina contra febre amarela e que apresentou dois exames positivos para o vírus. O local provável de infecção segue em investigação, uma vez que o homem visitou a área de mata no município mineiro de Monte Sião, no Sul do estado, cerca de 15 dias antes do início dos sintomas.

 

O órgão emitiu, nesse domingo (28/4), um alerta para intensificação das ações de vigilância e imunização nas áreas com transmissão ativa do vírus da doença.

 

Além do registro em Minas, outros três casos foram confirmados no Brasil nos últimos seis meses, de acordo com o Ministério da Saúde. Desses, dois resultaram em mortes. As ações de vigilância têm como objetivo comunicar casos suspeitos com a maior agilidade possível, para que futuros surtos da doença sejam evitados, visto que a febre amarela tem alto índice de letalidade.

 

Febre amarela

 

No Brasil, o ciclo da doença atualmente é silvestre, com transmissão por meio dos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Os últimos casos de febre amarela urbana foram registrados no país em 1942, e todos os casos confirmados desde então decorrem do ciclo silvestre de transmissão.

 

 



 

A febre amarela é endêmica na Região Amazônica, mas, de tempos em tempos, o vírus emerge em áreas fora da na região extra-amazônica. O padrão temporal de ocorrência é sazonal, com a maior parte dos casos incidindo entre dezembro e maio. Surtos ocorrem quando o vírus encontra condições favoráveis para transmissão, como altas temperaturas, baixas coberturas vacinais e alta densidade de vetores e hospedeiros.

 

A partir de 2014, o vírus reemergiu na região Centro-Oeste, se espalhando nos anos posteriores para as demais regiões do país. Entre 2014 e 2023, foram registrados 2.304 casos de febre amarela em humanos, sendo que 790 culminaram em mortes.

 

 

Entre as recomendações do Ministério da Saúde estão o alerta para que equipes de vigilância e imunização intensifiquem as ações nas áreas afetadas, com ampliação para municípios vizinhos; a notificação do adoecimento ou morte de macacos; e a atenção a sintomas de febre leve e moderada em pessoas não vacinadas.

 

Vacinação

 

Quanto à vacinação, as recomendações são para que seja utilizada a estratégia da busca ativa de pessoas não vacinadas nas regiões de ocorrência. Segundo a Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Ethel Maciel, a vacinação, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), é de suma importância no combate à doença.

 

"A febre amarela é uma doença facilmente evitável com a vacina. E ela está disponível no SUS para todas as idades. As campanhas mentirosas antivacina não prejudicaram apenas a (a vacinação contra a Covid). A cobertura vacinal de febre amarela está abaixo do recomendado. Por isso a importância de toda a população estar com a vacinação em dia", informa Ethel.

 

 

O Ministério da Saúde emitiu uma nota informativa conjunta dos departamentos de Doenças Transmissíveis, de Emergências em Saúde Pública e do Programa Nacional de Imunizações.

 

Para auxiliar nas ações, na última sexta-feira (26/4), o Ministério da Saúde disponibilizou 150 mil doses extras da vacina de febre amarela para o estado de São Paulo. Também foi feita a recomendação para o livre acesso à vacina nas unidades de saúde, sem a necessidade de agendamento prévio.

 

Quem não deve se vacinar

 

  • Crianças menores de 9 meses de idade
  • Mulheres amamentando crianças menores de 6 meses de idade
  • Pessoas com alergia grave a ovo
  • Pessoas que vivem com HIV e têm contagem de células CD4 menor que 350
  • Pessoas em tratamento com quimioterapia/ radioterapia
  • Pessoas portadoras de doenças autoimunes
  • Pessoas submetidas a tratamento com imunossupressores (que diminuem a defesa do corpo)

 

Complicações da doença

 

Em casos graves, a pessoa infectada por febre amarela pode desenvolver alguns sintomas, como:

 

  • febre alta;
  • icterícia;
  • hemorragia;
  • eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos.

 

Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem febre amarela grave podem morrer. Assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas, é fundamental buscar ajuda médica imediata.

 

A reportagem do Estado de Minas procurou a Secretaria de Saúde de Monte Sião e a Secretaria estadual de Saúde de Minas Gerais, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.


O que diz a SES-MG 

 

Indagada pelo Estado de Minas, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou em nota que, desde a notificação em 12 de abril, está investigando o caso e realizou as seguintes ações:

 

- Reunião de alinhamento a respeito do caso com Ministério da Saúde e Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo;

- Disponibilização de informações e orientações aos profissionais de saúde e gestores, por meio de documentos técnicos e reuniões do Comitê de Monitoramento de Emergências (CME) conduzido pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs Minas);

- Realização de webnário conduzido pela SES-MG, Associação Mineira de Municípios (AMM) e Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems), em 29/4/24, em que foi discutida a situação das arboviroses e vírus respiratórios no estado;

- Ações de vigilância epidemiológica, entomológica e imunização intensificadas na região afetada de Monte Sião, principalmente nas localidades rurais, para ampliar a cobertura vacinal contra a febre amarela em pessoas ainda não imunizadas.

 

O município de Monte Sião, assim como o território da Unidade Regional de Saúde (URS) de Pouso Alegre, não possui registro recente de epizootias (enfermidade contagiosa que acomete os animais).


De acordo com dados do Painel de Vacinação do Calendário Nacional do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal da febre amarela em crianças menores de um ano de idade, no período de janeiro a março de 2024, é de 89,41%.


* Estagiárias sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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