Câmeras de segurança flagraram pai e suspeito disputando racha -  (crédito: Polícia Civil/Divulgação)

Câmeras de segurança flagraram pai e suspeito disputando racha

crédito: Polícia Civil/Divulgação

O pai da menina Melissa e o suspeito do assassinato fizeram um racha que se estendeu por mais de 25km da BR-381 momentos antes do crime. A Polícia Civil apresentou o resultado do inquérito nesta segunda-feira (8), que culminou no indiciamento do suspeito pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e porte ilegal de arma de fogo.

 

Segundo apontou a investigação, o pai da criança dirigia um Renault Oroch. Eles haviam saído de Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e chegaram a parar em restaurante na beira da estrada para almoçar. No local, o homem ingeriu bebida alcoólica.

 

 

As câmeras usadas na investigação começaram a flagrar a corrida entre os carros próximo de Betim. O suspeito dirigia um Fiat Uno. A ação se estendeu por mais de 25km da rodovia, com os dois motoristas se fechando. Em um determinado momento, o pai da Melissa empurrou o suspeito para a marginal da pista. O homem acelerou o carro, voltou para a pista principal e efetuou o disparo.

 

A Polícia suspeita que eles se encontraram na rodovia antes mesmo da BR-381. “Foi uma atitude de dois irresponsáveis. O pai da criança dirigindo de uma forma imprudente na rodovia, encontrou um indivíduo também imprudente e que estava armado. Eles almoçaram, o pai fez uso de bebida e seguiram para casa, eles são de Nova Lima. No percurso, já andando de maneira imprudente, ele encontrou o suspeito. Não houve uma discussão de trânsito, eram dois carros que se viram e começaram a disputar uma corrida”, disse o delegado Igor Almeida.

 

 

O suspeito dirigia um Fiat Uno

O suspeito dirigia um Fiat Uno

PCMG/Divulgação

 

 

O comportamento agressivo do pai no trânsito era comum, segundo disse o delegado. Durante o trajeto, a criança teria brincado dizendo “pode correr, a Melissa não tem medo de morrer”, mas foi repreendida pela avó.

 

“É como se estivessem fazendo um racha. Eles se cruzavam várias vezes, mas não deu pra comprovar o excesso de velocidade pelas imagens que tivemos. Mas estavam em velocidade muito maior que os outros da via. Não há dúvidas que um estava vendo a conduta do outro veículo. Em um certo momento eles quase colidiram”, contou o delegado.

 

 

O delegado também destacou as dificuldades para a investigação. Segundo ele, foram analisadas horas de filmagem de mais de 30 empresas nas margens da BR-381. Outras linhas de investigação foram descartadas durante o processo. “Houve várias linhas investigativas que começaram dia 21. No dia anterior ao fato, o autor se envolveu em uma ocorrência com a mãe da criança. Falava-se numa possível retaliação, mas foi uma linha descartada na primeira semana. Um veículo que não estava envolvido no crime foi citado no crime. Algumas pessoas foram ameaçadas por esse motivo”, explicou.

 

Prisão

 

Igor Bezerra de Lima, de 44 anos, foi preso no último sábado (6/4), dois meses após o crime. O inquérito foi concluído há cerca de um mês e o mandado de prisão expedido na quinta-feira (4/4). Houve uma tentativa de prisão feita no mesmo dia, sem sucesso, já que o indiciado não foi encontrado. “Ele é caminhoneiro, com horários aleatórios. Ele estava a caminho do Rio de Janeiro quando tentamos prender”, disse o delegado.

 

 

O homem chegou a ser ouvido uma vez durante as investigações. Na oportunidade, ele negou o crime. Novamente chamado para prestar depoimento, ele não compareceu. Pessoas próximas a ele, ouvidas durante as investigações disseram que Igor não deveria ter posse de arma, por ser “instável psicologicamente”.

 

“Ele foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil, duplamente qualificado, também por porte ilegal de arma. Por ser caminhoneiro saia armado sem poder sair. Avisamos os advogados dele, que acharam por bem apresentá-lo no último sábado. A responsabilidade passa para o MPMG”, concluiu Ítalo.

 

Relembre o caso

 

O caso foi registrado no dia 21 de janeiro deste ano, na BR-381, na rodovia Fernão Dias, próximo a Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.



Aos policiais, Maicon Junior dos Santos, o pai de Melissa, contou que estava próximo à fábrica da Fiat Automóveis quando foi fechado por um segundo veículo, um Fiat Vivace. Nele, estavam dois homens e duas mulheres. O motorista ainda teria emparelhado com o carro da família e feito diversas ultrapassagens.

 

 

Carro é flagrado passando pela rodovia

Carro é flagrado passando pela rodovia

PCMG/Divulgação

 

“O homem que dirigia, depois de várias fechadas, fazia gestos obscenos para mim”, contou Maicon. O veículo passou a perseguir a família, e, na altura do Bairro Amazonas, em Contagem, um dos homens sacou um revólver e atirou.

 

O tiro atingiu a parte traseira do carro. Melissa foi alvejada na cabeça. Ao avistar uma viatura da PM, o pai da vítima parou e pediu socorro. A criança chegou a ser resgatada e levada para o Hospital Metropolitano de Contagem, mas morreu pouco depois.



Antônio Nicomedes, o avô de Melissa, contou que a família voltava de um restaurante quando foi surpreendida pelo suspeito. “Eles saíram de casa para levar os meninos a um restaurante. Lá tem um parquinho para eles brincarem. E de lá, eles passaram em Ibirité, na casa do pai, e vieram embora. Coincidiu de encontrar esse marginal no caminho”, desabafou o avô de Melissa.



Na época do crime, Antônio externou o sentimento de revolta com o ocorrido. “Espero que a Justiça seja feita, apesar de não adiantar nada pela vida dela, mas por outras vidas”. No dia seguinte ao crime, o corpo de Melissa foi enterrado no Cemitério do Rosário, em Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

 

Menina alegre e ‘mãezona’


Melissa era uma menina doce, segundo familiares. Maria Letícia Alexandre Ribeiro, de 26 anos, mãe de Melissa, afirmou em entrevista ao Estado de Minas que a menina tinha uma característica marcante em seu comportamento. “Minha filha era muito carinhosa e a todos abraçava, beijava e falava que amava. Era assim comigo, com o pai, com o irmão e até com quem ela nem conhecia direito. Ela expressava tudo o que sentia”.

 

Polícia está perde de encontrar matador da pequena Melissa

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Redes sociais


Elaine Cristina, que foi professora de Melissa, afirmou que a garota sempre estava alegre e cuidava dos amigos. “Ela era amiga, levava todos os brinquedos que tinha em casa e distribuía para os colegas. As pessoas estão perdendo completamente o limite. Eu sempre falo: ‘gente, respira antes de sair’. Olha aqui, interrompeu uma vida e destruiu uma família”, desabafou ElaineCristina.